O relógio marcava 18:00 de quinta-feira, 03 de setembro. As ruas da Baixa de Lisboa estavam repletas de visitantes. O famoso ascensor da Glória, uma paragem quase obrigatória entre os turistas, encontrava-se com as suas cabinas estacionadas em ambas as estações, a n.º 1 no cimo da Calçada da Glória e a n.º 2 em baixo, junto à Praça dos Restauradores.Os passageiros subiam normalmente nos veículos. Corriam os procedimentos normais de coordenação entre os respetivos guarda-freios, executados tantas vezes por dia. Por volta das 18:03, as cabinas iniciaram a sua viagem.Foram poucos instantes, "quando não teriam percorrido mais de cerca de seis metros", que as cabinas perderam "subitamente a força de equilíbrio garantida pelo cabo de ligação que as une". A cabina de número dois recuou bruscamente, "sendo o seu movimento sustido cerca de 10 metros depois pela sua saída parcial além do final da via-férrea e enterramento do trambolho do lado inferior no final da vala do cabo".Enquanto isso, a cabina de número um, no cimo da Calçada da Glória, fazia a descida a aumentar a velocidade. De imediato, "o guarda-freio do veículo acionou o freio pneumático bem como o freio manual a fim de tentar suster o movimento". Estas ações, no entanto, "não tiveram efeito em suster ou reduzir a velocidade do veículo e a cabina continuou em aceleração pelo declive".Cerca de 170 metros após o início do percurso, exatamente no início da curva à direita que o alinhamento da calçada apresenta a parte final, o veículo descarrila. O elétrico começou a tombar para a esquerda no sentido da marcha. Houve uma sustão parcial pelo encaixe dos trambolhos nos perfis Z (os elementos metálicos em forma de "Z" instalados no pavimento da calçada, que delimitam a vala por onde passa o cabo subterrâneo de ligação entre as cabinas do ascensor).No entanto, as forças arrancaram estes elementos metálicos do pavimento e o veículo perdeu totalmente a direção. O elevador bateu lateralmente a parte superior da cabina na parede do edifício existente do lado esquerdo da calçada. Depois, colidiu frontalmente contra um poste de iluminação pública e outro de suporte da rede aérea elétrica do ascensor. Por fim, o descarrilamento terminou contra a esquina de um outro edifício.Esta cronologia de factos está descrita no relatório preliminar do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) sobre o acidente do elevador da Glória. O documento foi divulgado este sábado, 06 de setembro, três dias após a tragédia.Acompanhe todas as notícias do DN sobre o acidente..Menos de 50 segundosTudo aconteceu em menos de um minuto, mais precisamente em menos de 50 segundos, numa velocidade que chegou aos 60 km/h. O acidente causou a morte de 15 pessoas (número que entretanto depois subiu para 16) e deixou cinco feridos graves, além de 13 feridos leves - alguns deles não estavam dentro do veículo.Outra constatação do relatório, é que "neste momento da investigação não está ainda inequivocamente determinado qual era o número exacto de pessoas em cada veículo". Os guarda-freios controlam a capacidade de acordo com a lotação máxima permitida, que é de 42 pessoas, 22 sentadas e as restantes em pé, além do guarda-freios.O documento aponta que os freios pneumáticos e manuais não conseguiram travar a cabina 1 após a ruptura do cabo, "pois dependem do equilíbrio entre as cabinas". Quando o cabo partiu, o sistema de emergência cortou a energia conforme previsto, mas não foi suficiente para imobilizar o veículo.É confirmada a informação de que o plano de manutenção estava em dia, com uma inspeção visual realizada ainda na manhã do acidente. No entanto, a zona de ruptura do cabo "não era acessível a inspeção sem desmontagem" do veículo. Mais se sabe que o cabo rompido "estava dentro da vida útil", nomeadamente 337 dias usados dos 600 previstos. Próximos passosA investigação do GPIAAF vai concentrar-se agora nos seguintes pontos chave:― Mecanismo de desligamento entre o cabo e o trambolho, com análise da condição da fixação do cabo nos trambolhos e da sua execução;― Projeto inicial do ascensor, suas sucessivas alterações e pressupostos dos sistemas de segurança;― Verificação do funcionamento dos sistemas de freio, sua composição e eficácia;― Definição do tipo de cabo e sua fixação nos trambolhos, controlos de qualidade da execução e receção;― Procedimentos de manutenção dos componentes críticos para a segurança e sua execução e verificação;― Condições e exequibilidade de realização das operações de inspeção e manutenção;― Formação, experiência e proficiência dos técnicos envolvidos nas operações de manutenção;― Fiscalização da execução da prestação de serviços pela entidade contratante, incluindo meios e fre quência;― Critérios de seleção do prestador de serviços;― Formação, treino e proficiência do pessoal de condução para lidar com situações de emergência;― Aspetos de sobrevivência;― Enquadramento legal do ascensor da Glória e da sua supervisão;― Desenvolvimento das operações de socorro.amanda.lima@dn.pt.As omissões e desvios no desastre do elevador da Glória. Outro teste falhado da Autoridade de Proteção Civil?.Presidente da Carris colocou o lugar à disposição, mas Moedas travou demissão