A eleição autárquica em Oeiras vai marcar a despedida das corridas eleitorais de Isaltino Morais. “Sim, confirmo que é a minha última eleição. Serei reformado depois”, explicou ao DN (veja a entrevista na íntegra aqui) o político de 75 anos, que procura o décimo mandato à frente do concelho. Desde 1985 que o transmontano, natural de Mirandela, é presença pública associada ao concelho até quando não o governou. Dessa data até 2001 ganhou cinco eleições pelo PSD, quatro delas com mais de 40% dos votos. Só em 2005, recorde-se, foi aprovada a lei que impede um autarca de governar mais do que três mandatos consecutivos. Em 2002, interrompeu o mandato para ser ministro, no caso com a tutela Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente com José Manuel Durão Barroso como primeiro-ministro. A suspeição de possíveis contas bancárias na Suíça e depósitos de 1,1 milhões de euros sem declaração ao fisco levaram-no a suspender o mandato de ministro. Voltou a candidatar-se a Oeiras em 2005, embora Luís Marques Mendes lhe tenha retirado o apoio do PSD por suspeitas de corrupção passiva, fraude fiscal, branqueamento de capitais e abuso de poder. .Isaltino Morais ao DN: "Não quero ter mais votos, prefiro ter oposição na câmara do que na rua". Pelo Movimento Isaltino Oeiras Mais à Frente saiu vencedor, ainda assim, com 34,1%, renovando, em 2009, a vitória, com maior expressão: 41,5%. Em 2010, o Tribunal da Relação reduziu de sete para dois anos a pena de prisão por branqueamento de capitais e fraude fiscal, mas invalidou as condenações por corrupção passiva e abuso de poder; em 2011 o Supremo Tribunal ratificou a pena, tentou abrir um julgamento por corrupção, que não aconteceu já que os crimes haviam prescrito.Em abril de 2013, quando desempenhava o sétimo mandato como presidente, foi detido. Passou 427 dias na prisão na Carregueira, em Sintra. Sem poder apresentar-se a eleições por cumprir pena de prisão efetiva, o seu nome voltou, porém, ao boletim de voto: o Movimento Isaltino Oeiras Mais à Frente apoiou Paulo Vistas, que seria eleito. Até assim, o nome Isaltino foi utilizado para vencer uma eleição.Esse é o lastro de um político autárquico com pouco paralelo em popularidade em Portugal e que, em 2017, com o Movimento Isaltino: Inovar Oeiras de Volta, retomou o controlo do município. Ganhou em 2017 com 41,65% dos votos, alcançou a sua segunda maior vitória em 2021, com 50,86% dos votos. Vencendo em outubro, alcançará quase 35 anos como presidente de Oeiras.Os mandatos não têm sido isentos de polémicas. Que peso terá nos eleitores o gasto de 140 mil euros em almoços de trabalho em seis anos? Que opinião terão os oeirenses da aposta digital do presidente e o tour gastronómico pelo concelho? A oposição critica-lhe a propaganda e também a contratação da filha para serviços de psicologia clínica.Com oito vereadores, de 11 possíveis, Isaltino Morais viveu um mandato tranquilo e PS e PSD aceitaram pelouros. A grande novidade para 2025 é que, 20 anos depois, o independente, já desfiliado do partido, terá os sociais-democratas a apoiá-lo. Ainda que o símbolo do boletim de voto seja o da coligação com o nome de Isaltino, o PSD de Montenegro reaproximou-se do autarca que, em tempos, era persona non grata no partido. O PS, com o apoio do PAN, lança Ana Sofia Antunes para uma batalha exigente (leia a entrevista aqui). Promete oposição mais forte caso seja eleita vereadora e os socialistas sabem que passar de 10,52% dos votos para uma vitória será de enorme dificuldade. A advogada foi importante no desenho dos planos de acessibilidade pedonal na Câmara Municipal de Lisboa, foi também secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência de 2015 a 2024. .Ana Sofia Antunes ao DN: "São quase 40 anos de poder com vícios adquiridos e personalidade egocêntrica". Carla Castelo, jornalista especializada em temas ambientais, tem Livre, Bloco e Volt a seu lado no movimento Evoluir Oeiras e foi a principal voz crítica à governação de Isaltino Morais. Questionou contratos celebrados e sinalizou o risco de colapso da ribeira de Algés. A vereadora procurará manter o posto nesta eleição. A CDU candidata Sandra Lemos, de 51 anos, professora, dirigente sindical e membro da concelhia de Oeiras. O Chega tem a ambição de ter presença em cargos de vereação na área metropolitana de Lisboa. Pedro Frazão, vice-presidente, é um dos muitos deputados do partido candidatos para as Autárquicas’2025, sendo que desempenhava já funções de vereador em Santarém. Assinalou a intenção de se candidatar a Oeiras num dia em que se realizavam buscas policiais por suspeitas de corrupção. Foi esse o mote da candidatura, procurando capitalizar o resultado legislativo do partido, com mais de 13% dos votos. A Iniciativa Liberal demarca-se, novamente, de Isaltino, e recandidata Bruno Mourão Martins, que em 2021 angariou 3000 votos. Oeiras é hoje o concelho com a média salarial mais elevada, 15.862 euros de acordo com dados do INE em 2024, mas tantas dezenas de milhar de trabalhadores dos parques tecnológicos não vivem em Oeiras, não votam, como tal, no concelho. Os votos nas autárquicas têm relevado a figura do presidente, mais do que no partido escolhido para as Legislativas. É um caso peculiar nas Autárquicas. .Eleições autárquicas. Isaltino Morais diz que PSD se revê nas suas "políticas sociais-democratas" .Oeiras mantém-se como o município com valor de rendimentos mais elevado