No terceiro round do tema inicial do debate, Clara de Sousa começa por dizer que Marques Mendes dissolveu a empresa familiar e desvinculou-se da Abreu Advogados. E pergunta aos dois candidatos presidenciais que estão consigo no estúdio se estão dispostos a suspender os seus mandatos enquanto deputados."Estaria, se essa figura existisse", responde Cotrim de Figueiredo, esclarecendo que não existe a figura de suspensão de mandato no Parlamento Europeu. Mas garante que, caso fosse possível, "fá-lo-ia, de certeza", por uma "questão de disponibilidade e de compromisso", pois quer ser Presidente da República.Por seu lado, André Ventura revela que já pediu a suspensão de mandato, esperando a tramitação na Comissão Parlamentar de Transparência, "face às regras que existem". Assim sendo, durante a campanha eleitoral não será candidato à Presidência da República e deputado em simultâneo. "Como sinto que vou à segunda volta das eleições, ainda vai ser um período longo", remata..Também desafiado por Clara de Sousa a dizer quando revelará os clientes para quem trabalhou, João Cotrim de Figueiredo diz que já o fez antes de entrar em campanha. "Publiquei um livro, há um mês, que tem toda a minha vida profissional até entrar na política", diz, acrescentando que, depois disso, entregou várias vezes declarações de rendimentos e de património. "É consultável e público. Nada a esconder", reforça.Cotrim de Figueiredo nega ter dito que a atividade de Marques Mendes na advocacia permitisse afirmar com certezas que se trata de uma pessoa séria, como teria alegadamente dito numa entrevista. "Certamente que o Expresso divulgará as gravações da entrevistas, mas o que me perguntaram é se podia dizer alguma coisa agradável acerca de António José Seguro. E eu disse que era um homem sério. E perguntaram se podia dizer o mesmo sobre Marques Mendes, ao que disse que ignoro o seu passado profissional. Não podia dizer por ignorância, e não por suspeitas", argumenta o eurodeputado da Iniciativa Liberal com a moderadora, que ao longo dos últimos anos partilhou estúdio com Marques Mendes nos seus comentários televisivos.Clara de Sousa refere que Cotrim de Figueiredo tem como mandatário o não nomeado José Miguel Júdice, chamando-lhe "um dos grandes advogados deste país na área dos negócios", pelo que isso "poderá parecer contraditório" com as reservas do eurodeputado da Iniciatva Liberal quanto à atividade de Mendes. Cotrim de Figueiredo diz que nunca pediu a divulgação de clientes em processos, mas que "quando a atividade é de consultoria gostaria de saber quais são"."Eu não exijo a divulgação dos nomes. Mas do ponto de vista do interesse do candidato Marques Mendes, e do esclarecimento dos eleitores, era bom que o fizesse", continua Cotrim de Figueiredo. Nesse momento, André Ventura levanta "uma questão relevante", dizendo que o problema não tem só a ver com "ligações empresariais que Marques Mendes pode ou não querer explicar". Para o líder do Chega, está em causa sobretudo a notícia de que o candidato presidencial apoiado pelo PSD e pelo CDS "recusa explicar como é que aumentou o património em centenas de milhar de euros".Para Cotrim de Figueiredo, há que explicar como é possível acumular 700 mil euros no espaço de dois anos "em trabalho que não é jurídico", como a revista Sábado revelou ter acontecido com Marques Mendes e a sociedade Abreu Advogados.André Ventura interrompe para dizer que, na sua candidatura, "estamos completamente à vontade" quanto a apoiantes que poderão ter feito contratos com entidades públicas, como foi referido pelo ex-ministro social-democrata Miguel Poiares Maduro, membro da comissão política da candidatura de Marques Mendes. .O debate arranca com Clara de Sousa a perguntar a André Ventura se, tal como Marques Mendes fez nesta sexta-feira, estará disponível para divulgar quem eram os seus clientes. "Antes de mais, eu não era dono de nenhuma sociedade. Era um colaborador, como a Clara era colaboradora da SIC", responde o líder do Chega, acrescentando que entrega "desde há muitos anos" declarações de transparência, enquanto deputado e conselheiro de Estado, mostrando a evolução do seu património.Posto isto, Ventura recua ao seu debate com Marques Mendes, dizendo ter sido quem desafiou o antigo presidente do PSD a esclarecer as suas ligações a Angola, defendendo que o "deixavam condicionado" a não reconhecer que as declarações do presidente do país, João Lourenço, eram "uma humilhação para Portugal".André Ventura recorda que foi comentador de um canal de televisão, sem nomear a CMTV, e que fez consultoria e deu aulas em duas universidades. "É claríssimo isso, e é positivo. Só tenho uma conta bancária, o património está lá todo, não tenho aplicações financeiras", acrescenta, repetindo a Clara de Sousa que não tem "nada a declarar". "De quem se candidata a um cargo público tem de se saber as relações que teve, com quem teve, o património que tem, e de onde vem, porque alguns chegam a Lisboa e ficam logo ricos", continua Ventura, para quem Marques Mendes "disse hoje aquilo que queria dizer". Mas, aos seus olhos, o também conselheiro de Estado "é o candidato mais condicionado aos piores interesses e negócios que o sistema tem" e é também "o candidato do sistema por estar ligado ao Governo"..André Ventura e João Cotrim de Figueiredo, que se encontram na SIC na mesma sexta-feira em que uma sondagem da Intercampus coloca o seu eventual reencontro na segunda volta das presidenciais como possível - ainda que não provável, pois André Ventura tem 18,7% de intenções de voto, Marques Mendes segue com 16,9% e Cotrim de Figueiredo com 13,6%, existindo uma margem de erro de quatro pontos percentuais -, já foram vizinhos de corredor.Aconteceu na legislatura decorrente das eleições legislativas de 2019, quando Ventura e Cotrim de Figueiredo se tornaram os primeiros deputados do Chega e da Iniciativa Liberal. Tinham os seus gabinetes lado a lado, num corredor do edifício novo da Assembleia da República, mas depressa passaram para o edifício antigo, à medida que os seus grupos parlamentares se multiplicaram, mas com vantagem para o Chega, que elegeu 12 deputados em 2022, 50 em 2024 e 60 em 2025, enquanto a Iniciativa Liberal passou para oito mandatos, que manteve em 2024, já sem Rui Rocha, subindo para nove este ano.