Presidenciais 2026: Marques Mendes muito presente no arranque do debate entre Ventura e Cotrim de Figueiredo

Líder do Chega e antigo presidente da Iniciativa Liberal debatem na SIC no dia em que uma sondagem mostra ser possível (mas não provável) que se encontrem na segunda volta das eleições presidenciais.
Presidenciais 2026: Marques Mendes muito presente no arranque do debate entre Ventura e Cotrim de Figueiredo

Ventura diz que já pediu suspensão de mandato e Cotrim explica que não o pode fazer

No terceiro round do tema inicial do debate, Clara de Sousa começa por dizer que Marques Mendes dissolveu a empresa familiar e desvinculou-se da Abreu Advogados. E pergunta aos dois candidatos presidenciais que estão consigo no estúdio se estão dispostos a suspender os seus mandatos enquanto deputados.

"Estaria, se essa figura existisse", responde Cotrim de Figueiredo, esclarecendo que não existe a figura de suspensão de mandato no Parlamento Europeu. Mas garante que, caso fosse possível, "fá-lo-ia, de certeza", por uma "questão de disponibilidade e de compromisso", pois quer ser Presidente da República.

Por seu lado, André Ventura revela que já pediu a suspensão de mandato, esperando a tramitação na Comissão Parlamentar de Transparência, "face às regras que existem". Assim sendo, durante a campanha eleitoral não será candidato à Presidência da República e deputado em simultâneo. "Como sinto que vou à segunda volta das eleições, ainda vai ser um período longo", remata.

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Também desafiado por Clara de Sousa a dizer quando revelará os clientes para quem trabalhou, João Cotrim de Figueiredo diz que já o fez antes de entrar em campanha. "Publiquei um livro, há um mês, que tem toda a minha vida profissional até entrar na política", diz, acrescentando que, depois disso, entregou várias vezes declarações de rendimentos e de património. "É consultável e público. Nada a esconder", reforça.

Cotrim de Figueiredo nega ter dito que a atividade de Marques Mendes na advocacia permitisse afirmar com certezas que se trata de uma pessoa séria, como teria alegadamente dito numa entrevista. "Certamente que o Expresso divulgará as gravações da entrevistas, mas o que me perguntaram é se podia dizer alguma coisa agradável acerca de António José Seguro. E eu disse que era um homem sério. E perguntaram se podia dizer o mesmo sobre Marques Mendes, ao que disse que ignoro o seu passado profissional. Não podia dizer por ignorância, e não por suspeitas", argumenta o eurodeputado da Iniciativa Liberal com a moderadora, que ao longo dos últimos anos partilhou estúdio com Marques Mendes nos seus comentários televisivos.

Clara de Sousa refere que Cotrim de Figueiredo tem como mandatário o não nomeado José Miguel Júdice, chamando-lhe "um dos grandes advogados deste país na área dos negócios", pelo que isso "poderá parecer contraditório" com as reservas do eurodeputado da Iniciatva Liberal quanto à atividade de Mendes. Cotrim de Figueiredo diz que nunca pediu a divulgação de clientes em processos, mas que "quando a atividade é de consultoria gostaria de saber quais são".

"Eu não exijo a divulgação dos nomes. Mas do ponto de vista do interesse do candidato Marques Mendes, e do esclarecimento dos eleitores, era bom que o fizesse", continua Cotrim de Figueiredo.

Nesse momento, André Ventura levanta "uma questão relevante", dizendo que o problema não tem só a ver com "ligações empresariais que Marques Mendes pode ou não querer explicar". Para o líder do Chega, está em causa sobretudo a notícia de que o candidato presidencial apoiado pelo PSD e pelo CDS "recusa explicar como é que aumentou o património em centenas de milhar de euros".

Para Cotrim de Figueiredo, há que explicar como é possível acumular 700 mil euros no espaço de dois anos "em trabalho que não é jurídico", como a revista Sábado revelou ter acontecido com Marques Mendes e a sociedade Abreu Advogados.

André Ventura interrompe para dizer que, na sua candidatura, "estamos completamente à vontade" quanto a apoiantes que poderão ter feito contratos com entidades públicas, como foi referido pelo ex-ministro social-democrata Miguel Poiares Maduro, membro da comissão política da candidatura de Marques Mendes.

Ventura diz que não tem "nada a declarar" sobre rendimentos

O debate arranca com Clara de Sousa a perguntar a André Ventura se, tal como Marques Mendes fez nesta sexta-feira, estará disponível para divulgar quem eram os seus clientes. "Antes de mais, eu não era dono de nenhuma sociedade. Era um colaborador, como a Clara era colaboradora da SIC", responde o líder do Chega, acrescentando que entrega "desde há muitos anos" declarações de transparência, enquanto deputado e conselheiro de Estado, mostrando a evolução do seu património.

Posto isto, Ventura recua ao seu debate com Marques Mendes, dizendo ter sido quem desafiou o antigo presidente do PSD a esclarecer as suas ligações a Angola, defendendo que o "deixavam condicionado" a não reconhecer que as declarações do presidente do país, João Lourenço, eram "uma humilhação para Portugal".

André Ventura recorda que foi comentador de um canal de televisão, sem nomear a CMTV, e que fez consultoria e deu aulas em duas universidades. "É claríssimo isso, e é positivo. Só tenho uma conta bancária, o património está lá todo, não tenho aplicações financeiras", acrescenta, repetindo a Clara de Sousa que não tem "nada a declarar".

"De quem se candidata a um cargo público tem de se saber as relações que teve, com quem teve, o património que tem, e de onde vem, porque alguns chegam a Lisboa e ficam logo ricos", continua Ventura, para quem Marques Mendes "disse hoje aquilo que queria dizer". Mas, aos seus olhos, o também conselheiro de Estado "é o candidato mais condicionado aos piores interesses e negócios que o sistema tem" e é também "o candidato do sistema por estar ligado ao Governo".

De colegas de corredor a rivais nas presidenciais

André Ventura e João Cotrim de Figueiredo, que se encontram na SIC na mesma sexta-feira em que uma sondagem da Intercampus coloca o seu eventual reencontro na segunda volta das presidenciais como possível - ainda que não provável, pois André Ventura tem 18,7% de intenções de voto, Marques Mendes segue com 16,9% e Cotrim de Figueiredo com 13,6%, existindo uma margem de erro de quatro pontos percentuais -, já foram vizinhos de corredor.

Aconteceu na legislatura decorrente das eleições legislativas de 2019, quando Ventura e Cotrim de Figueiredo se tornaram os primeiros deputados do Chega e da Iniciativa Liberal. Tinham os seus gabinetes lado a lado, num corredor do edifício novo da Assembleia da República, mas depressa passaram para o edifício antigo, à medida que os seus grupos parlamentares se multiplicaram, mas com vantagem para o Chega, que elegeu 12 deputados em 2022, 50 em 2024 e 60 em 2025, enquanto a Iniciativa Liberal passou para oito mandatos, que manteve em 2024, já sem Rui Rocha, subindo para nove este ano.

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