Política
22 janeiro 2021 às 21h03

Presidenciais 2021. Sete candidatos, sete momentos da campanha

Termina esta sexta-feira a campanha eleitoral às presidenciais, que se realizam no próximo domingo. Eis sete momentos dos candidatos presidenciais

A notícia caiu como uma bomba, já noite adentro de segunda-feira, 11 de janeiro: o Presidente da República tinha testado positivo à covid-19. Os votos de uma boa recuperação chegaram de todo o lado, Marcelo cancelou toda a agenda e fez um segundo teste. Um dia depois, o novo teste contraria os resultados de segunda-feira. Marcelo mantém-se em isolamento, faz uma ronda de audições com os partidos pelo telefone enquanto aguarda o resultado de um terceiro teste. Deu negativo. Da pele de Presidente da República para a de candidato presidencial - e com um debate entre todos os candidatos marcado para essa noite, a 12 de janeiro - é um muito irritado Marcelo que surge frente às câmaras, a chegar a casa, em Cascais, para não fazer o debate a partir do Palácio de Belém.

"Sinto-me muito irritado porque não me dão por escrito uma posição sobre se eu podia ir ao debate ou não. Portanto, não tendo uma posição, esperei, esperei. A primeira posição é que eu poderia ir, a segunda é que não, verbalmente, estou à espera de uma reunião e na dúvida vim para casa para fazer de casa, não ia fazer de Belém. O debate não é com o Presidente da República é com o candidato", protestava Marcelo, notoriamente incomodado com as posições contraditórias das autoridades de saúde.

Todo este episódio acabaria por resultar numa das imagens da campanha, com Marcelo a entrar por videoconferência no debate - no momento em que foi mais atacado por todos os adversários na corrida presidencial. Recandidato ao cargo de chefe de Estado, Marcelo fez pouca campanha de rua. Esteve para não fazer nenhuma - foi o próprio que o disse - mas, acusado de desvalorizar as eleições (uma crítica recorrente de Ana Gomes) lá saiu para a rua na segunda semana.

Ao longo da campanha, Ana Gomes, militante socialista que avançou para a corrida presidencial sem o apoio do PS, foi vendo dirigentes socialistas alinharem-se no apoio a Marcelo Rebelo de Sousa. Na última quarta-feira foram mais 22 - um deles o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina - e a candidata presidencial carregou nas críticas, acusando o recandidato a Belém e os respetivos apoiantes socialistas de pertencerem ao "centrão dos interesses" que "tem sido bastante nefasto para o país".

"Votar no candidato da direita não é digno do partido de Mário Soares", atirou Ana Gomes, que não é conhecida por críticas brandas. Hoje, no dia de encerramento da campanha, o PS que "não vota na direita" - ou, mais precisamente, a figura mais destacada desse PS - juntou-se à candidata presidencial, numa iniciativa on-line. "Ana, obrigado por não deixares os socialistas sozinhos nesta campanha", afirmou Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas e da Habitação, um pré anunciado candidato à sucessão de António Costa. Ontem, Ana Gomes já tinha dito que encorajará Pedro Nuno Santos a avançar nessa corrida interna - e estas presidenciais podem bem ser uma amostra dos dois lados que vão disputar essa sucessão.

Era para ser um insulto a Marisa Matias, foi visto como um insulto a todas as mulheres e acabou a criar uma onda de solidariedade com a deputada bloquista que atravessou cores políticas e fronteiras. André Ventura referiu-se à eurodeputada como uma candidata que "não está muito bem em termos de imagem", "sempre com os lábios muito vermelhos, como se fosse uma coisa de brincar". Num ápice, multiplicaram -se no Twitter as imagens de lábios pintados de vermelho, com a hashtag #VermelhoemBelém a tornar-se uma das mais populares na rede social. Mulheres e homens, dirigentes e militantes do Bloco de Esquerda, mas também declarados apoiantes de outras candidaturas associaram-se ao protesto. Foi, aliás, o caso de Ana Gomes, que publicou um pequeno vídeo no Twitter a por bâton.

A candidatura de Marisa Matias acabou por ganhar protagonismo na sequência deste episódio. "O insulto que esse senhor fez às mulheres não diz nada sobre as mulheres mas diz tudo sobre esse senhor", foi como a eurodeputada do Bloco de Esquerda respondeu depois.

Pode bem ter sido a palavra mais pronunciada por João Ferreira nesta campanha presidencial - Constituição. Dá um programa político: "Nenhuma candidatura assumiu a Constituição da República Portuguesa como centro do programa e como bandeira da candidatura," (10 de Janeiro); "Defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição não pode ser encarado como uma mera formalidade" (11 de janeiro); "Fazer cumprir o Portugal que está inscrito nas páginas da constituição" (12 de Janeiro); "O destinatário deste ódio e destes insultos está aqui: é a Constituição da República Portuguesa" (15 de janeiro); "Aquele que exerceu as funções de Presidente da República utilizou os seus poderes não para defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição, como jurou fazer, mas pelo contrário, usou esses poderes para, ao arrepio da Constituição, deixar os jovens numa vulnerabilidade especial" (16 de janeiro); "Ao jovem que luta por proteção no emprego podemos dizer-lhe "a Lei Fundamental está do teu lado'" (21 de janeiro); "Conhecer a Constituição é a melhor vacina contra aqueles que a querem subverter e com ela subverter o regime democrático" (22 de janeiro).

Em vésperas do início do período oficial de campanha, Marine Le Pen, líder da extrema-direita francesa, veio a Portugal apoiar o seu parente ideológico português, na corrida às eleições presidenciais. Numa conferência de imprensa conjunta, em Lisboa, André Ventura defendeu que é "muito injusto" que o Rassemblement National (a antiga Frente Nacional) e o Chega sejam considerados partidos de extrema-direita. Depois, criticaram a política de imigração e de asilo europeia, defenderam o combate ao islamismo, uma "ideologia totalitária", criticaram a "subsidiodependência" e defenderam a matriz cultural cristã da Europa. Pelo meio de uma mútua troca de elogios, Le Pen referiu-se ao candidato presidencial como "um sinal do céu".

Matteo Salvini, presidente da Liga do Norte, partido da extrema-direita italiana, também esteve anunciado para a campanha de André Ventura, mas acabou por não vir a Portugal devido a "questões de política interna". Enviou um vídeo de apoio a Ventura.

Saído do anonimato para protagonizar a candidatura da Iniciativa Liberal, Tiago Mayan Gonçalves ganhou fôlego nos debates, ainda antes do início da campanha oficial, e num em particular - o frente-a-frente com André Ventura, em que foi dado como vencedor pela generalidade dos comentadores. Mayan foi para a discussão disposto a traçar fronteiras à direita, abriu logo a chamar "xenófobo, racista e troca-tintas" ao adversário, demarcando-se do radicalismo do candidato e deputado do Chega. E garantiu, afastando-se também da posição assumida pelo PSD, que a IL nunca viabilizará um Governo nacional com o apoio do Chega.

Mayan Gonçalves viria, aliás, a acentuar esta demarcação por várias vezes ao longo da campanha, como foi o caso deste cartaz - uma provocação em formato outdoor, uma das imagens de marca da Iniciativa Liberal.

Fez campanha durante cinco dias. Depois, com o Governo a decretar o confinamento dos portugueses, Vitorino Silva, também conhecido como Tino de Rans e autointitulado como o candidato "mais povo", recolheu a casa e foi a partir de lá que fez campanha. Saiu hoje, para o ato de encerramento - um passeio 'higiénico' na sua terra-natal, Rans, no concelho de Penafiel.

"Estou muito orgulhoso pela opção que tomei de ir para casa, como foram os portugueses. Pela internet, eu percebi que posso chegar a milhões que de outra forma não conseguia", disse o candidato a fechar a campanha. E pediu, "humildemente", para domingo, mais um voto que nas presidenciais de 2016. Há cinco anos Vitorino Silva fechou a noite eleitoral com 152.094 votos.