Um debate com todos e todos contra Marcelo
No debate das eleições presidenciais com os sete candidatos, Marcelo Rebelo de Sousa participou por videoconferência, a partir da sua casa.
O único debate televisivo que juntou todos os candidatos à Presidência da República, transmitido pela RTP, a partir do Pátio da Galé, no Terreiro do Paço, em Lisboa, foi marcado pela ausência de Marcelo Rebelo de Sousa, que participou por videoconferência a partir da sua casa, em Cascais, depois de ter realizado, na segunda-feira, um teste positivo à covid-19 e dois que tiveram resultado negativo à presença do SARS-CoV-2.
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André Ventura afirmou que ninguém gostaria de ter eleições em plena pandemia, falando no risco do aumento da abstenção. Acusa o Governo de não ter preparado as eleições presidenciais tendo em conta que se realiza em janeiro e a situação epidemiológica que o país atravessa. "A campanha resume-se ao debate televisivo", lamentou o candidato do Chega. Do "ponto de vista técnico" não é possível adiar, porque a constituição não o permite, alega.
Ana Gomes diz que não pediu o adiamento das eleições, mas pediu que fosse ponderado essa possibilidade, tendo em conta a duplicação dos casos de covid-19, prevista pelos peritos na reunião do Infarmed. "A maior parte dos emigrantes portugueses diz que não pode votar", acusou a ex-eurodeputada. "Não desejo o adiamento das eleições, disse que ele devia ser ponderado, disse que não me oporia a um adiamento".
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João Ferreira prefere não contribuir para alarmismos. "Seria útil concentrarmo-nos em criar condições para que se possa fazer um trabalho de informação e esclarecimento às populações". "Temos de ter o bom senso de combater alarmismos, mas devem ser adotadas condições necessárias para que as pessoas se sintam seguras em ir votar".
Entra Marcelo no debate, a partir da sua casa, em Cascais. "Eu hoje ao ouvir os partidos sobre a renovação do estado de emergência coloquei outra vez a questão da revisão constitucional e não houve nenhum partido que a defendesse e, portanto, a possibilidade de adiamento".
"Cheguei à conclusão de que não há condições" para que a Assembleia da Republica avançasse para uma revisão que permitisse um adiamento, afirmou o chefe de Estado e recandidato a Belém apelando à participação dos portugueses nestas eleições.
"É com o SNS que podemos contar", defendeu o candidato do PCP
Tiago Mayan, apoiado pela Iniciativa Liberal, afirma que as eleições vão acontecer com as condições que existem.
"É a nossa obrigação fazer a melhor campanha possível para esclarecer as pessoas", defende Marisa Matias, candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda.
Vitorino Silva defende que as eleições deviam ser adiadas e que previu os 10 mil casos diários de covid-19.
João Ferreira falou depois da lição que se pode retirar desta pandemia, de que "foi e é com o Serviço Nacional da Saúde (SNS) que podemos contar", criticando o desinvestimento no SNS, que, defende, tem como consequência o enriquecimento dos privados na área da saúde.
Ana Gomes defende que o Governo deve avançar para a requisição civil
"Há uma total incongruência de quem dizia há meses que o setor social e privado não era necessário e agora clama por ele", critica Tiago Mayan Gonçalves. O candidato fala na má gestão de recursos humanos no SNS. Defende assegurar o acesso universal aos portugueses à saúde dando oportunidade de escolha, privado, público ou social. Significa tabelar preços e quem beneficiará é o utente, defendeu. "Se todos os hospitais do serviço público" conseguirem ser em concorrência melhores que os privados, o SNS sai fortalecido, defendeu Mayan Gonçalves.
Ana Gomes defende a revisão da carreira dos profissionais de saúde e a aposta na saúde. "O professor Marcelo Rebelo de Sousa tem dado a mão e o palco aos privados". A parceria com o privado tem de ser a "um preço justo", disse. Defende que o Governo deve avançar para a requisição civil, o que"significa pagar um preço justo".
"SNS é a coluna vertebral da saúde em Portugal", sublinhou Marcelo
Marcelo responde às críticas. "Esta pandemia permitiu algumas lições, de que o SNS é a coluna vertebral da saúde em Portugal, é insubstituível", referiu dizendo que é preciso investir mais no SNS". E refere que há margem no Orçamento para que isso aconteça. Elogiou o setor social, mas é preciso existir uma melhor coordenação com o SNS. Afirmou que onde o serviço público não pode ocorrer sozinho, deve recorrer ao setor social e em "situações específicas" ao setor privado.
"Mas o centro é o SNS e ele tem uma missão a cumprir".
André Ventura defende que não deve haver preconceito ideológico nesta questão. "Temos de acabar com o preconceito ideológico contra o privado", disse ao mesmo tempo que criticou o tempo de espera excessivo para consultas no setor público.
"Temos um país que está a dar cartas na saúde", mencionou Marisa Matias referindo-se aos profissionais de saúde que estão a permitir "salvar vidas todos os dias com muitas horas extraordinárias que não são pagas". Destacou a importância do SNS na pandemia que estamos a viver, mas lamentou o desinvestimento no serviço público de saúde.
Sobre a Lei de bases da Saúde, a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda referiu que o Presidente da República exerceu "influência para manter os privados e as parcerias público-privadas". Destacou a importância de "olhar para o futuro" e isso passa por "pensar num SNS onde as pessoas tenham a resposta que estão a ter já, mas com mais meios" e que os profissionais tenham mais condições.
"Aquilo que é o pilar da nossa democracia é o SNS", disse Marisa Matias reforçando que não se pode permitir fazer negócio com a crise sanitária.
"Uma vida não tem preço. Respeito o privado e o público. Prefiro ser tratado no público onde está o meu povo", disse Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans. Afirmou, no entanto, que se não existir essa possibilidade quer é "ser tratado".
Na segunda parte do debate, falou-se na atuação do atual Presidente da República. "Entre Marcelo e Costa não se sabe onde começa um e acaba o outro", referiu Tiago Mayan Gonçalves. Acusa Marcelo de, pela "busca da popularidade", escolher estar ao lado do Governo.
O candidato da Iniciativa Liberal referiu que se fosse Presidente tinha exigido da geringonça contratos escritos nesta legislatura.
Para Marisa Matias, o "papel do Presidente é garantir soluções para o país, que devem passar por um quadro de estabilidade política" que deve respeitar a vontade dos portugueses.
Refere que a parceria de Marcelo com o Governo gerou bloqueios na gestão de problemas estruturais que a pandemia colocou a descoberto, como o combate à precariedade, as questões relacionadas com a saúde e em relação à banca.
"O país precisa de um Presidente que ajude a desbloquear os problemas estruturais", defendeu Marisa Matias.
Vitorino Silva criticou a situação em que o primeiro-ministro, António Costa, lançou a candidatura de Marcelo numa visita à fábrica da Autoeuropa.
"Os afetos do Presidente existem mas estão muito mal distribuídos", defendeu João Ferreira
"Foi uma parceria entre os dois. Neste percurso não sabia quem mandava mais. Embalaram-se um ao outro porque dava jeito", acrescentou.
"É o candidato do PS", acusou André Ventura, referindo-se a Marcelo Rebelo de Sousa e criticando, por exemplo, a substituição da procuradora-geral da República. "Eu não permitira uma lei que permite expropriações", disse ainda.
Duas situações em que Ventura deixava cair o Governo: O caso dos incêndios, "foi a maior falha que este Governo teve", e a questão de Tancos.
"A extrema-direita não é só mais uma corrente de opinião, é um perigo", disse Ana Gomes
João Ferreira considera que "os afetos do Presidente existem mas estão muito mal distribuídos".
O que deve ser o papel do Presidente da República? "Deve ser o garante da estabilidade, mas não do bloco central. O meu Presidente da República não é o rei de Espanha, tem de cuidar dos portugueses", defendeu Ana Gomes.
"A extrema-direita não é só mais uma corrente de opinião, é um perigo. Normalizar a extrema-direita é normalizar a insegurança, o discurso de ódio, o incitamento à violência", sublinha a ex-eurodeputada.
Marcelo Rebelo de Sousa "é muito simpático, mas muda muito". "Um dia sugere que o ministro deve ser demitido", no outro dia diz que é da competência do Governo, acrescentou Ana Gomes.
"Considero este debate muito interessante. É a primeira vez que um candidato que se recandidata participa num debate com todos os candidatos. Nunca aconteceu isto na história da democracia portuguesa", disse Marcelo Rebelo de Sousa, antes de reagir às críticas.
Afirmou que o papel de um presidente tem a ver com fator de estabilização, "com a ideia de proximidade que vai criando condições para as instituições funcionarem".
"As democracias que melhor funcionam são as que buscam a estabilidade e o compromisso", considerou Marcelo.
Tiago Mayan fala num "percurso de décadas" de uma visão estadista e socialista. "O que eu não quero é o desenvolvimento preconizado pelo atual Presidente".
Defendeu "alívio fiscal e apoio direto às atividades" que foram afetadas pela pandemia.
O candidato do PCP disse que "temos de aproveitar a situação em que estamos e relançar o país", respondendo às questões de emergência e aos problemas estruturais, elevando os salários e o rendimento das famílias.
A "bazuca", o dinheiro que vai chegar da União Europeia, deve ser aplicada "na classe média", defende André Ventura.
Polícias, professores, médicos e enfermeiros têm visto progressivamente os seus salários a serem estagnados, afirmou o líder do Chega. "Gastamos com fundações um balúrdio", criticou.
"Precisamos de apostar na transição energética, a criação de emprego, combate à precariedade", defendeu Marisa Matias.
"É prioritário gastar [os fundos europeus] num país mais justo económico e socialmente", disse a candidata destacando que se deve combater a precariedade, um problema estrutural, falando de quando não há salários e pensões dignas. Precariedade "é ter uma em cada seis pessoas em pobreza ou no limiar da pobreza", acrescentou.
De acordo com Tiago Mayan Gonçalves, "não é o Estado" que vai fazer crescer a economia, são as empresas e "as pessoas".
Se eu fosse Presidente que país Portugal seria?
Marcelo Rebelo de Sousa referiu que "quanto mais tempo durar a pandemia mais tempo dura a crise". "Prioridade imediata é ultrapassar a pandemia, acelerando a vacinação, criando condições sanitárias, mais apoios económicos e sociais".
"É preciso que o tecido social não deslace", disse. É preciso que os empresários de micro e pequenas empresas possam retomar condições de recuperação económica, acrescentou.
Todos os candidatos responderam depois ao desafio do moderador, o jornalista Carlos Daniel, sobre que país teríamos caso fossem eleitos.
Se eu for Presidente, Portugal tem de ser diferente "na luz, vai haver muito mais brilho. Tenho a certeza que isso vai acontecer", disse Tino de Rans.
Já Marisa Matias disse que caso fosse eleita irá existir um país que se orgulha dos seus trabalhadores, "que se orgulha das lutas, que as assume, um país que seja um lugar de justiça social e económica, que não fica no passado", que não abandona os mais velhos e os mais novos.
"Esperança, trabalho com direitos, igualdade entre homens e mulheres, perspetivas de realização para os jovens, cultura, um ambiente ecologicamente equilibrado". É assim o país de João Ferreira caso fosse eleito Presidente da República. "Fazer cumprir o Portugal que está inscrito nas páginas da constituição", adiantou.
Se eu for Presidente, Portugal terá de ser 10 milhões de visões, esperanças, anseios, ambições de todos os portugueses", disse o candidato da Iniciativa Liberal.
André Ventura referiu que se for Presidente "não vamos ter um país em que metade trabalha para a outra metade continuar sem fazer nada". "Não vou ser o Presidente que permitirá que grande parte do país continue a sentir que só existe Estado para uns. Que uns têm de trabalhar e que outros podem viver à conta de quem continua a sustentar o Estado, a pagar impostos e a sentir que sai todos os dias de casa para sustentar este país".
Se voltar a ser Presidente o que vai ser diferente dentro de cinco anos? "O fundamental é que os portugueses gostem ainda mais de Portugal, gostem ainda mais de serem portugueses e é isso o sonho de um Presidente da República", concluiu Marcelo Rebelo de Sousa.
Se eu for Presidente, vai existir "um Portugal onde a justiça funcione e que haja justiça social, fiscal para combater as desigualdades e para fazer o país andar para a frente. Um país com futuro para os jovens. Com futuro para os mais idosos, porque certamente sentir-se-ão muito melhor, mais estimulados a viver se os seus jovens tiverem perspetivas de futuro. Um país com esperança, que seja relevante na Europa", considerou Ana Gomes.
De referir que Marcelo Rebelo de Sousa participou por videoconferência depois de ter feito quatro testes para detetar a presença do SARS-CoV-2 (um antigénio e três PCR). O resultado do primeiro (antigénio) foi negativo, mas, Marcelo recebeu um resultado positivo.
O chefe de Estado, no entanto, recebeu dois resultados negativos durante esta terça-feira. Antes já tinha cancelado toda a agenda prevista para o dia de hoje, incluindo a presença física na reunião sobre a situação epidemiológica do país, tendo feito as audições com os partidos sobre o estado de emergência através de telefone.