"É a Mathilde, a rainha da Bélgica!?"
Obrigada a abrandar o passo e a manter-se encostada a uma parede enquanto o grupo passa, protegido por elementos da Polícia de Segurança Pública, a turista não resiste: "É a Mathilde, a rainha da Bélgica!?" É uma afirmação e uma pergunta, movida pela incredulidade de quem, passeando por Lisboa, se depara com uma cara conhecida. A câmara fotográfica, entretanto, já está em punho.
A senhora alta, de sorriso fotogénico, chapéu, vestido e stilletos azuisque se passeia na Praça do Comércio e depois na Rua Augusta, no centro de Lisboa, numa tarde de outono muito quente, é mesmo a rainha dos belgas. À turista francesa, apanhada desprevenida com o aparato da comitiva, passam-lhe ao lado os acompanhantes - aquele que é, desde 2013, o rei dos belgas, Philippe, e o Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, anfitrião da visita.
Cruzam-se com os turistas sentados nas espanadas, o jovem adulto que pede comida e a mulher-estátua, que em estátua fica. Terminam, os reis, sorridentes, à janela de um bem pintado elétrico 28 que leva o grupo até ao miradouro de Santa Luzia, uma ideia da Presidência da República na visita oficial dos monarcas a Portugal.
Uma hora antes, às 15.30, o rei Philippe e a rainha receberam das mãos de Fernando Medina a chave da cidade no edifício dos Paços do Concelho.
Do outro lado da baia de segurança montada na Praça do Município, Clarine Bayens esperava a saída da rainha. Queria voltar a vê-la. Liga o smartphone para mostrar ao DN a fotografia que tirou quando Mathilde da Bélgica chegou. "Foi tão rápido, na televisão parece demorar muito mais tempo", queixa-se. Conta que ela e o marido, Piet, holandeses de férias em Lisboa, fizeram uma desvio na sua própria agenda para verem o casal real da Bélgica, depois de lerem a notícia de que estariam na cidade. "Gostamos mais da Máxima e do nosso rei, Guilherme, é menos distante e mais um dos nossos, mas a rainha vizinha também é muito popular".
Mathilde d'Ukedem d'Acoz, uma aristocrata belga, e Philippe, então príncipe herdeiro, casaram-se em 1999 e são pais de quatro filhos (duas raparigas e dois rapazes). Élisabeth, a mais velha, é a herdeira ao trono.
Às 16.30, conforme marcado no programa, os reis deixam a Câmara municipal de Lisboa. Clarine Bayens e outro pequeno grupo dizem adeus, os monarcas retribuem.
Depois de ter apresentado as medidas para conter o alojamento local em Lisboa e reagido à notícia de que a casa do presidente da câmara de Lisboa está numa plataforma de aluguer de curta duração, Fernando Medina recebeu os reis no salão nobre da sede da autarquia, onde em 1999 os pais do atual rei, Alberto II e Paola, foram recebidos. O anterior soberano abdicou a favor do filho por motivos de saúde.
Fernando Medina lembrou o que une portugueses e belgas: "mecanismos internos de segurança e a implementação de medidas de combate ao terrorismo", num clima de diálogo entre os dois países da União Europeia, unidos "na proteção das nossas democracias da ameaça do extremismo e do populismo".
O presidente da Câmara de Lisboa lembrou ainda os encontros que decorrem à margem do programa oficial dos reis - um encontro entre investidores que debatiam a inovação e tecnologias no desenvolvimento urbano ao mesmo, esta segunda-feira; um simpósio entre empresários que acontece esta terça-feira. Na Bélgica, 18 escolas - do ensino básico e secundário - e várias universidades ensinam a língua portuguesa.
O primeiro de três dias da visita oficial dos Reis dos Belgas a Lisboa termina com um banquete no Palácio Nacional de Queluz, oferecido pelo Presidente da República.
O rei Philippe e a rainha Mathilde aterraram no aeroporto de Figo Maduro esta segunda-feira, 22, de manhã e uma hora depois já estavam na Praça do Império, recebidos pelo Presidente da República.
A comitiva passou pelo Mosteiro dos Jerónimos, antes de se deslocar ao Palácio de Belém para uma audiência com Marcelo Rebelo de Sousa, e a obrigatória assinatura do livro de honra. Antes do almoço, os monarcas reuniram-se com António Costa no Palácio de São Bento.
A comitiva que acompanha os Reis dos Belgas (assim designados porque usam um título que é mais de um povo do que de um país) é composta por mais de 170 elementos, entre eles o vice-primeiro-ministro, Didier Reynders.
Esta terça-feira o casal real da Bélgica visita o Oceanário. As agendas separam-se a seguir. O rei será recebido na Fundação Calouste Gulbenkian pela presidente do conselho de administração, Isabel Mota, a rainha visita o Centro de Investigação para o Desconhecido da Fundação Champalimaud e a Associação Cultural Moinho da Juventude, fundada pela ativista e psicóloga belga Godelieve Meersschaert. O rei Philippe estará no Impact Hub Lisbon.
A visita oficial termina na quarta-feira, a norte. Os reis são recebidos pelo presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira. Estarão no Museu de Serralves com a presidente da fundação, Ana Pinho, almoçam com empresários no Palácio da Bolsa e também estarão na Universidade do Porto.