Repartir os ovos por vários cestos - dizia Soares

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Mário Soares costumava dizer que o povo português gosta de repartir os ovos por vários cestos. O líder histórico do PS aludia ao facto de, normalmente, haver um Governo de direita e um Presidente de esquerda, ou vice-versa, como acontece agora. As maiorias parlamentar e presidencial nem sempre coincidem.

As palavras de Soares estão perfeitamente actuais, porque depois da vitória de Marcelo, candidato da direita democrática, nas presidenciais, seguir-se-á, muito provavelmente, a do PS, partido de esquerda, nas próximas legislativas, como diz a sondagem do DN.

As autárquicas escapam ao raciocínio de Soares, mas não creio que, com tanta superioridade actual do PS, em número de câmaras, o PSD consiga dar a volta. O país é rosa e não estou a vê-lo virar laranja.

O presidente do PS, Carlos César diz, e bem, que o Chega é, por enquanto, uma ameaça ao PSD e não ao país. André Ventura diz aos ditos sociais-democratas que não haverá Governo sem o Chega, mas o mais é certo é não haver Governo, nem com o PSD nem com o Chega.

A liderança actual do partido de Sá Carneiro, nunca é de mais recordá-lo, ao aproximar-se de André Ventura, e elogiando até a votação deste no Alentejo, o que me parece um erro crasso, deixou o espaço social-democrata para o PS, que não se fará rogado.

A mexicanização do país não me parece cenário de todo em todo impossível, dado que prevejo para a nossa direita, agora pulverizada, longa travessia do deserto. A fragmentação da direita, com o surgimento do Chega e da Iniciativa Liberal, só favorece os socialistas e a sua hegemonia política no país. As sondagens assim o demonstram.

O PSD, o que fazer, pergunta o DN, atravessa um dos momentos mais difíceis da sua história. Incapaz de cavar o fosso que o separa do PS, Rui Rio tem uma liderança de zigue-zagues, nada favorável ao crescimento e afirmação do seu partido.

O que dizer de um líder que queria viabilizar Orçamentos do PS e depois vira-se para o Chega? O que pensar de quem queria adiar as eleições? Que juízo fazer de político que se opõe à subida do salário mínimo nacional? Apesar de tudo, não vejo alternativa a Rui Rio. Passos Coelho seria ainda pior.

A reforma do sistema eleitoral apresenta-se como inadiável e foi com agrado que vi a disponibilidade do PSD e PS para o efeito. A agilização do voto, para baixar a abstenção, seria útil e vantajosa e a admissão de candidaturas independentes, fora dos partidos, também me parece benéfica. Já os círculos uninominais não têm o meu apoio, porque põem em causa o princípio da proporcionalidade, que reputo como fundamental em democracia.

A votação do passado domingo foi, de forma clara e inequívoca, no sistema democrático. Desiludam-se os saudosos do antigamente. Portugal deu uma lição de democracia.

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