Nós é que pagamos tudo - diz o povo e com razão

Quando há crise, o nosso povo, honrado e trabalhador, que merecia melhor sorte, costuma dizer: nós é que vamos pagá-la! E foi assim, ainda bem recentemente, com os cortes nos salários e pensões. Agora, com a pandemia, os portugueses são os culpados, no dizer do primeiro-ministro, pelo seu agravamento. Arrastam com as culpas. Pagamos sempre tudo é bem verdade.

António Costa tem de compreender que se o povo alivia, por alguns momentos, o uso da máscara ou tem menor percepção do risco de ficar infectado, não pode ser motivo para críticas, dado que as pessoas estão extremamente saturadas de uma pandemia que dura quase há um ano, sem se ver a luz ao fundo do túnel.

O que é censurável, e bastante, é a estratégia, ou falta dela, seguida pelos nossos mais altos responsáveis no combate à Covid. É muito feio não fazer mea culpa e alijar as responsabilidades para um povo, que tem sido mártir e indefeso. A ausência de restrições no Natal - deve ter havido festas com mais de vinte pessoas -, provavelmente explicada pelo ultracatolicismo do Presidente Marcelo, não foi decretada pelos portugueses, mas sim pelos nossos governantes.

Os erros de fundo, que estes têm cometido, desde a dualidade de critérios para Fátima e a Festa do Avante! até à hipervalorização da Saúde, em detrimento da Economia e do social, não devem ser imputados ao povo português, cuja disciplina e espírito de sacrifício ainda há bem pouco eram elogiados, por quem agora o censura.

Com tanta gente a perder o emprego - a restauração prevê mais de cem mil despedimentos no primeiro trimestre! - se não se morre do vírus, morre-se de fome, como já assinalei. Com as escolas a fecharem, mesmo contra a vontade do ministro, o país ficaria ainda mais analfabeto. A posição de Tiago Brandão Rodrigues só é de louvar.

O confinamento de um mês que aí vem, decalcado a papel químico do de Março e Abril, não é acompanhado, a avaliar pelas declarações de Costa, de que tenho conhecimento, por medidas que protegam a Economia. E se as houver penso que serão muito ténues. Confinar ou destruir o país?

A renovação do estado de emergência, que parece ser já uma constante, é uma medida repressiva, só apoiada pelo PS e PSD, agora com a ajuda do CDS e PAN. O facto de aqueles dois partidos estarem irmanados nesta triste votação em nada me surpreende, porque, em relação a eles, costumo dizer: vira o disco e toca o mesmo!

O Zé Povinho, na expressão popular e consagrada de Rafael Bordalo Pinheiro, é que, na verdade, paga tudo. O pior é se, já deveras fatigado com a pandemia, também se satura dos que o fazem passar por tanta provação e, ainda por cima, o culpam do que, infelizmente, acontece. Haja mais decência na nossa política.

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