Zelensky encontrou-se com Starmer, Macron e Merz antes de partir para Bruxelas para se reunir com Mark Rutte
Zelensky encontrou-se com Starmer, Macron e Merz antes de partir para Bruxelas para se reunir com Mark Rutte ADRIAN DENNIS/POOL/EPA

Zelensky diz que não há acordo sobre cedências de territórios nas negociações de paz

Presidente ucraniano diz que existem “visões dos Estados Unidos, da Rússia e da Ucrânia” sobre como resolver disputas territoriais, mas ainda não há "uma visão unificada sobre o Donbass”.
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Volodymyr Zelensky afirmou que ainda existem visões diferentes sobre como resolver as disputas territoriais no âmbito de um futuro acordo de paz.

Em entrevista à Bloomberg News, o presidente ucraniano disse que existem “visões dos Estados Unidos, da Rússia e da Ucrânia” sobre como resolver a questão, mas ainda não há "uma visão unificada sobre o Donbass”.

Zelensky adiantou que a Ucrânia está a pressionar por um acordo separado sobre garantias de segurança por parte dos aliados ocidentais, principalmente dos EUA.

“Há uma questão para a qual eu – e todos os ucranianos – queremos uma resposta: se a Rússia voltar a iniciar a guerra, o que farão os nossos parceiros?”, questionou Zelensky.

Esta questão deverá ter tido um papel central na reunião desta segunda-feira de Zelensky em Londres com o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, o presidente francês Emmanuel Macron e o chanceler alemão Friedrich Merz.

Os quatro líderes estiveram reunidos, posaram para as fotografias, mas não adiantaram detalhes em relação ao que foi falado. No fundo, o encontro serviu essencialmente para mostrar o apoio à Ucrânia neste momento crucial para o país.

"É muito bom vê-los aqui, quase no quarto aniversário deste terrível conflito, num momento crítico na busca da paz", disse Starmer após receber os líderes na sua residência em Downing Street. "Estamos com a Ucrânia e, se houver um cessar-fogo, é necessário que seja justo e duradouro", acrescentou.

Macron e Merz manifestaram ainda a sua determinação em prosseguir um plano firme, numa altura que o chanceler alemão descreveu como "decisiva... para todos nós".

Zelensky destacou o equilíbrio delicado que as potências europeias precisam de alcançar ao tentar negociar melhores condições para o plano proposto pelos EUA. "Há algumas coisas que não podemos gerir sem os americanos, coisas que não podemos gerir sem a Europa, é por isso que precisamos de tomar algumas decisões importantes", disse Zelensky.

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Macron, Zelensky, Starmer e Merz vão reunir-se em Londres na segunda-feira

Depois, o presidente ucraniano irá reunir-se, em Bruxelas, com o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, e os presidentes do Conselho Europeu, António Costa, e da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Em comunicado, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) dá conta de que o secretário-geral, Mark Rutte, vai receber o Presidente da Ucrânia e os dois principais representantes da União Europeia (UE) na residência oficial.

Não estão previstas declarações e também não há indicações sobre o assunto ou a hora de início da reunião.

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Entretanto, Paula Pinho, porta-voz da presidente da Comissão Europeia disse que o encontro vai ser pela hora do jantar, sem adiantar mais detalhes.

Ainda que não seja conhecido o motivo da reunião, deverá estar relacionado com as negociações em curso, mediadas pelos Estados Unidos da América, para tentar chegar a um cessar-fogo e eventualmente um acordo de paz.

A questão territorial continua a ser a mais problemática nas negociações para o fim da guerra na Ucrânia, disse esta segunda-feira à agência France-Presse um alto responsável próximo do dossiê.

Segundo o alto responsável, que foi informado sobre as últimas rondas de negociações entre a Ucrânia e os Estados Unidos da América no fim de semana, aquela exigência “mantém-se e é a questão mais problemática”.

“Vladimir Putin [presidente russo] não quer concluir um acordo sem território. Por isso, eles [russos] estão a analisar todas as opções para garantir que a Ucrânia cede território no Donbass, na região leste do país parcialmente ocupada pela Rússia, adiantou.

A Rússia, que controla a maior parte dos Donbass, quer obter todo o território, uma exigência repetidamente rejeitada por Kiev.

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Segundo o responsável, Washington está a pressionar a Ucrânia para que aprove rapidamente um plano para terminar a guerra, mas Kiev “não pode aceitar tudo sem examinar os detalhes”, acrescentou.

Os Estados Unidos apresentaram há quase três semanas uma proposta inicial com 28 pontos, que a União Europeia e a Ucrânia consideraram que favorecia Moscovo, e que não incorporou contributos da União Europeia ou da Ucrânia.

O plano previa, entre outras questões, o reconhecimento da soberania russa no Donbass e na Crimeia, anexada em 2014.

Previa também a redução do exército ucraniano para 600.000 efetivos, menos 200.000 do que atualmente, e a renúncia da Ucrânia à adesão à NATO (Organização do Tratado Atlântico Norte, na sigla inglesa) inscrita na Constituição do país.

Destinado a pôr fim ao conflito desencadeado pela ofensiva russa contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, o plano foi alterado substancialmente após várias sessões de negociações com os ucranianos em Genebra (Suíça) e na Florida (EUA), para tentar alterar o texto em favor de Kiev.

O documento foi apresentado na terça-feira ao presidente russo, durante uma visita a Moscovo do enviado presidencial norte-americano, Steve Witkoff, e do genro do presidente norte-americano e mediador informal, Jared Kushner.

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Após três dias de negociações na Florida entre as autoridades ucranianas e norte-americanas, não houve avanços significativos no sábado.

No entanto, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, prometeu continuar as negociações em busca de uma “verdadeira paz”, enquanto a Rússia tem feito novos ataques com drones e mísseis contra a Ucrânia.

A retirada do Donbass, a renúncia ucraniana a ingressar na NATO, as garantias de segurança e as reparações russas no pós-guerra são algumas das questões que dividem as duas partes nas negociações sob mediação dos Estados Unidos.

A União Europeia não só criticou estas propostas, como também lamentou a exclusão do bloco comunitário europeu de todo o processo que possivelmente desenhará a arquitetura de segurança da Europa nos próximos anos.

As autoridades ucranianas e russas encontraram-se com as de Washington em várias ocasiões e a Casa Branca está a redesenhar o plano, mas a UE continua a ser excluída.

Em simultâneo, os países da União Europeia têm duas semanas para chegar a acordo sobre o financiamento para a Ucrânia para 2026 e 2027.

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Em cima da mesa está uma proposta apresentada na última quarta-feira pela Comissão Europeia com um enquadramento legal para a utilização dos recursos russos em território da UE que estão imobilizados por causa das sanções.

No entanto, a proposta não reúne consenso entre os Estados-membros do bloco político-económico europeu.

Dos 27 Estados-membros da UE, 23 são também Estados-membros da NATO e tanto a UE como a NATO concordaram em reforçar as sinergias em matérias de defesa e apoio à Ucrânia.

A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, desencadeando o pior conflito armado na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, que fez centenas de milhares de mortos e milhões de refugiados.

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