Vladimir Putin reafirmou esta quinta-feira, 4 de dezembro, que não pretende recuar nos seus objetivos bélicos maximalistas na Ucrânia, uma demonstração de inflexibilidade que surge no decorrer de mais uma ronda de negociações lideradas pelos Estados Unidos com vista ao fim da guerra - depois de terem estado em Moscovo na terça-feira com o presidente russo, Steve Witkoff e Jared Kushner tinham agendada para esta quinta-feira uma reunião em Miami com uma delegação ucraniana. “Tudo se resume a isto. Ou libertamos estes territórios pela força das armas, ou as tropas ucranianas deixam estes territórios e deixam de lutar lá”, declarou Putin ao India Today antes de iniciar esta quinta-feira uma visita a Nova Deli, onde se encontrará esta sexta-feira com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. O russo disse ainda que as suas negociações na terça-feira com Witkoff e Kushner foram “necessárias” e “úteis”, mas que algumas propostas eram inaceitáveis. De acordo com a Reuters, a Rússia controla atualmente 19,2% da Ucrânia, incluindo a Crimeia (que anexou de forma unilateral em 2014), a totalidade da cidade de Luhansk, mais de 80% de Donetsk, cerca de 75% de Kherson e Zaporíjia, e pequenas partes das regiões de Kharkiv, Sumy, Mykolaiv e Dnipropetrovsk.A cedência de território à Rússia, nomeadamente o Donbass, fazia parte da versão inicial de 28 pontos do plano dos Estados Unidos, mas acabou por ser diluída nos encontros entre as delegações norte-americanas e ucranianas. Esta questão é uma das mais sensíveis das negociações, pois a Ucrânia é contra entregar à Rússia território que não conseguiu conquistar no campo de batalha, com Volodymyr Zelensky a dizer já por várias vezes que Moscovo não deve ser recompensada por uma guerra que iniciou, afirmando ainda que a concessão do Donbass como parte de um cessar-fogo daria a Putin oportunidade para uma nova invasão.Neste sentido, o líder da diplomacia ucraniana declarou esta quinta-feira que Kiev quer uma “verdadeira paz, não apaziguamento” com a Rússia. Falando na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Andrii Sybiha garantiu que “a Europa teve muitos acordos de paz injustos no passado. Todos eles só levaram a novas catástrofes”. E aproveitou ainda para agradecer aos Estados Unidos pelos seus esforços de paz, prometendo que Kiev “aproveitaria todas as oportunidades para tentar acabar com esta guerra”.Mesmo Donald Trump já admitiu que o caminho a seguir para as negociações de paz está atualmente incerto, tendo classificado como “razoavelmente boas” as conversações desta semana entre Vladimir Putin e os enviados dos EUA.O presidente francês, Emmanuel Macron, aproveitou a sua visita de Estado à China para apelar ao seu homólogo Xi Jinping para usar a sua influência junto de Moscovo para pôr fim à guerra na Ucrânia. “Temos de continuar a mobilizar-nos em prol da paz e da estabilidade no mundo. E da Ucrânia às diferentes regiões do mundo afetadas pela guerra, a nossa capacidade de trabalhar em conjunto é determinante”, afirmou Macron em Pequim após uma reunião com o chefe de Estado chinês. “Temos uma expectativa constante em relação à China: é que use a sua influência junto da Rússia para levá-la a cessar a guerra”, havia já dito o Eliseu. Mas não há sinais de que Pequim pressione Moscovo - na sua anterior viagem à China, em 2023, Macron já havia apelado a Xi para que “chamasse a Rússia à razão”, e dois anos depois a guerra continua. “Apesar da intensa atividade diplomática, as hipóteses de um cessar-fogo permanecem remotas. Não nas próximas semanas, e provavelmente não nos próximos meses. A razão é simples: a Rússia e a Ucrânia ainda têm objetivos fundamentalmente incompatíveis, e nenhum dos lados encontrou razões suficientes para ceder. O foco inabalável de Trump em fechar um acordo a qualquer custo não altera este cenário”, referiu Ian Bremmer, presidente do Grupo EuroÁsia, numa análise publicada na quarta-feira à noite. Ato que justifica uma guerraMoscovo garantiu esta quinta-feira que qualquer “ação ilegal” da União Europeia em relação aos seus ativos congelados receberá “a reação mais severa”. “Quaisquer ações ilegais que envolvam os nossos bens não ficarão impunes. Os preparativos para um pacote de contramedidas em caso de roubo e apreensão de bens da Federação Russa já estão em curso”, disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova. Esta responsável abordou ainda o facto de não haver consenso entre os 27 sobre o uso de ativos russos, chamando aos opositores da medida de “forças racionais”.Ursula von der Leyen anunciou na quarta-feira uma proposta com duas soluções para atribuir 90 mil milhões de euros a Kiev (o restante ficaria a cargo dos parceiros internacionais) e responder às necessidades de financiamento da Ucrânia para 2026-2027: a contração de empréstimos pela UE (que dependeriam da margem de manobra do seu orçamento) e um empréstimo associado a reparações com base em ativos russos congelados, que conta com a oposição da Bélgica. A questão foi também comentada por Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, avisando que, se Bruxelas avançar com o uso de bens russos, tal poderá ser considerado como equivalente a um ato que justificaria uma guerra. “Se a UE, afinal, tentar roubar activos russos congelados na Bélgica sob o pretexto de um alegado ‘empréstimo de reparações’, a Rússia poderá muito bem considerar esta acção como equivalente a um casus belli, com todas as implicações relevantes para Bruxelas e para cada país da UE”, avisou o antigo presidente russo.Esta recente proposta do executivo comunitário será discutida pelos líderes dos 27 no Conselho Europeu de dia 18, o que dá uma janela de duas semanas para tentar convencer a Bélgica, país onde fica a Euroclear, empresa que tem em sua posse a esmagadora maioria dos ativos russos congelados, a dar o seu apoio à proposta. E o primeiro passo parece estar a ser dado pelo chanceler alemão.Berlim anunciou esta quinta-feira que o chanceler Friedrich Merz cancelou a sua visita a Oslo e estará esta sexta-feira à noite em Bruxelas para um jantar com o primeiro-ministro belga, Bart De Wever, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, precisamente para discutir este assunto. Num artigo de opinião publicado esta quinta-feira no Frankfurter Allgemeine Zeitung, Merz alertou os outros líderes europeus para o facto de que as decisões que tomarem agora “decidirão o futuro da Europa”, chamando ainda a atenção para a crescente ameaça da “Rússia imperialista”..Putin ameaça guerra contra a Europa antes de reunião sobre a paz na Ucrânia.Zelensky estabelece linhas vermelhas em semana de novas negociações de paz