Donald Trump disse no domingo, após o seu encontro com Volodymyr Zelensky, que estavam “muito perto” de um acordo para pôr fim à guerra na Ucrânia. Mas esta segunda-feira, 29 de dezembro, este aparente otimismo sofreu um revés, depois de Moscovo dizer que iria rever a sua posição nas negociações, acusando a Ucrânia de um ataque de contra uma residência presidencial russa em Novgorod e alegando que Trump teria ficado chocado com o mesmo. Zelensky apressou-se a dizer tratar-se de “uma completa invenção” destinada a justificar novos ataques contra a Ucrânia e a obstaculizar o final da guerra, enquanto que Trump disse ter ficado “muito irritado”.Mas mesmo antes desta acusação, a Rússia já tinha mostrado ontem que estava ainda longe de um potencial acordo com a Ucrânia. No domingo, na conferência de imprensa após o encontro com o seu homólogo ucraniano, o presidente dos Estados Unidos havia reconhecido que o destino do Donbass é uma questão ainda por resolver. Esta segunda-feira, Vladimir Putin voltou a deixar claras as suas intenções militares, ao reafirmar que Moscovo mantém, com progressos, o plano de captura das regiões ucranianas que anunciou anexar em 2022.“O objetivo de libertar as regiões de Donbass, Zaporíjia e Kherson está a ser alcançado por etapas, de acordo com o plano da operação militar especial. As tropas estão a avançar com confiança”, afirmou Putin após um encontro com altos oficiais militares russos sobre a guerra na Ucrânia. O líder russo ordenou ainda que as suas tropas continuem a campanha para assumir o controlo total da região de Zaporíjia, onde fica a maior central nuclear da Europa.O Kremlin já havia dito mais de uma vez, antes desta reunião, que a Ucrânia deve retirar as suas tropas da parte do Donbass que ainda controla se quiser a paz, e que, caso Kiev não concorde, perderá ainda mais território. “Estamos a falar da retirada das forças armadas do regime do Donbass”, declarou o porta-voz da presidência russa. Dmitry Peskov adiantou ainda que deveria realizar-se em breve um novo telefone entre Donald Trump e Vladimir Putin - o presidente dos EUA falou com o seu homólogo russo no domingo antes de receber em Mar-a-Lago o chefe de Estado ucraniano -, mas que não está prevista nenhuma conversa com Zelensky.Este telefonema entre os líderes de EUA e Rússia referido durante a manhã pelo Kremlin acabou por ter lugar esta segunda-feira, tendo sido classificado pela Casa Branca como “positivo”. “O presidente Trump concluiu uma conversa positiva com o presidente Putin sobre a Ucrânia”, escreveu no X a porta-voz da presidência dos EUA, Karoline Leavitt.Já, segundo o Kremlin, Putin informou Trump de que Moscovo vai rever a sua posição nas conversações de paz após o que classificou como um ataque ucraniano contra uma residência presidencial russa em Novgorod. Ataque que Kiev se apressou a dizer ser mentira. De acordo com o conselheiro do Kremlin Yuri Ushakov, Trump ficou chocado quando Putin lhe falou sobre o ataque, mas a Casa Branca, apesar de ter comentado o telefonema, não mencionou este incidente. A agência de notícias russa RIA adiantou que Ushakov afirmou que Trump terá ainda classificado o alegado ataque como “insano” e que a alegada ação de Kiev “influenciaria a abordagem de Washington em relação ao trabalho com Zelensky”. “A posição da Rússia será revista em relação a uma série de acordos alcançados na etapa anterior e às trocas emergentes”, disse Ushakov, citado pela Reuters. “Isso foi declarado com muita clareza”.O conselheiro da presidência russa afirmou ainda que Putin foi informado sobre as negociações dos EUA com a Ucrânia. “Segundo os americanos, durante estas negociações, o lado americano procurou agressivamente a ideia da necessidade de Kiev tomar medidas concretas para uma solução definitiva do conflito, e não se esconder atrás de exigências para um cessar-fogo temporário”.Horas mais tarde, Donald Trump foi confrontado na Casa Branca pelos jornalistas sobre o alegado ataque, dizendo “não gosto. Não é bom”. “Soube disso pelo presidente Putin. Fiquei muito irritado com isso”, prosseguiu, citado pela Reuters. “É um período delicado. Este não é o momento certo. Uma coisa é ser ofensivo, porque eles são ofensivos. Outra coisa é atacar a casa dele. Não é o momento certo para fazer nada disto.”O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, também comentou o alegado ataque ucraniano, referindo que Kiev enviou 91 drones para atacar a residência presidencial em Novgorod na noite de domingo, todos eles abatidos pela defesa aérea. Sergei Lavrov, citado pela Tass, disse ainda que Moscovo não deixará o ataque de Kiev sem resposta e que estão definidos os alvos e o momento do ataque de retaliação da Rússia. “Tais ações imprudentes não ficarão impunes”, declarou, sublinhando que o ataque configura “terrorismo de Estado”.Assim que foi conhecida a acusação de Moscovo, Volodymyr Zelensky garantiu que a alegação de um ataque ucraniano à residência de Putin era “uma completa invenção destinada a justificar ataques adicionais contra a Ucrânia, incluindo Kiev, bem como a própria recusa da Rússia em tomar as medidas necessárias para pôr fim à guerra.”“Mais uma ronda de mentiras da Federação Russa”, prosseguiu o líder ucraniano, citado pela Reuters, em resposta aos jornalistas através do WhatsApp. “É claro que tivemos uma reunião com Trump ontem, e é claro que, para os russos, se não houver escândalo entre nós e os Estados Unidos, e se estivermos a progredir, para eles é um fracasso, porque não querem o fim desta guerra.”Também o líder da diplomacia ucraniana, afirmou que “as manipulações russas relativamente à alegada ‘tentativa de ataque à residência de Putin’ são fabricadas por uma única razão: criar um pretexto e uma falsa justificação para novos ataques da Rússia contra a Ucrânia, bem como minar e impedir o processo de paz”.“Instamos o mundo a condenar as declarações provocatórias da Rússia, cujo objetivo é sabotar o processo de paz construtivo. A Ucrânia mantém o seu compromisso com os esforços de paz liderados pelos Estados Unidos, com a participação de parceiros europeus”, referiu ainda Andrii Sybiha numa mensagem no X.Coligação dos Dispostos reúne em janeiroOs presidentes de Estados Unidos e Ucrânia no seu encontro de domingo não estabeleceram um prazo para a conclusão de um acordo de paz, embora Trump tenha dito que ficará claro “dentro de algumas semanas” se as negociações para pôr fim à guerra terão sucesso, mas referindo que algumas “questões espinhosas” em relação ao território ucraniano precisam ainda de ser resolvidas. Zelensky, por seu turno, afirmou que tinha sido alcançado um acordo sobre as garantias de segurança para a Ucrânia, embora o seu homólogo norte-americano tenha falado em estarem 95% perto de um acordo deste tipo, sublinhando esperar que os aliados europeus de Kiev “assumissem uma grande parte” deste esforço com o apoio dos EUA. Neste sentido, o presidente francês anunciou esta segunda-feira a realização de uma reunião, em Paris, dos aliados da Ucrânia já no início de janeiro para discutir garantias de segurança para Kiev, no âmbito de um acordo de paz com a Rússia. “Vamos reunir os países da Coligação dos Dispostos em Paris, no início de janeiro, para finalizar as contribuições concretas de cada país”, escreveu Emmanuel Macron no Facebook. “Estamos a progredir nas garantias de segurança que serão fundamentais para a construção de uma paz justa e duradoura”.Falando já esta segunda-feira sobre o seu encontro com Trump, e antes de ser conhecida a acusação de Moscovo contra Kiev, Volodymyr Zelensky voltou a referir que tinham feito progressos significativos nas negociações e concordado que as equipas de negociação dos dois países se voltariam a reunir na próxima semana para finalizar questões ainda por resolver. “Tivemos uma conversa substancial sobre todos os assuntos e valorizamos muito o progresso que as equipas ucraniana e norte-americana fizeram nas últimas semanas”, disse Zelensky no Telegram.O presidente ucraniano adiantou ainda que os Estados Unidos oferecem a Kiev garantias de segurança durante um período de 15 anos no âmbito de uma proposta de plano de paz, referindo que preferiria um compromisso americano até 50 anos para dissuadir a Rússia de novas tentativas de tomar o território da Ucrânia através da força..Novo plano dos EUA para a Ucrânia prevê congelamento da frente de combate mas questão territorial por resolver.EUA garantem 15 anos de segurança à Ucrânia no plano de paz. Putin e Trump tiveram telefonema "positivo" .Rússia acusa Ucrânia de ter tentado atacar residência de Putin. Zelensky fala em "completa invenção"