Relatório da ONU indica que Forças Armadas Russas cometeram “crimes contra a humanidade” e "crimes de guerra"
Um relatório da comissão internacional independente das Nações Unidas constata que as Forças Armadas Russas cometeram “crimes contra a humanidade” e “crimes de guerra” na sequência dos ataques com drones contra civis na região de Kherson, na Ucrânia, que terão já causado cerca de 150 mortos.
As conclusões desse inquérito da comissão criada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, revelado esta quarta-feira, indicam ainda que os russos atacaram civis de forma "sistemática".
"Desde julho de 2024, os operadores de drones militares russos, baseados na margem oposta do rio, têm atingido sistematicamente pessoas civis, em várias circunstâncias, principalmente ao ar livre, enquanto caminham ou utilizam transportes. Também visaram ambulâncias, que têm uma proteção especial ao abrigo do direito internacional humanitário, impedindo-as frequentemente de chegar às vítimas", refere o relatório da comissão independente, liderada pelo norueguês Erik Mose, que em conferência de imprensa destacou o facto de os ataques terem seguido "um padrão regular e o mesmo modus operandi, demonstrando que foram planeados, dirigidos e organizados". Ou seja, acrescentou, "fazem parte de uma política organizacional".
O trabalho desta comissão baseou-se no testemunho de uma centena de vítimas e testemunhas na região de Kherson, tendo ainda geolocalizado mais de 120 vídeos de ataques que foram publicados nas contas de Telegram, com ligações às unidades militares o que, segundo a comissão, indica que os militares podem "ver claramente as vítimas e não deixam dúvidas de que a sua intenção era atingir civis". Além disso, alerta que a publicação de vídeos de civis mortos e feridos é "um crime de guerra de ultraje à dignidade pessoal".
Refira-se que, além da cidade de Kherson, foram também atingidas mais 16 localidades num raio de 100 quilómetros "em zonas ribeirinhas sob controlo do Governo ucraniano".
"Os ataques individuais com drones constituem crimes de guerra, por se dirigirem intencionalmente contra civis. A recorrência destes ataques durante mais de 10 meses, contra múltiplos alvos civis e numa vasta área geográfica, demonstra que são generalizados e sistemáticos e foram planeados e organizados, exigindo a mobilização e a afetação dos recursos necessários", sublinha a comissão de inquérito da ONU.
O relatório conclui que as forças armadas russas fizeram ataques com drones contra civis, seguindo uma política organizacional, tendo ainda cometido "homicídio como um crime contra a humanidade".
"Na opinião da Comissão, o comportamento dos perpetradores pode constituir o crime contra a humanidade de transferência forçada de população. O caráter generalizado e sistemático dos ataques, o terror incutido na população e o consequente ambiente coercivo obrigaram milhares de pessoas a fugir (...). Estes elementos combinados sugerem uma política estatal coordenada, por parte das autoridades russas, para forçar a população a partir", pode ler-se.
Nesse sentido, apelam às autoridades russas a acabarem com este tipo de ataque e a "assegurar que todos os autores envolvidos na prática de tais crimes, em particular os comandantes e outros superiores e aqueles que ordenam, solicitam ou induzem a sua prática, sejam responsabilizados, em conformidade com as normas internacionais".