Membros de vários sindicatos caminham atrás de uma faixa com as palavras "Parem a austeridade" numa manifestação esta quinta-feira em Paris.
Membros de vários sindicatos caminham atrás de uma faixa com as palavras "Parem a austeridade" numa manifestação esta quinta-feira em Paris.MOHAMMED BADRA / EPA

"Não aguentamos mais esta noite interminável do macronismo”. Greve deixa França quase paralisada

De acordo com o Ministério do Interior, mais de 506 mil pessoas manifestaram-se em França, incluindo 55 mil em Paris. A CGT contabilizou "mais de um milhão" de manifestantes.
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"Hoje, os trabalhadores estão a levantar-se para dizer que não aguentamos mais esta noite interminável do macronismo", disse ao Le Monde esta quinta-feira, 18 de setembro, Sophie Binet, secretária-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT).

De acordo com o Ministério do Interior, num comunicado divulgado às 17h00 (hora de Lisboa), mais de 506 mil pessoas manifestaram-se em França, incluindo 55 mil em Paris. A CGT contabilizou "mais de um milhão" de manifestantes. Foram ainda reportadas 181 detenções, incluindo 31 em Paris. Onze membros das forças de segurança e outras onze pessoas, incluindo um jornalista, ficaram feridos nos incidentes que marcaram os protestos, particularmente em Lyon.

Olhando para os dados dos dois lados, pode afirmar-se com certeza que centenas de milhares de pessoas participaram esta quinta-feira em protestos anti-austeridade em toda a França, apelando a que o presidente Emmanuel Macron e o seu novo primeiro-ministro, Sébastien Lecornu, abandonem os iminentes cortes orçamentais, e que levaram à queda dos anteriores governos.

De recordar que François Bayrou, primeiro-ministro até há uma semana, tinha apresentado uma proposta de orçamento para 2026 que incluía um corte orçamental de 43,8 mil milhões de euros, o congelamento das despesas não relacionadas com a defesa no próximo ano e a não substituição de um em cada três funcionários públicos quando se reformarem.

As greves agendadas para esta quinta-feira afetam desde escolas, transportes, saúde, tendo uma fonte do Ministério do Interior dito no início desta semana que cerca de 800 mil pessoas deveriam participar nas greves e protestos.

Um em cada três professores do ensino primário estava em greve em todo o país, e quase um em cada dois abandonou o emprego em Paris, informou um dos sindicatos do setor, o FSU-SNUipp. Ao mesmo tempo, jovens bloquearam dezenas de escolas secundárias.

Na área dos transportes, os comboios regionais foram fortemente afetados, enquanto a maioria das linhas de comboio de alta velocidade TGV do país funcionavam, segundo as autoridades. No metro de Paris, ao início da manhã, apenas linhas automáticas estavam em funcionamento. Foi ainda reportado que manifestantes reuniram-se para reduzir a velocidade do trânsito numa autoestrada perto de Toulon.

Até ao início da tarde havia ainda a registar alguns confrontos à margem dos protestos na cidade de Nantes, com a polícia a disparar gás lacrimogéneo, e em Lyon, onde os media noticiaram que três pessoas ficaram feridas.

Um aviso claro

Num relatório divulgado ao início da tarde, o Ministério do Interior tinha reportado 141 identificações, incluindo 21 em Paris, e 75 detidos, incluindo 16 na capital.

Tinham sido ainda registadas 588 ações na via pública, com o Ministério do Interior a notar ainda que todas as escolas secundárias tinham sido desbloqueadas até às 14h30 (hora de Lisboa).

Numa conferência de imprensa durante a manhã, o Ministro do Interior cessante, Bruno Retailleau, falou de "ações menos intensas do que o esperado", referindo que uma presença significativa de segurança, incluindo mais de 80.000 polícias, tinha sido mobilizada em todo o país.

Mais de 12% dos funcionários públicos do Estado estiveram em greve esta quinta-feira, sobretudo no setor da educação, segundo dados do Ministério da Função Pública divulgados ao final do dia. De notar que o valor desta greve (12,7% de um total de 2,5 milhões de funcionários) é quase três vezes superior à taxa registada no passado dia 10 de setembro, convocada pelo movimento Bloqueiem Tudo (4,58% para o dia inteiro).

Olhando para outros setores da função pública, 7,47% dos funcionários da área territorial (que inclui quase 2 milhões de funcionários) estiveram em greve e 7,6% na função pública hospitalar (entre 1,2 milhões de funcionários).

"Este é um aviso, um aviso claro para Sébastien Lecornu", afirmou à Reuters Marylise Leon, líder da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), sobre os protestos de quinta-feira. "Queremos um orçamento socialmente justo".

Uma sondagem da Elabe para a BFMTV mostra que mais de metade dos franceses (56%) “apoia” ou pelo menos tem “simpatia” por esta jornada intersindical, enquanto que 25% desaprovam e 18% são indiferentes, enquanto 1% dos inquiridos não tem opinião formada.

Em declarações à mesma estação de televisão, Manon Aubry, eurodeputada da França Insubmissa (extrema-esquerda), anunciou uma "mobilização" este domingo, 21 de setembro, por iniciativa dos "coletivos organizados em torno do slogan 'Bloqueiem tudo!'". Aubry elogiou ainda um "dia muito bonito" registado esta quinta-feira com uma "participação superior à da semana passada".

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