Estradas cortadas e barricadas, caixotes do lixo a arder, edifícios vandalizados e choques com os cerca de 80 mil polícias destacados para evitar que o protesto tivesse sucesso a “bloquear tudo” em França. Ao final da tarde de quarta-feira (10 de setembro), o balanço de mais de 800 ações de e 260 bloqueios era já de mais de 470 detidos por todo o país, a grande maioria em Paris, onde o novo primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, tomou posse com a promessa de “ruturas”, não só “na forma”, mas também “na substância”.O protesto que nasceu em maio nas redes sociais da extrema-direita, mas foi abraçado pela esquerda radical, começou por ser contra a proposta de orçamento do primeiro-ministro François Bayrou. Este caiu na segunda-feira (8 de setembro), depois de perder uma moção de confiança na Assembleia Nacional, mas a contestação manteve-se contra o presidente Emmanuel Macron, que entretanto nomeou o até agora ministro das Forças Armadas, seu aliado, para chefiar o Governo.“É a mesma m..., é o mesmo, é Macron quem é o problema, não os ministros”, disse à Reuters um manifestante, representante de uma central sindical, num dos protestos em Paris. Na capital, a polícia usou gás lacrimogéneo para desbloquear a entrada de uma escola secundária, tendo também atuado em força para impedir cerca de mil pessoas de bloquearem a Gare du Nord. . O ministro do Interior demissionário, Bruno Retailleau, tinha dado ordens às forças de segurança para “não tolerar a violência, a degradação, o bloqueio, a ocupação de infraestruturas essenciais”. Após o início do protesto, alegou que este não tinha nada de “mobilização cidadã” e tinha sido “desviado” pela extrema-esquerda. Lecornu toma posse.“Não vou fazer um longo discurso, pois esta instabilidade e a crise política e parlamentar que vivemos exigem humildade e sobriedade”, disse Lecornu, de 39 anos, na cerimónia de tomada de posse, depois de um encontro de 45 minutos com Bayrou - a quem agradeceu o apoio. Numa mensagem aos franceses, insistiu que “não há um caminho impossível” e que “lá chegaremos”.O novo primeiro-ministro falou da necessidade de acabar com a “dupla desconexão”: não só “a desconexão entre a situação política e a desconexão com aquilo que os nossos concidadãos legitimamente esperam no seu quotidiano”, como também entre a política interna e a geopolítica. Defendendo que é preciso ser “mais criativo” na forma de trabalhar com a oposição, Lecornu falou na necessidade de “ruturas não apenas na forma, e não apenas no método. Ruturas também na substância”. .França. Lecornu toma posse defendendo "ruturas" não apenas na "forma", mas também "na substância".Antes dele, Bayrou focou o seu discurso em três verbos: “ajudar”, oferecendo a sua ajuda a Lecornu; “unir”, mostrando-se convicto de que o país não vai continuar sempre “atolado em divisões, insultos e violência”; e “inventar”. “Devemos inventar o novo mundo que está a surgir, que surgirá, mas fazê-lo com base na realidade. E estou convencido de que há milhões de franceses que querem participar nesta reconstrução realista”, afirmou o centrista.Lecornu indicou que começará a ouvir nos próximos dias os partidos políticos e os sindicatos, sabendo que pela frente não tem um desafio fácil. O primeiro será, desde logo, formar Governo. Os socialistas ficaram descontentes por não terem sido chamados para a liderança do Executivo e deverá ser complicado Lecornu atrair nomes à esquerda.Depois segue-se o Discurso de Política Geral, com as linhas do seu Governo, não sendo obrigatória uma moção de confiança - após a perda da maioria, não tem sido habitual pedir uma e depois de Bayrou ter sido o primeiro-ministro francês a cair assim, talvez Lecornu não vá arriscar.O prazo também já está a contar para o orçamento de 2026, que tem que ser aprovado até ao final do ano, mas terá que ficar pronto até meados de outubro. Sébastien Lecornu pode recorrer ao artigo 49.3 da Constituição para passar o texto sem um voto na Assembleia Nacional, mas isso abre a porta a uma moção de censura e corre o risco de não passar.