Avós e tios de Émile libertados sem acusação. “Provável" intervenção de terceiros na morte da criança, diz MP

Avós e tios de Émile libertados sem acusação. “Provável" intervenção de terceiros na morte da criança, diz MP

Os quatro foram libertados após serem detidos por suspeitas de “homicídio voluntário”. Para já, MP francês não descarta ligação familiar ao desaparecimento e morte de Émile, de dois anos e meio.
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Depois de quase 48 horas em prisão preventiva, foram libertados na madrugada desta quinta-feira os avós e os tios de Émile Soleil, a criança de dois anos e meio que desapareceu em julho de 2023 na região dos Alpes-de-Haute-Provence, em França, e cujos restos mortais foram encontrados no final de março de 2024.

Os quatro familiares da criança foram libertados sem acusação depois de terem sido detidos na terça-feira por suspeitas de “homicídio voluntário” e "ocultação de cadáver".

O Ministério Público francês não descartou, no entanto, a possibilidade de ligação familiar ao desaparecimento e morte de Émile Soleil.

Em conferência de imprensa, o procurador Jean-Luc Blachon, acompanhando pelo coronel Christophe Berthelin, responsável pela investigação, falou em "provável" intervenção de terceiros na morte da criança.

Análises efetuadas ao crânio de Émile, encontrado a 30 de março de 2024 em Haut-Vernet, revelaram “a presença de estigmas anatómicos sugestivos de traumatismo facial violento”, revelou o procurador.

Jean-Luc Blachon afirmou que as conclusões dos relatórios dos peritos permitiram considerar que "as roupas e os ossos foram transportados pouco antes de serem encontrados". "O corpo da criança não se decompôs nas roupas encontradas na floresta”, disse o procurador do Ministério Público. As autoridades acreditam na hipótese de que “o corpo não foi enterrado”.

"O homicídio, inicialmente voluntário, não exclui definitivamente a hipótese de que possa ser homicídio negligente", disse o magistrado. "Nesta fase, manteve-se a qualificação mais elevada, porque os elementos permitem sustentar esta hipótese, sem descartar definitivamente a de homicídio negligente", adiantou.

A investigação a um possível envolvimento da família ainda decorre, estando numa fase final, "mas isso não significa que esteja encerrada", disse o magistrado, citado pela imprensa francesa.

"Chegou o momento de eliminar esta hipótese. Porquê esta ligação familiar? Porque os membros da família estavam presentes na altura do desaparecimento da criança. Era necessário compreender a sua reação à luz das relações que unem esta família”, justificou o procurador, indicando que os familiares da crianças "responderam a todas as perguntas que lhes foram colocadas".

Familiares libertados. "As acusações não eram suficientes", diz procurador

O magistrado explicou ainda que os quatro familiares da criança foram libertados porque "as acusações não eram suficientes".

“Após 17 horas de interrogatório, a prisão preventiva foi levantada”, afirmou Isabelle Colombani, advogada de Philippe Vedovini, avô da criança, aos media por volta das 05h00, segundo a AFP. "É um alívio", acrescentou a advogada ao deixar a esquadra de Marselha.

“Talvez tenha havido algumas zonas cinzentas que precisavam de ser esclarecidas”, disse na quarta-feira a advogada. "Respondemos a todas as perguntas. Não estamos a falar de sentimentos. Estamos a tratar de elementos precisos e factuais”, declarou.

Já de acordo com o advogado Julien Pinelli, a avó Anne Vedovini “quis participar no que poderia naturalmente ser visto como uma provação, mas quis fazê-lo na medida em que sentiu que era também o seu contributo para esta investigação, cujas respostas aguarda agora”.

"A minha cliente foi libertada sem que nenhuma acusação tenha sido feita contra ela. Para uma avó que perdeu o seu neto em circunstâncias tão dramáticas, ser questionada sobre isso sob custódia policial é inevitavelmente extremamente angustiante" disse o advogado da avó de Émile Soleil, citado pelo Le Figaro.

Pinelli afirmou que nas últimas 48 horas, assistiu-se "a um trabalho considerável da unidade de investigação de Marselha". Referiu que o que levou à detenção dos avós de Émile foi uma pista relacionada com o ambiente familiar da criança. "Constatamos no final que esta pista não se baseava em elementos suficientes. As outras pistas ainda estão a ser investigadas”, explicou.

Mais tarde, em declarações à RTL, o advogado disse que Anne Vedovini "não tem nada a ver com o desaparecimento de Émile". Isso mesmo, prosseguiu, foi demonstrado com as diligências das autoridades dos últimos dias. "Esta é também a vantagem deste tipo de medidas de investigação. São inevitavelmente penosas para as pessoas que lhes são sujeitas. No entanto, também nos permitem fechar certas portas e remover certas possibilidades", afirmou Julien Pinelli.

Na conferência de imprensa, o coronel Christophe Berthelin referiu que "houve 3.141 participações, todas verificadas, 287 entrevistas a testemunhas, incluindo quatro sob custódia policial", tendo sido analisados 27 veículos. "Passámos a pente fino 285 hectares no âmbito das investigações judiciais e 7.405 entidades foram introduzidas nas nossas bases de dados”, declarou.

Na terça-feira, o Ministério Público disse que as detenções dos quatro familiares da crianla ocorreram no ãmbito da fase de "verificação e comparação dos elementos e informações recolhidos durante as investigações efetuadas nos últimos meses”.

No dia das detenções, as autoridades francesas realizaram buscas, que abrangeram a casa dos avós de Émile, tendo sido apreendido um SUV e um atrelado para cavalos.

Segundo a AFP, que cita uma fonte próxima do processo, além das buscas, foram realizadas “cerca de dez inquirições a testemunhas”.

A 8 de julho de 2023, Émile, de dois anos e meio, foi dado como desaparecido após chegar à casa dos avós maternos, na aldeia de Haut-Vernet, na região dos Alpes de Haute-Provence.

Depois de várias buscas e de longos meses de investigação, foram descobertos os restos mortais da criança, no final de março de 2024, a cerca de 1,7 km da aldeia.

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Morte de Émile. Avós e tios da criança detidos por suspeita de homicídio

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