O Presidente francês, Emmanuel Macron, declarou esta quinta-feira à chegada à Nova Caledónia desejar o regresso o mais rápido possível "à paz e à calma" no arquipélago francês e não ter "um limite" para o tempo que ali passará.."O meu desejo (...) é estar ao lado da população para que, o mais rapidamente possível, haja um regresso à paz, à calma e à segurança", disse, à saída do avião, acrescentando que ali se deslocou com "muito respeito e humildade" e que "serão tomadas decisões" após as reuniões que tem agendadas..Macron aterrou no aeroporto de Numeá hoje de manhã, pelas 08:20 locais (22:20 de quarta-feira em Lisboa) para tentar restabelecer o diálogo e acelerar o regresso à ordem no arquipélago francês do Pacífico Sul, após uma semana de violência..A partir das 10:00 locais (00:00 de Lisboa), o chefe de Estado francês reunir-se-á com os representantes eleitos e os atores económicos do arquipélago no Alto-Comissariado..Deverá igualmente instaurar uma missão composta por três altos responsáveis, que se manterá "enquanto for necessário" e "terá como objetivo promover o diálogo político local para alcançar um acordo político global", indicou o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, no Senado, na quarta-feira..No terreno, após nove dias de violência, "a noite foi calma", disse o Alto-Comissário Louis Le Franc, o representante do Governo francês no arquipélago.."As reações da classe política" à visita do Presidente "foram bastante positivas de ambos os lados [e] não se registaram mais danos, mas muito foi destruído", observou..Desde o início dos distúrbios, morreram seis pessoas, entre as quais dois guardas nacionais de unidades móveis..Cerca de 86 polícias e guardas nacionais ficaram feridos, segundo o ministro das Autoridades Locais e Regionais francês, Dominique Faure, que na quarta-feira disse aos deputados que, no total, "320 pessoas foram detidas" desde o início da crise.."Várias dezenas de dirigentes violentos foram controlados graças ao recurso a prisão domiciliária", acrescentou..Das 320 pessoas detidas pelas forças de segurança, 269 ficaram sob custódia policial, 35 foram libertadas e 17 originaram mandados de prisão, explicou também na quarta-feira o procurador público de Numeá, Yves Dupas..Estes tumultos, os mais graves registados na Nova Caledónia desde os anos 1980, foram desencadeados por uma reforma eleitoral promovida por Paris, que altera o recenseamento, retirando peso aos povos autóctones, o que indignou os independentistas..Há décadas que existem tensões no arquipélago entre os indígenas Kanaks, que pretendem a independência, e os descendentes dos colonizadores, que querem continuar a fazer parte de França..A 15 de maio, a Assembleia Nacional francesa aprovou um projeto de lei que, entre outras alterações, permite que os residentes na Nova Caledónia há dez anos possam votar nas eleições provinciais..Os opositores dizem que a medida beneficiará os políticos pró-França na Nova Caledónia e marginalizará ainda mais o povo indígena Kanak, no passado alvo de uma política de segregação rigorosa..Situado a leste da Austrália e dez fusos horários adiantado em relação a Paris, o vasto arquipélago com atualmente cerca de 270.000 habitantes tornou-se francês em 1853, sob o comando do imperador Napoleão III, sobrinho e herdeiro de Napoleão..Tornou-se um território ultramarino de França após a Segunda Guerra Mundial, e foi concedida a nacionalidade francesa a todos os Kanaks em 1957..Em 1988, foi celebrado um acordo de paz entre as fações rivais. Uma década depois, França prometeu atribuir à Nova Caledónia poder político e ampla autonomia e organizar até três referendos sucessivos..Os três referendos realizaram-se entre 2018 e 2021, e a maioria dos eleitores optou por continuar a fazer parte de França, em vez de apoiar a independência. O povo Kanak rejeitou os resultados do último referendo, que boicotou por ter sido realizado no pico da pandemia de covid-19.