Israel anuncia novos colonatos para "enterrar" a criação do Estado da Palestina
EPA/ALAA BADARNEH

Israel anuncia novos colonatos para "enterrar" a criação do Estado da Palestina

Ministro de Israel apelou a Benjamin Netanyahu para "fazer cumprir a soberania israelita" na Cisjordânia para garantir que "os líderes hipócritas da Europa não tenham nada para reconhecer" em setembro
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O ministro das Finanças israelita, Bezalel Smotrich, aprovou esta quinta-feira, 14 de agosto, um plano para a construção de milhares de novas habitações entre Jerusalém e o colonato israelita de Ma'ale Adumim, visando "enterrar" a criação de um Estado palestiniano. 

A construção de novas habitações israelitas pode isolar Jerusalém Oriental do resto da Cisjordânia ocupada.

"Esta realidade 'enterra' finalmente a ideia de um Estado palestiniano, porque não há nada a ser reconhecido e ninguém para ser reconhecido", disse o ministro (extrema-direita), na cerimónia de anúncio do plano de habitação, criticado por grupos da oposição e da sociedade civil israelita.

O grupo Peace Now, organização israelita contrária ao estabelecimento de colonatos, criticou as posições do Governo de Benjamin Netahyahu, incluindo o anúncio do Ministério das Finanças e do gabinete militar responsável pela gestão dos novos colonatos.

As autoridades militares têm ainda de aprovar o plano de construção, o que pode acontecer na próxima quarta-feira.

"Estamos à beira de um abismo, e o Governo está a avançar a 'todo o vapor'", denunciou a organização Peace Now.

Durante vários anos, as autoridades israelitas evitaram a implementação do projeto de construção, conhecido como E1, devido à pressão da comunidade internacional, que teme que a expansão dos colonatos impeça o estabelecimento de um Estado palestiniano contíguo a Jerusalém Oriental.

No entanto, desde que Benjamin Netanyahu assumiu o poder em 2022, liderando uma coligação de extrema-direita, foi aprovado um número "sem precedentes" de novos colonatos e de apropriação de terras aos habitantes palestinianos.

"Este não é apenas um plano de construção, é uma mensagem sionista retumbante: uma Jerusalém unida é a nossa capital eterna, e Ma'ale Adumim é parte inseparável dela", disse hoje Smotrich, na cerimónia oficial.

Plano prevê a construção de mais de três mil casas

O plano de Smotrich prevê a construção de mais de três mil casas na zona e inclui também o desenvolvimento de uma nova estrada para separar o tráfego palestiniano e israelita e ligar a cidade de Belém, na Cisjordânia, ao sul de Jerusalém, com Ramallah, a norte.

O plano prevê que a estrada venha a contornar a cidade de Jerusalém.

Embora ainda existam alguns procedimentos burocráticos a serem concluídos, se o processo avançar rapidamente, as obras de infraestruturas podem vir a começar nos próximos meses e a construção das casas pode arrancar dentro de um ano.

O ministro das Finanças agradeceu o apoio do presidente norte-americano, Donald Trump, e apelou a Netanyahu para "fazer cumprir a soberania israelita" na Cisjordânia para garantir que "os líderes hipócritas da Europa não tenham nada para reconhecer" em setembro.

No próximo mês, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, vários países, como França, Canadá, Austrália e Portugal, devem reconhecer oficialmente o Estado palestiniano.

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O anúncio de Smotrich ocorre numa altura em que a Autoridade Palestiniana e os países árabes condenaram a declaração do primeiro-ministro israelita sobre a expansão territorial de Israel. 

Na terça-feira, Benjamin Netanyahu disse que que estava "muito apegado" à visão de um "grande Estado de Israel".

Netanyahu não adiantou mais pormenores, mas os defensores da ideia de expansão defendem que Israel deve controlar não só a Cisjordânia ocupada, mas também partes de países árabes.

O principal tribunal das Nações Unidas, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), declarou no ano passado que a presença de Israel nos territórios ocupados palestinianos é “ilegal” e apelou à suspensão imediata da construção de colonatos, condenando o controlo de Israel sobre as terras que conquistou há quase 60 anos

Autoridade Palestiniana criticou anúncio sobre novos colonatos israelitas

A Autoridade Palestiniana criticou esta quinta-feira o plano israelita, afirmando que se trata da continuação da "guerra genocida" em Gaza e o agravamento da violência.

O porta-voz presidencial palestiniano, Nabil Abu Rudeineh, em declarações à agência de notícias Wafa, disse que a construção das novas casas é ilegal segundo o Direito Internacional.

Por outro lado, o porta-voz afirmou que o anúncio vai provocar a violência dos colonos israelitas, assim como vai agravar a instabilidade.

O porta-voz das autoridades palestinianas no poder na Cisjordânia recordou que a Resolução 2334 do Conselho de Segurança das Nações Unidas declarou ilegais todos os colonatos na Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza.

A 19 de julho de 2024, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) decidiu que Israel deve revogar todas as leis que favoreçam a ocupação da Cisjordânia, classificando-a como ilegal.

No entanto, nesse mesmo mês, o Parlamento israelita aprovou uma moção simbólica — sem efeito jurídico — a favor da anexação de territórios.

Abu Rudeineh instou os Estados Unidos, aliado de Israel, a interromper "os atos de ocupação israelita" e alertou que se trata de políticas que apenas geram guerras e que criam "uma realidade que viola a legitimidade e o direito internacional".

Entretanto, o grupo islamita palestiniano Hamas, que controla a Faixa de Gaza, condenou os planos das autoridades israelitas sobre a construção de milhares de novas casas entre Jerusalém e o colonato israelita de Ma'ale Adumim. 

"Este plano criminoso revela a verdadeira face do governo sionista [governo de Benjamin Netanyahu]: um executivo colonial e ocupante extremista que apenas compreende a linguagem do assassinato, do genocídio, da deslocação e do confisco de terras", afirmou o Hamas em comunicado.

Os planos anunciados hoje pelo ministro das Finanças israelita, Bezalel Smotrich, devem ser ratificados na próxima semana.

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