Depois do choque com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, em relação ao plano de ocupação total da Faixa de Gaza, o chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) deu esta quarta-feira (13 de agosto) luz verde para avançar sem dar mais detalhes sobre o calendário das operações. No enclave palestiniano, pelo menos 89 pessoas morreram nos ataques israelitas durante o dia.“O conceito central do plano para as próximas fases na Faixa de Gaza foi apresentado e aprovado, de acordo com a diretiva da hierarquia política”, indicaram as IDF num comunicado, dizendo que o tenente-general Eyal Zamir tinha “aprovado o quadro principal do plano operacional” para o enclave palestiniano. A decisão foi tomada numa reunião da liderança militar israelita. O chefe das IDF chocou na semana passada com Netanyahu na reunião do Gabinete de Segurança, defendendo a ideia de cercar a cidade de Gaza em vez de procurar assumir o controlo total. Zamir alega que a operação de ocupação do enclave representa um risco para os restantes reféns (estima-se que 20 dos 50 ainda nas mãos do Hamas estejam vivos), tendo também alertado para o cansaço dos militares após 22 meses de guerra.De acordo com o comunicado, o chefe do Estado-Maior das IDF “enfatizou a importância de aumentar a prontidão e a preparação das tropas para o recrutamento de reservistas, proporcionando tempo para o reagrupamento e a recuperação antes das próximas missões”. Mas isso torna-se complicado, por questões políticas. A votação sobre o alargamento das ordens de emergência para convocar mais israelitas da reserva (potencialmente mais 430 mil até final de novembro) foi adiada, já que o Governo não conseguiu uma maioria para garantir a aprovação no Knesset. Só tem 60 deputados em 120 e ontem dois faltaram. “A coligação, mais uma vez, não tem maioria. Em Israel, há um Governo minoritário ilegítimo e que não funciona”, disse o líder da oposição, Yair Lapid.O primeiro-ministro perdeu a maioria no Parlamento israelita em julho, depois de o partido ultraortodoxo Judaísmo Unido da Torá (e o único deputado do Noam) terem deixado a coligação. Já o Shas deixou o Governo, mas ainda o apoia no Parlamento. Em causa está o desacordo com o recrutamento dos homens desta minoria religiosa (que se dedicam ao estudo e à oração). Depois de décadas isentos de cumprir o serviço militar obrigatório, o Supremo Tribunal de Israel concluiu que isso era ilegal. “Não permitiremos, por um lado, que centenas de milhares de reservistas sejam convocados repetidamente sob ordens de convocação de emergência e, por outro lado, que o governo promova a evasão em massa do alistamento militar”, indicou o opositor Avigdor Lieberman, numa altura em que o Governo ainda tenta chegar a acordo com os ultraortodoxos para conseguir que cumpram o serviço militar.Na terça-feira à noite (12 de agosto), duas centenas de pilotos na reforma ou ainda na reserva protestaram frente ao quartel das IDF em Telavive, exigindo o fim da guerra e um acordo que permita o regresso dos reféns. Pediam a Zamir que mantivesse a sua posição de rejeitar a proposta de ocupação total da Faixa de Gaza - algo que não aconteceu.Enquanto as IDF avançam no plano para ocupar o enclave palestiniano, dirigentes do Hamas estão no Cairo, alegadamente disponíveis para chegar a um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns. Segundo uma fonte anónima egípcia, citada pela EFE, a delegação do grupo terrorista terá mostrado “flexibilidade” quanto à presença de forças árabes e internacionais na Faixa de Gaza, num contexto do fim da guerra, assim como em relação ao futuro da administração do enclave. O presidente francês, Emmanuel Macron, aposta numa missão de estabilidade das Nações Unidas para o território. Segundo a Reuters, Espanha diz que essa proposta é “uma das ferramentas” que pode ajudar a trazer paz e segurança para a região e que essa força “deve ser um passo na construção de uma solução de dois Estados”. Também representantes da Autoridade Palestiniana veem com bons olhos a ideia. Falsos humanitários Israel anunciou esta quarta-feira (13 de agosto) ter matado cinco militantes do Hamas na Faixa de Gaza que fingiam trabalhar para a World Central Kitchen (WCK), a organização de ajuda humanitária norte-americana do chef espanhol José Andrés. “Os terroristas afixaram deliberadamente o emblema e usaram coletes amarelos numa tentativa de esconder as suas atividades e evitar serem alvos, explorando cinicamente o estatuto e a confiança concedidos às organizações humanitárias”, indicaram as IDF.A WCK confirmou que não eram funcionários, condenando todos aqueles que finjam trabalhar para organizações humanitárias, dizendo que isso põe em risco todos os civis e as pessoas que os tentam ajudar. Em dezembro, a organização despediu dezenas de funcionários depois de as IDF alegarem que pelo menos 62 estavam ligados a grupos terroristas. Em abril do ano passado, Israel matou sete funcionários da WCK, incluindo estrangeiros, num ataque contra três veículos da organização.Segundo o balanço diário das autoridades de Saúde de Gaza, controladas pelo Hamas, publicado por volta da hora de almoço, nas últimas 24 horas tinham morrido 123 pessoas em ataques israelitas. A estes somavam-se mais oito por fome extrema, incluindo três crianças. De acordo com o balanço da estação Al-Jazeera, desde a meia-noite já tinham morrido só esta quarta-feira pelo menos 89. .Portugal entre países que pedem que entre mais ajuda em Gaza. Israel nega dados de fome