Hamas fala em incursões israelitas “agressivas” em Gaza e admite presença de força internacional no território
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Hamas fala em incursões israelitas “agressivas” em Gaza e admite presença de força internacional no território

O Ministério da Saúde de Gaza diz que, nas últimas 24 horas, os ataques israelitas provocaram pelo menos 123 mortos e 437 feridos.
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As forças israelitas estão a realizar “incursões agressivas na cidade de Gaza”, declarou, esta quarta-feira, 13 de agosto, um porta-voz do governo do Hamas em Gaza, Ismaïl al-Thawabta, que denunciou uma “escalada perigosa” por parte de Israel.

As incursões decorrem “sobretudo no bairro de Zeitoun e na zona em redor do sul de Tal al-Hawa”, sendo acompanhadas por “bombardeamentos intensos, barreiras de fogo e demolições de casas com moradores no interior, operações que se intensificaram esta semana”, afirmou à agência France-Presse (AFP) o diretor do gabinete de imprensa do governo do Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007.

“Estas agressões representam uma escalada perigosa que visa impor uma nova realidade no terreno pela força, através de uma política de terra queimada”, acrescentou al-Thawabta.

Nesse sentido, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, deu conta de que, nas últimas 24 horas, os ataques israelitas provocaram pelo menos 123 mortos e 437 feridos, balanço que contabiliza também números de terça-feira.

Segundo as autoridades sanitárias de Gaza, cujos números são considerados fidedignos pela ONU, as últimas vítimas que chegaram a hospitais já a abarrotar elevaram para 61.722 o número total de mortos devido à ofensiva israelita em Gaza, dos quais 1.859 morreram quando procuravam ajuda humanitária.

O total de feridos ascende agora a 154.525, incluindo 13.594 que, igualmente, se encontravam à procura de alimentos, desde o início da guerra, a 07 de outubro de 2023.

O Ministério da Saúde do Hamas reportou também o aumento das mortes por fome e desnutrição, que já atingem as 235, incluindo 106 crianças.

Só na terça-feira, a instituição registou oito mortes por estas causas, entre as quais três crianças, o grupo populacional mais afetado pela crise, segundo organizações internacionais e as Nações Unidas, que alertam de forma constante para os crescentes níveis de desnutrição infantil no enclave.

Os ataques na Faixa intensificaram-se depois de, na sexta-feira passada, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ter apresentado o novo plano militar para o território palestiniano, hoje aprovado pelas Forças de Defesa de Israel (FDI).

O chefe do exército israelita, aliás, aprovou o novo plano de operações militares “a realizar em Gaza”, anunciaram hoje as FDI, após o responsável ter manifestado inicialmente reservas quanto às intenções do Governo de Benjamin Netanyahu.

"O chefe do Estado-Maior, tenente-general Eyal Zamir, realizou hoje uma reunião durante a qual aprovou o quadro principal do plano operacional do exército na Faixa de Gaza", segundo um comunicado do exército israelita.

O gabinete de segurança israelita, órgão responsável pela gestão da ofensiva em Gaza, aprovou na sexta-feira passada um plano para tomar o controlo da cidade de Gaza, onde se estima que vivam entre 800.000 e um milhão de palestinianos.

A nova fase das operações militares em Gaza tem como objetivos, segundo o Governo de Benjamin Netanyahu, libertar todos os reféns israelitas e derrotar o movimento islamita palestiniano Hamas.

A esta situação junta-se o acesso limitado à ajuda humanitária, que agrava ainda mais a condição de uma população à beira da fome, como denunciam repetidamente as organizações humanitárias.

Hamas mostra-se “flexível” à presença de força internacional em Gaza

O Hamas “mostrou flexibilidade” quanto à presença de forças árabes e internacionais em Gaza, no contexto de um acordo global para pôr fim à guerra e apoiado também pela Autoridade Palestiniana (AP).

A revelação foi feita por uma fonte egípcia próxima das conversações, que solicitou anonimato à agência EFE, adiantando que o Hamas também se mostrou “flexível” quanto ao futuro da administração da Faixa de Gaza e elogiou o “entendimento” e “o clima positivo” nas conversações que uma delegação da formação palestiniana mantém desde terça-feira no Cairo, sobre uma nova proposta para um cessar-fogo com Israel.

Segundo a fonte, a “flexibilidade” demonstrada pela delegação do Hamas relativamente à eventual presença de forças internacionais e árabes em Gaza, com tarefas específicas até que a polícia esteja equipada e se restabeleça a segurança “reflete um entendimento de princípios e um clima positivo”.

A fonte adiantou, por outro lado, que o Cairo “compreende” a insistência do Hamas em manter “a arma da resistência nesta fase” e indicou que haverá um acordo sobre quadros específicos da missão das forças internacionais que entrarão na Faixa, bem como sobre a natureza das ações da resistência, que deverá respeitar a trégua e não iniciar ataques contra as forças israelitas.

A nova proposta, elaborada com o apoio da Turquia, inclui a libertação de todos os reféns israelitas em troca da de prisioneiros palestinianos em Israel, além da suspensão do braço militar do Hamas no âmbito de um entendimento sobre o futuro de Gaza, disse à EFE, na terça-feira, uma fonte de segurança egípcia.

A proposta contém também, entre outros pontos, um calendário para a retirada israelita de Gaza sob supervisão árabe e norte-americana, até que se alcance uma solução para os problemas da administração da Faixa e o desarmamento do Hamas.

Segundo a fonte próxima das conversações, citada também pela EFE, o Egito e a Jordânia, com o apoio da Turquia, estão a pressionar o Hamas para aceitar um acordo global que ponha fim à guerra e conduza, numa determinada fase, ao desarmamento da resistência, numa referência ao movimento de resistência islâmico e a outras fações e milícias palestinianas operacionais em Gaza.

A fonte sublinhou ainda que responsáveis dos serviços de informações egípcios informaram a delegação do Hamas da proposta abrangente para pôr fim à guerra através de um acordo em duas fases.

A primeira inclui um entendimento para a troca de todos os detidos, prisioneiros palestinianos e reféns israelitas, e a segunda, um mecanismo para garantir a segurança de Gaza no futuro.

A ministra dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana, Varsen Aghabekian, apoiou hoje a possibilidade de um grupo de países que, em conjunto com as Nações Unidas, possam estabelecer uma "missão de paz" na Faixa de Gaza.

A ministra, que não especificou nem os pormenores nem o formato da eventual força internacional, referiu, em concreto, que França, Egito, Turquia, Jordânia, Itália e Reino Unido poderiam formar uma "força de estabilização" em Gaza em paralelo com a ONU.

As declarações da ministra palestiniana ocorrem depois de o Presidente francês, Emmanuel Macron, ter defendido uma "força internacional temporária de estabilização" para o território palestiniano, alvo de uma ofensiva israelita desde outubro de 2023.

Recentemente, o Governo israelita anunciou que vai assumir o controlo da cidade de Gaza, onde vivem cerca de um milhão de residentes, que seriam deslocados, uma medida criticada pela maioria da comunidade internacional, pela União Europeia e pelas Nações Unidas.

 A ofensiva israelita em Gaza começou depois dos ataques do Hamas, no poder no enclave desde 2007, em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, nos quais morreram cerca de 1.200 pessoas e perto de 250 foram feitas reféns, das quais cerca de 50, incluindo 20 com vida, permanecem detidas.

Desde então, a operação militar israelita causou já mais de 61 mil mortos, a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas, perante acusações de genocídio por vários países e organizações.

A ONU tem alertado para uma situação de fome generalizada no enclave, onde Israel bloqueou a entrada de ajuda humanitária desde há meses e que retomou recentemente, apesar de a União Europeia (UE) e organizações humanitárias reclamarem que a quantidade é insuficiente para suprir as necessidades da população de mais de dois milhões de pessoas.

Israel, Estados Unidos e União Europeia consideram o Hamas como uma organização terrorista.

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