O presidente angolano afirmou que Angola “olha para o mundo (...) com apreensão”, criticando “a confrangedora banalização da vida humana” nas guerras e a “impotência” das Nações Unidas face aos conflitos mundiais.“Olhamos para o mundo de hoje com apreensão, porque assistimos a uma confrangedora banalização da vida humana nas guerras e nos conflitos que assolam este nosso planeta”, afirmou João Lourenço, no discurso do 50.º aniversário da independência de Angola, em Luanda, esta terça-feira, 11 de novembro.O chefe de Estado disse que tudo isso viola as normas do direito internacional e que regem as relações entre os Estados, lamentando que a Organização das Nações Unidas se revele impotente para ajudar a impor a ordem e fazer face aos excessos das grandes potências. .António Costa Silva: “Angola pode criar um epicentro mundial de terras raras”.Lourenço defendeu o multilateralismo, por ser o único modelo inclusivo e capaz de congregar todas as nações do planeta à volta da abordagem dos grandes, e insistiu na necessidade de reforma do sistema das Nações Unidas, por não refletir mais a realidade do equilíbrio de poderes e da configuração geopolítica mundial.O presidente angolano disse que o país tem uma sensibilidade “muito especial” para as questões da guerra, da paz e da liberdade e independência dos povos, por ter passado por essa experiência e vivido várias décadas em conflito, evocando a sua própria história.“Mal tínhamos acabado de vencer o colonialismo português, que nos oprimiu e escravizou durante séculos, tivemos de imediato de enfrentar o regime retrógrado do 'apartheid', que representava uma ameaça permanente aos povos da África Austral e de Angola em particular, por nos ter agredido, invadido e estar assente na ideia da superioridade de uma raça sobre outra e no segregacionismo como modelo de sociedade”, salientou, dizendo que Angola correu “sério risco de ser colonizada duas vezes num tão curto espaço de tempo”.O chefe de Estado recordou que Angola esteve ao lado dos povos da Namíbia, do Zimbabué e da África do Sul, contribuindo para o fim do regime de segregação racial, e apelou ao fim da guerra contra a Ucrânia e à resolução do conflito no Médio Oriente, sublinhando a ”imperiosa necessidade da criação do Estado da Palestina”.O Presidente manifestou também preocupação com a situação no Sahel, no Sudão e na República Democrática do Congo, onde “as guerras ameaçam a balcanização desses países”, bem como com “o flagelo dos golpes de Estado e das mudanças inconstitucionais em África”, que “voltaram a ganhar força e contornos preocupantes”.“Estamos muito preocupados com o reaparecimento e a proliferação de grupos terroristas em determinados pontos do nosso planeta e de África em particular”, lamentou.Ao assinalar o cinquentenário da independência, o presidente angolano pediu a todos os cidadãos para valorizarem as conquistas alcançadas e deixarem para trás “disputas e querelas partidárias”, sublinhando que o desenvolvimento do país “não é realizável em apenas duas décadas de paz”.“Estamos cientes de que há ainda muito por fazer e que a grande obra da promoção do desenvolvimento de Angola não é realizável em apenas duas décadas de paz”, disse João Lourenço, no discurso proferido durante as comemorações do 50.º aniversário da independência, na Praça da República, em Luanda.O chefe de Estado defendeu que os angolanos devem “preservar e valorizar as conquistas alcançadas, para que juntos” possam construir um futuro melhor e “Angola se possa orgulhar dos seus filhos”.João Lourenço destacou também a importância da paz conquistada em 2002: “Uma vez conquistada a paz e criadas as premissas para uma efetiva reconciliação nacional, aproveitemos esta oportunidade única para construirmos juntos uma sociedade inclusiva e com igualdade de oportunidades para todos os cidadãos”.O chefe de Estado considerou essencial que Angola canalize a energia nacional para “a consolidação da economia, o desenvolvimento económico e social do país”, que deve ser o principal foco, apelando: “não deixemos que as disputas e querelas partidárias consumam grande parte do nosso tempo e das nossas energias”.Lourenço defendeu igualmente o “fortalecimento do setor privado e um maior investimento na educação, para reduzir o analfabetismo e “retirar ao máximo possível as crianças que se encontram fora do sistema de ensino”.“Precisamos todos de trabalhar mais e melhor e de criar a consciência de que o progresso e o desenvolvimento não vêm apenas da ação dos governos, mas sim do esforço coletivo e conjugado de toda a sociedade”, acrescentou.Lourenço sublinhou que o país está “a dar passos firmes para romper o ciclo de subdesenvolvimento” e apontou o Corredor do Lobito como um projeto de “grande envergadura”, que vai desempenhar um papel decisivo na interconexão com África e “tornar a economia nacional mais robusta e capaz de responder às necessidades do país”.Por outro lado, considerou essencial que o país “valorize os que arregaçam as mangas e fazem acontecer”, sendo estes os merecedores de medalhas que o executivo vai continuar a entregar no âmbito dos 50 anos de independência..António Costa saúda 50 anos da independência de Angola e espera "parceria cada vez mais forte" com UE.Independência de Angola. 50 anos depois pede-se “um só povo, uma só nação”, mas as divisões ainda persistem.Angola proclamou independência entre tiros de festa e combates reais