João Lourenço, presidente de Angola
João Lourenço, presidente de AngolaLusa

Angola. João Lourenço alerta para impotência da ONU e diz que país olha o mundo “com apreensão”

No 50.º aniversário da independência, presidente angolano manifestou preocupação com a "proliferação de grupos terroristas" e pediu valorização de conquistas e superação de disputas partidárias.
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O presidente angolano afirmou que Angola “olha para o mundo (...) com apreensão”, criticando “a confrangedora banalização da vida humana” nas guerras e a “impotência” das Nações Unidas face aos conflitos mundiais.

Olhamos para o mundo de hoje com apreensão, porque assistimos a uma confrangedora banalização da vida humana nas guerras e nos conflitos que assolam este nosso planeta”, afirmou João Lourenço, no discurso do 50.º aniversário da independência de Angola, em Luanda, esta terça-feira, 11 de novembro.

O chefe de Estado disse que tudo isso viola as normas do direito internacional e que regem as relações entre os Estados, lamentando que a Organização das Nações Unidas se revele impotente para ajudar a impor a ordem e fazer face aos excessos das grandes potências.

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Lourenço defendeu o multilateralismo, por ser o único modelo inclusivo e capaz de congregar todas as nações do planeta à volta da abordagem dos grandes, e insistiu na necessidade de reforma do sistema das Nações Unidas, por não refletir mais a realidade do equilíbrio de poderes e da configuração geopolítica mundial.

O presidente angolano disse que o país tem uma sensibilidade “muito especial” para as questões da guerra, da paz e da liberdade e independência dos povos, por ter passado por essa experiência e vivido várias décadas em conflito, evocando a sua própria história.

“Mal tínhamos acabado de vencer o colonialismo português, que nos oprimiu e escravizou durante séculos, tivemos de imediato de enfrentar o regime retrógrado do 'apartheid', que representava uma ameaça permanente aos povos da África Austral e de Angola em particular, por nos ter agredido, invadido e estar assente na ideia da superioridade de uma raça sobre outra e no segregacionismo como modelo de sociedade”, salientou, dizendo que Angola correu “sério risco de ser colonizada duas vezes num tão curto espaço de tempo”.

O chefe de Estado recordou que Angola esteve ao lado dos povos da Namíbia, do Zimbabué e da África do Sul, contribuindo para o fim do regime de segregação racial, e apelou ao fim da guerra contra a Ucrânia e à resolução do conflito no Médio Oriente, sublinhando a ”imperiosa necessidade da criação do Estado da Palestina”.

O Presidente manifestou também preocupação com a situação no Sahel, no Sudão e na República Democrática do Congo, onde “as guerras ameaçam a balcanização desses países”, bem como com “o flagelo dos golpes de Estado e das mudanças inconstitucionais em África”, que “voltaram a ganhar força e contornos preocupantes”.

“Estamos muito preocupados com o reaparecimento e a proliferação de grupos terroristas em determinados pontos do nosso planeta e de África em particular”, lamentou.

Ao assinalar o cinquentenário da independência, o presidente angolano pediu a todos os cidadãos para valorizarem as conquistas alcançadas e deixarem para trás “disputas e querelas partidárias”, sublinhando que o desenvolvimento do país “não é realizável em apenas duas décadas de paz”.

“Estamos cientes de que há ainda muito por fazer e que a grande obra da promoção do desenvolvimento de Angola não é realizável em apenas duas décadas de paz”, disse João Lourenço, no discurso proferido durante as comemorações do 50.º aniversário da independência, na Praça da República, em Luanda.

O chefe de Estado defendeu que os angolanos devem “preservar e valorizar as conquistas alcançadas, para que juntos” possam construir um futuro melhor e “Angola se possa orgulhar dos seus filhos”.

João Lourenço destacou também a importância da paz conquistada em 2002: “Uma vez conquistada a paz e criadas as premissas para uma efetiva reconciliação nacional, aproveitemos esta oportunidade única para construirmos juntos uma sociedade inclusiva e com igualdade de oportunidades para todos os cidadãos”.

O chefe de Estado considerou essencial que Angola canalize a energia nacional para “a consolidação da economia, o desenvolvimento económico e social do país”, que deve ser o principal foco, apelando: “não deixemos que as disputas e querelas partidárias consumam grande parte do nosso tempo e das nossas energias”.

Lourenço defendeu igualmente o “fortalecimento do setor privado e um maior investimento na educação, para reduzir o analfabetismo e “retirar ao máximo possível as crianças que se encontram fora do sistema de ensino”.

“Precisamos todos de trabalhar mais e melhor e de criar a consciência de que o progresso e o desenvolvimento não vêm apenas da ação dos governos, mas sim do esforço coletivo e conjugado de toda a sociedade”, acrescentou.

Lourenço sublinhou que o país está “a dar passos firmes para romper o ciclo de subdesenvolvimento” e apontou o Corredor do Lobito como um projeto de “grande envergadura”, que vai desempenhar um papel decisivo na interconexão com África e “tornar a economia nacional mais robusta e capaz de responder às necessidades do país”.

Por outro lado, considerou essencial que o país “valorize os que arregaçam as mangas e fazem acontecer”, sendo estes os merecedores de medalhas que o executivo vai continuar a entregar no âmbito dos 50 anos de independência.

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