"Vale a pena a independência, por isso estamos aqui. Não queremos que as coisas fiquem paradas e queremos que as promessas ditas na independência, de Cabinda ao Cunene, um só povo, uma só nação, que isto seja uma realidade”, afirmou na quinta-feira o arcebispo emérito do Lubango, Zacarias Kamuenho, à margem do Congresso Nacional da Reconciliação, promovido pela Conferência Episcopal de Angola e São Tomé. “Isso é aquilo que os pais da nação sonharam e todos nós sonhamos, particularmente nós que vivemos a hora da independência, que Angola se reencontre e não algumas coisas que temos visto que não dignificam a nossa unidade nem dignificam a angolanidade”.Na mesma linha, o ex-presidente da UNITA Isaías Samakuva considerou que os angolanos ainda não têm o país sonhado pelos nacionalistas que lutaram pela independência, que Angola deve “virar a página com comprometimento” e construir um novo caminho para o futuro. Numa entrevista dada no final de setembro à Lusa, o presidente da Fundação Jonas Savimbi sublinha que “precisamos de dialogar. E temos de ter um ponto de partida”. “Para mim, o ponto de partida seria concordarmos todos que errámos, e neste processo não interessa e nem vale a pena procurarmos os culpados. Porque costumo dizer que os culpados fomos todos nós e acabámos por ser todos nós vítimas também”, prosseguiu Samakuva, acrescentando que a reconciliação em Angola “não está perfeita, está a meio caminho”. Reflexo de que estes 50 anos de independência de Angola, que se completam esta terça-feira (11 de novembro) e que abarcam uma guerra civil entre 1975 e 2002, ainda não se vivem num tempo de reconciliação são as polémicas que se têm verificado nos últimos meses com as celebrações desta data histórica. Começando pela decisão, anunciada há menos de um mês pelo presidente angolano, João Lourenço, de que os líderes históricos Jonas Savimbi (UNITA) e Holden Roberto (FNLA), signatários do Acordo de Alvor, seriam condecorados com a Medalha Comemorativa dos 50 Anos da Independência Nacional, o que aconteceu na quinta-feira. Uma decisão que surgiu após críticas e polémica pela ausência destes dois nomes nas listas de condecorações já atribuídas e que Lourenço justificou como sendo um tributo “ao espírito do perdão, da paz e da reconciliação nacional”. O terceiro signatário do Alvor, Agostinho Neto, do MPLA, partido que está no poder desde a independência, também será distinguido, mas esta terça-feira. .“Para nós, 50 não é apenas um número, é sinónimo de reconhecimento da nossa história de lutas, de eternização do nosso passado glorioso, é sinónimo de paz, de perdão e de vontade de nos reerguermos juntos para concretizarmos os nossos sonhos, é sinónimo de reafirmação do compromisso com os valores da Pátria, de confirmação da nossa esperança e de reafirmação da nossa confiança, é sinónimo da nossa certeza de que Angola unida, vai vencer!”, referiu ainda o presidente angolano. Outra das polémicas relacionadas com as celebrações prende-se com a organização de um amigável entre as seleções de futebol de Angola e da Argentina de Lionel Messi, com associações da sociedade civil angolanas a denunciarem os “elevados gastos” destinados a este jogo, agendado para sexta-feira (14 de novembro), e à “reabilitação do Estado Nacional”, considerando que há má gestão dos “recursos públicos”. “Segundo informações divulgadas, o Estado angolano terá gasto entre 10 e 12 milhões de dólares [cerca de 8,6 e 10,4 milhões de euros] para assegurar a presença da seleção argentina em Luanda, somados a aproximadamente 13,6 milhões de dólares [11,75 milhões de euros] investidos na segunda fase das obras de requalificação do estádio”, denunciam as associações, sublinhando que o montante estimado “esbarra de forma flagrante com a grave realidade socioeconómica que o país enfrenta”.Fogo-de-artifício portuguêsDez mil convidados e 45 delegações estrangeiras assistem esta terça-feira em Luanda ao ato central das comemorações do 50.º aniversário da independência de Angola, que tiveram início em fevereiro de 2024 e terminam no próximo dia 31 de dezembro. A cerimónia, que terá lugar na Praça da República, contará com delegações de todas as 18 províncias angolanas e representações estrangeiras, incluindo chefes de Estado, vice-presidentes, primeiros-ministros e ministros dos Negócios Estrangeiros. O Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, será um dos dignatários presentes, tendo participado nas celebrações das independências dos países de língua oficial portuguesa das antigas colónias. .No programa desta terça-feira está um desfile cívico com cerca de 6000 participantes, representando “os mais diferentes segmentos da sociedade angolana”, seguindo-se um desfile militar, com 4000 efetivos das Forças Armadas Angolanas e da Polícia Nacional, que encerra com a apresentação da música oficial dos 50 anos.A cerimónia inclui ainda a condecoração póstuma com a Medalha de Honra a Agostinho Neto, proclamador da independência e primeiro chefe de Estado angolano, bem como a mensagem à nação de João Lourenço.Antes do ato central, está previsto o hastear da bandeira nacional no Museu de História Militar, seguindo-se uma homenagem no sarcófago do Memorial Dr. António Agostinho Neto, com a presença de João Lourenço e dos chefes de Estado convidados.De acordo com o ministro de Estado Adão de Almeida, o evento congrega “os vários Estados que ajudaram a Angola na luta pela libertação nacional e que ajudam hoje Angola no quadro da cooperação internacional para o desenvolvimento”, reforçando o caráter diplomático e simbólico das comemorações.A organização prevê a mobilização de autocarros para transporte dos convidados a partir dos parques de estacionamento, e um dispositivo de cerca de 4000 agentes das forças de segurança para garantir a ordem pública.Haverá ainda fogo-de-artifício, que terá mão portuguesa, através do grupo Pirotecnia Minhota, que será responsável pelo espectáculo de 12 minutos, sincronizado com música, que cobrirá cerca de 250 metros da Baía de Luanda. Com Lusa .António Mateus: “Os soldados não protegeram a população e fecharam os olhos aos apoios militares cubanos”.Marcelo reforça laços com Angola: "Os governantes passam, as leis passam, mas os povos ficam"