O primeiro-ministro francês recebeu esta terça-feira boas notícias de Bruxelas, com a Comissão Europeia a dar luz verde ao seu orçamento para 2025. Mas a situação em casa é bem mais complicada, pois a líder da extrema-direita Marine Le Pen ameaçou deitar abaixo o governo de Michel Barnier até ao final do ano caso o documento não sofra alterações..“Se o orçamento ficar como está, votaremos uma moção de censura”, declarou a líder parlamentar do Reunião Nacional na segunda-feira, após uma reunião de quase uma hora com Michel Barnier. “Se o governo colapsar, o presidente da República terá que escolher um novo primeiro-ministro”. .No encontro, Marine Le Pen disse ter apresentado a Barnier as “linhas vermelhas” do seu partido em relação ao orçamento, que passam pelo abandono do aumento dos impostos sobre a electricidade e o adiamento da subida de certas pensões para cobrir a inflação..“Veremos se as propostas de hoje [segunda-feira] serão levadas em conta, mas nada é certo”, afirmou, acrescentando que o primeiro-ministro parecia estar “fixado na sua posição”. Michel Barnier tem estado a reunir-se com os vários líderes partidários de forma a tentar garantir a aprovação do orçamento do seu governo minoritário na Assembleia Nacional. No entanto, em França especula-se cada vez mais que o primeiro-ministro poderá usar o artigo 49.3 da Constituição para forçar a aprovação do documento para 2025 sem uma votação parlamentar..A Nova Frente Popular, a coligação de esquerda que saiu vencedora das eleições legislativas antecipadas de junho, já anunciou que se Barnier recorrer a este mecanismo legal para aprovar o orçamento avançará com uma moção de censura. “O nosso objetivo é simples: proteger os nossos concidadãos do impacto de um orçamento que não irá abrir caminho para um novo futuro para o país, mas sim prolongar a divisão social, a irresponsabilidade ecológica e a brutalidade democrática”, explicou a NFP. Marine Le Pen deu agora a entender que a Reunião Nacional poderá seguir pelo mesmo caminho - segundo a BFMTV o partido deverá tomar uma decisão numa reunião a 18 de dezembro. .Caso, os deputados da Nova Frente Popular e da Reunião Nacional votem uma moção de censura é certa a sua aprovação, colocando um ponto final no curto governo de Michel Barnier - tomou posse há menos de três meses. O primeiro-ministro francês já comentou uma possível aliança entre a extrema-direita e o bloco da esquerda para derrubar o seu governo, chamando-lhe uma “coligação de opostos”. .A queda do governo e a não aprovação do orçamento terá um impacto a nível interno, mas também na zona euro, como já alertou o ministro do Interior, Bruno Retailleau: “Se amanhã o governo entrar em colapso por causa do orçamento, haverá imediatamente uma crise financeira (...) Não pensem que a França está protegida”..As finanças públicas francesas estão um caos e o défice passa os 6%, o dobro do permitido por Bruxelas, o que levou Barnier a elaborar um orçamento que não agrada sequer aos aliados de Emmanuel Macron. “Temos de respeitar as regras da zona euro porque, caso contrário, quando um dos países não as respeitar - vimos o que aconteceu com a Grécia - tudo pode explodir”, disse Barnier na sexta-feira, citado pelo Politico.