A empresa farmacêutica Kenvue, fabricante do paracetamol mais usado nos Estados Unidos, Tylenol, rejeitou na segunda-feira, 22 de setembro, a associação entre o seu uso por grávidas e o autismo infantil, feita pelo presidente Donald Trump. "Discordamos veementemente de qualquer sugestão contrária à ciência independente", disse Melissa Witt, porta-voz da Kenvue, ao The New York Times. "Estamos profundamente preocupados com o risco que isto representa para a saúde das mulheres grávidas", acrescentou Witt. Ladeado por Robert F. Kennedy Jr., secretário da Saúde e um dos rostos do movimento antivacinas no país, Trump sugeriu na Casa Branca a imposição de limites ao uso de paracetamol durante a gravidez, citando o medicamento como uma possível causa do autismo, apesar de esta ligação causal ter sido investigada e não estar comprovada, refere a agência AP. .Trump anuncia que investigadores americanos associam consumo de paracetamol na gravidez ao autismo.Trump disse que o paracetamol, analgésico amplamente utilizado e recomendado, está "possivelmente associado a um risco muito maior de autismo" e que as mulheres não devem tomá-lo, "durante toda a gravidez". "Não tomem", apelou Trump na Casa Branca, numa comunicação apresentada como "um grande anúncio" sobre autismo, que tem estado a aumentar acentuadamente no país nos últimos anos. Segundo Trump, a agência para os medicamentos e alimentação (FDA, na sigla em inglês) vai começar a notificar os médicos de que o uso de paracetamol "pode estar associado" a um risco acrescido de autismo, sem apresentar qualquer prova médica que fundamente a nova recomendação. Em alternativa, apresentou rumores de que "praticamente não há autismo" em Cuba porque o país não tem condições para comprar Tylenol, a marca mais popular de paracetamol. Os especialistas afirmam que o aumento de casos nos Estados Unidos se deve sobretudo a uma nova definição para a perturbação, que passa a incluir casos ligeiros num "espectro" e diagnósticos mais precisos, e que não existe uma causa única, refere a AP. O presidente do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (HHS), Steven Fleischman, afirmou na segunda-feira que as sugestões de que o uso de Tylenol na gravidez causa autismo são "irresponsáveis, considerando a mensagem prejudicial e confusa que transmitem às pacientes grávidas". "O anúncio de hoje (segunda-feira) do HHS (Departamento de Saúde) não é apoiado por todas as provas científicas e simplifica perigosamente as muitas e complexas causas dos problemas neurológicos nas crianças", disse Fleischman em comunicado citado pela AP. "É altamente preocupante que as nossas agências federais de saúde estejam dispostas a fazer um anúncio que afetará a saúde e o bem-estar de milhões de pessoas sem o suporte de dados fiáveis", criticou. .Infarmed diz não existir relação entre o uso de paracetamol por grávidas e malformações no feto ou nos recém-nascidos .A Autoridade Nacional do Medicamento, Infarmed, esclareceu esta terça-feira que não existe relação entre o uso de paracetamol por grávidas e malformações no feto ou nos recém-nascidos, rejeitando a associação feita por Trump entre o medicamento e autismo."Uma grande quantidade de dados provenientes de mulheres grávidas que utilizaram este medicamento durante a gestação indica que não existe risco de malformações no feto em desenvolvimento nem nos recém-nascidos", refere o Infarmed.Em comunicado, a Autoridade Nacional do Medicamento afirma que, "atualmente, não existem novas evidências que justifiquem alterações às recomendações da UE relativamente" ao uso do paracetamol.É referido que, "em 2019, a Agência Europeia do Medicamento (EMA na sigla em inglês) reviu os estudos disponíveis que investigaram o neurodesenvolvimento de crianças expostas ao paracetamol in utero e concluiu que os resultados eram inconclusivos e que não foi possível estabelecer uma ligação com perturbações do neurodesenvolvimento".Em caso de dúvidas sobre qualquer medicamento durante a gestação, o Infarmed aconselha as grávidas a falar com o seu profissional de saúde."A EMA e as autoridades nacionais competentes na UE, como o Infarmed, continuarão a monitorizar a segurança dos medicamentos que contêm paracetamol e a avaliar rapidamente quaisquer novos dados que surjam", lê-se na nota, dando conta que serão tomadas medidas "sempre que se justifique, de forma a proteger a saúde pública"..OMS e EMA dizem que ligações entre paracetamol e autismo são "inconsistentes"."As provas continuam inconsistentes", disse o porta-voz da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tarik Jašarević. A declaração foi proferida numa conferência de imprensa quando questionado sobre o uso de paracetamol na gravidez e o autismo. Jašarević disse ainda que as "vacinas não causam autismo", sublinhando que as vacinasm salvam vidas. "É algo que a ciência já provou, e estas coisas não devem ser realmente questionadas", defendeu.Para a Agência Europeia do Medicamento (EMA), "as evidências disponíveis não encontraram nenhuma ligação entre o uso de paracetamol durante a gravidez e o autismo". Em comunicado, a EMA indicou que o paracetamol pode ser usado durante a gravidez quando necessário, embora na menor dose e com a menor frequência possível..FDA anuncia o início da aprovação de um novo tratamento para crianças com autismo. Também na segunda-feira, a FDA anunciou o início da aprovação de leucovorina como tratamento para crianças com autismo e deficiência de folato (DFC) no cérebro. De acordo com a FDA, este medicamento genérico, utilizado para tratar doentes com cancro e anemia, entre outras condições, pode ajudar as crianças com autismo a melhorar a sua comunicação verbal. A FDA refere que está a trabalhar com a farmacêutica GSK, fabricante do Wellcovorin (leucovorina cálcica), para a utilização segura e eficaz deste medicamento em doentes adultos e pediátricos com DFC, alargando a bula existente..Estados Unidos vão avançar com estudo para averiguar eventuais ligações entre vacinas e autismo