A fronteira de Rafah, a única passagem entre Gaza e o Egito, voltou ao centro da disputa entre Israel e as autoridades palestinianas este sábado, 18 de outubro, depois de versões contraditórias sobre a sua reabertura.A embaixada palestiniana no Egito anunciou que o posto fronteiriço reabriria na segunda-feira, mas apenas para permitir o regresso de palestinianos a Gaza. A saída do território, segundo a mesma fonte, continuaria bloqueada.Minutos depois, o gabinete do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu contrariou a informação, afirmando que Rafah permanecerá fechado “até nova ordem”, e que qualquer decisão dependerá de como o Hamas “cumprir o compromisso de devolver todos os corpos dos reféns mortos”, reporta a agência Associated Press.A confusão surgiu após o Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita ter indicado, na quinta-feira, que o cruzamento poderia reabrir já no domingo, um dos passos mais aguardados desde o início do frágil cessar-fogo.Um ponto vital e simbólicoRafah é a única fronteira de Gaza que não estava sob controlo israelita antes da guerra e tem estado encerrada desde maio de 2024, quando Israel assumiu o domínio do lado palestiniano. A sua reabertura completa seria crucial para que milhares de habitantes em Gaza pudessem viajar, receber cuidados médicos no Egito ou reencontrar familiares.Enquanto os diplomatas discutem Rafah, as equipas de resgate continuam a procurar corpos sob os escombros. Mais de 68 mil palestinianos foram mortos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, e milhares continuam desaparecidos, de acordo com o Comité Internacional da Cruz Vermelha.O ministério, controlado pelo Hamas, não distingue entre civis e combatentes nas suas estatísticas, mas as Nações Unidas consideram os registos geralmente fiáveis. Israel contesta os números, sem apresentar uma contagem alternativa.O conflito começou em 7 de outubro de 2023, quando militantes do Hamas mataram cerca de 1.200 pessoas em Israel e raptaram 251.Corpos de reféns e acusações mútuasIsrael confirmou este sábado que os restos mortais do refém Eliyahu Margalit, de 76 anos, foram identificados. Margalit foi sequestrado do kibutz Nir Oz durante o ataque inicial e os seus restos foram encontrados em Khan Younis.O caso de Margalit soma-se à entrega de 28 corpos de reféns por parte do Hamas — um dos pontos centrais do acordo de cessar-fogo, que também inclui a entrada de ajuda humanitária e o futuro político de Gaza.Em contrapartida, Israel devolveu 15 corpos palestinianos às autoridades locais, elevando o total entregue desde o início do cessar-fogo para 135, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.Cessar-fogo sob tensãoEntretanto, o Hamas acusa Israel de continuar ataques e de violar o cessar-fogo, afirmando que 38 palestinianos foram mortos desde que o acordo entrou em vigor. Israel não respondeu oficialmente, mas mantém controlo sobre cerca de metade do território.Na sexta-feira, nove pessoas — incluindo mulheres e crianças — morreram quando o veículo em que seguiam foi atingido por fogo israelita em Gaza City, de acordo com os serviços de Defesa Civil locais. Israel alegou que se tratava de um “veículo suspeito” que atravessou uma zona militar e que os tiros foram de aviso.Ajuda humanitária aquém do prometidoO Hamas pede mais ajuda e o levantamento total do bloqueio. Segundo dados das Nações Unidas, apenas 339 camiões de assistência foram descarregados em Gaza desde o início do cessar-fogo, muito abaixo dos 600 diários previstos no acordo.Já a COGAT, entidade israelita responsável pela coordenação da ajuda, apresentou números mais elevados — 950 camiões na quinta-feira e 716 na quarta-feira — incluindo entregas comerciais.Apesar dos esforços internacionais, a fome continua a agravar-se: peritos da ONU já declararam fome generalizada em Gaza City, e mais de 400 pessoas, incluindo 100 crianças, morreram de causas relacionadas com a desnutrição.Israel insiste que permite a entrada de alimentos suficientes e acusa o Hamas de desviar parte da ajuda..Israel identifica corpo de refém entregue pelo Hamas.Hamas quer manter controlo da segurança em Gaza e não garante desarmamento