Citando Leão I, papa do século V, Leão XIV lembrou que “o nascimento do Senhor é o nascimento da paz”. Na sua primeira mensagem de Natal desde que em maio foi eleito, Robert Francis Prevost aproveitou ao seu discurso Urbi et Orbi - à Cidade e ao Mundo - para renovar o seu apelo à paz e ao diálogo, numa volta ao mundo pelos conflitos, mais ou menos esquecidos. O papa americano rezou pela “justiça, paz e estabilidade para o Líbano, a Palestina, Israel e a Síria”. Também a guerra na Ucrânia não foi esquecida na mensagem que Leão XIV deixou aos fiéis reunidos na praça de São Pedro no Vaticano e aos muitos mais que o ouviam mundo fora. O papa pediu que “o clamor das armas se cale” e que todos os envolvidos no conflito que está quase a entrar no seu quinto ano, a 22 de fevereiro de 2026, encontrem a coragem para se envolverem num “diálogo sincero, direto e respeitoso”, com o apoio da comunidade internacional. Ora se Médio Oriente e Ucrânia dominam a atenção mediática, outros conflitos decorrem longe das câmaras de televisão e das páginas dos jornais. Foi estes que Leão XIV quis lembrar, mostrando-se solidário com as vítimas da violência no Sudão, Sudão do Sul, Mali, Burkina Faso e República Democrática do Congo. O papa chamou a atenção para o destino de todos os que sofrem em consequência da injustiça, da instabilidade política, das perseguições religiosas ou do terrorismo. O Haiti, assolado pela violência de gangues, foi evocado por Leão XIV, que apelou a que as partes envolvidas caminhem para a paz. Reconciliação foi também o que o chefe d Igreja Católica desejou para Myanmar (a antiga Birmânia), falando em esperança para as novas gerações. O país, que desde o golpe de 2020 é liderado por uma junta militar e se viu envolvido numa guerra civil, vai este domingo a votos na primeira fase de umas eleições que a oposição denuncia como uma farsa.Citando 15 países, o papa mencionou especificamente “aqueles que perderam tudo, como o povo de Gaza” e “aqueles que são assolados pela fome e pela pobreza, como o povo do Iémen”. Leão XIV falou ainda dos “muitos migrantes que atravessam o Mediterrâneo ou viajam pelo continente americano” em busca de futuro melhor. E rezou pela “restauração da antiga amizade entre Tailândia e Camboja”, cujo conflito só nas últimas duas semanas já provocou mais de 40 mortos.Na sua mensagem, o papa lembrou “as populações do Sul asiático e da Oceânia, duramente provadas pelas recentes e devastadoras calamidades naturais”. E apelou: “Perante tais provações, convido todos a renovar com convicção o nosso empenho comum em socorrer quem sofre.”Um mês após a sua primeira viagem à Turquia e ao Líbano, o papa dirigiu uma mensagem especial aos cristãos do Médio Oriente: “Ouvi os vossos receios e estou bem ciente do vosso sentimento de impotência perante dinâmicas de poder que estão fora do vosso controlo”. E deixou um apelo a todos os cristãos: “Irmãs e irmãos, eis o caminho da paz: a responsabilidade. Se cada um de nós, a todos os níveis, em vez de acusar os outros, reconhecesse em primeiro lugar as próprias falhas, pedisse perdão a Deus e, ao mesmo tempo, se colocasse no lugar dos que sofrem, mostrando-se solidário com os mais fracos e oprimidos, então o mundo mudaria.”Natal é “festa da fé, da caridade e da esperança”Na Missa do Galo, o papa já havia lamentado “uma economia distorcida” que “induz a tratar os homens como mercadoria”. Na sua homilia, Leão XIV citou as palavras do papa Bento XVI, segundo o qual “enquanto a noite do erro obscurece esta verdade providencial, também não há espaço para os outros, para as crianças, os pobres, os estrangeiros”.“As palavras do papa Bento XVI, tão atuais, lembram-nos que na terra não há espaço para Deus se não houver espaço para o Homem: não acolher um significa rejeitar o outro. Em contrapartida, onde há lugar para o Homem, há lugar para Deus”, afirmou Robert Francis Prevost. O papa americano afirmou ainda que, com o nascimento de Jesus, “Deus dá ao mundo uma nova vida, a sua, para todos” e “não é uma ideia que resolve todos os problemas, mas uma história de amor que nos envolve”.O papa explicou que Deus, “perante as expectativas dos povos, envia uma criança, para que seja palavra de esperança; perante a dor dos miseráveis”. “Ele envia um indefeso, para que seja força para se levantar; perante a violência e a opressão, Ele acende uma luz suave que ilumina com a salvação todos os filhos deste mundo”, acrescentou.E “enquanto uma economia distorcida induz a tratar os homens como mercadoria, Deus torna-se semelhante a nós, revelando a dignidade infinita de cada pessoa. Enquanto o homem quer tornar-se Deus para dominar o próximo, Deus quer tornar-se homem para nos libertar de toda a escravidão”, acrescentou.Antes da missa, Leão XIV saudou os 5.000 fiéis que esperavam na praça de São Pedro, apesar da chuva, para acompanhar a missa do Galo através dos ecrãs. “A Basílica de São Pedro é muito grande, mas não tão grande a ponto de receber todos vocês. Por isso, obrigado pela vossa coragem em esperar aqui esta tarde”, disse o papa em inglês ao sair para a Praça de São Pedro antes de celebrar a missa no interior. Passando para italiano, Leão XIV acrescentou: “Obrigado por terem vindo também neste tempo. Vamos celebrar a festa do Natal. O menino que nasceu e que nos traz a paz, nos traz o amor de Deus”.No final da homilia, rematou: “o Natal é uma festa da fé, da caridade e da esperança”. .Papa Leão XIV entre os mais bem vestidos de 2025