A Moldávia atingiu recentemente um importante marco democrático, ao celebrar 34 anos de independência da União Soviética. Este domingo, 28 de setembro, os moldavos têm perante si um novo evento determinante para o futuro da sua democracia quando forem votar para as eleições parlamentares, cujo resultado irá estabelecer se este pequeno país de 2,4 milhões de pessoas localizado entre a fronteira leste da União Europeia e a Ucrânia irá continuar no seu caminho em direção à adesão ao bloco comunitário ou ceder à interferência da Rússia. “As eleições parlamentares de 2025 na Moldávia decorrem num momento crucial e decisivo. O país deixou de abraçar o simbolismo do 'estatuto de candidato' e passou a aprofundar a mecânica da adesão à UE, com Bruxelas a preparar-se para abrir a primeira ronda de negociações. Para Chisinau, cada passo da UE transforma a aspiração em resiliência; para Moscovo, torna a Moldávia mais difícil de coagir e mais dispendiosa de desestabilizar. As eleições são o ponto de pressão onde a política interna, a interferência russa e o projeto europeu se cruzam”, explica Oana Popescu-Zamfir, diretora do GlobalFocus Center em Bucareste, numa análise no think tank Carnegie Europe. O pró-europeu Partido de Acção e Solidariedade (PAS) da presidente Maia Sandu está a defender a sua maioria parlamentar (61 deputados em 101), mas as sondagens mais recentes apontam que continuará a ser o maior partido, podendo, porém, ter dificuldades em manter o domínio do Parlamento, precisando de encontrar uma coligação com outras forças políticas, abrindo o caminho para forças eurocéticas e pró-russas. O seu maior oponente é o pró-russo Bloco Patriótico, liderado pelo antigo chefe de Estado Igor Dondon, que Sandu derrotou em 2020. Esta coligação registada oficialmente no final de agosto e que reúne o Partido dos Socialistas, o Partido dos Comunistas, além do Partido Futuro da Moldova e o Partido Republicano Coração da Moldova, viu este último ser proibido de concorrer pela comissão eleitoral. O mesmo aconteceu a um outro partido pró-russo, o Moldova Mare, em ambos os casos citando alegações de financiamento ilegal, suborno de eleitores e fundos estrangeiros não declarados. Há ainda que ter em conta o bloco Alternativa, liderado pelo presidente da Câmara de Chisinau, Ion Ceban, que tem tentado atrair um eleitorado do centro desiludido com o PAS. Este bloco apresenta-se como sendo nominalmente pró-europeu, mas é acusado de querer roubar o apoio ao partido de Maia Sandu e manter a influência russa. Sem uma maioria sólida, um próximo governo liderado pelo PAS irá enfrentar dificuldades em concluir reformas económicas e políticas para aderir à UE, continuando a lidar com a pobreza, a alta inflação e um número relativamente elevado de refugiados ucranianos. Por outro lado, se o PAS sair derrotado, a presidente pró-europeia poderá ser obrigada a partilhar o poder com o pró-russo Dodon, que poderá vir a ser primeiro-ministro. “Os resultados destas eleições vão definir o futuro do país não só nos próximos quatro anos, mas durante muitos e muitos anos”, afirma Igor Grosu, líder do PAS e potencial futuro primeiro-ministro. Um discurso que é partilhado pelo ainda chefe do governo, Dorin Recean, que classifica as eleições deste domingo como uma "batalha final" para a Moldova. “Há uma pressão constante da Rússia”, declarou à BBC, adiantando que a máquina de desinformação de Moscovo está “a gastar o equivalente a mais de 1% do nosso PIB para derrubar o nosso governo, em propaganda e mensagens falsas.”.A máquina de influência russaDe acordo com fontes de Chisinau citadas por Oana Popescu-Zamfir, de 55 milhões de dólares (cerca de 47 milhões de euros) gastos pelas redes pró-Kremlin para distorcer os processos democráticos em 2023, o valor disparou para cerca de 200 milhões de euros em 2024 e dezenas de milhões adicionais foram acionados este ano. “Moscovo opera num contexto favorável. A Moldova é o país mais pobre da Europa, carece de profundidade estratégica e de um exército sólido, consagra a neutralidade militar na sua Constituição e já alberga cerca de 1.500 soldados russos na Transnístria. Uma pequena região autónoma dentro da Moldova, Gagaúzia, oferece a Moscovo um ponto de entrada conveniente devido à sua influência sobre os representantes locais. A presidente Maia Sandu e o seu Partido de Acção e Solidariedade estão, por isso, a combater não só as condições estruturais adversas, mas também a implacável pressão russa num ambiente regional instável”, prossegue a mesma especialista. A Comissão Europeia considerou na quinta-feira, 25 de setembro, que a Moldova está a enfrentar uma “campanha de desinformação sem paralelo”, e alertou que devem ser os cidadãos a decidir, sem interferência russa. “Estas eleições são decisivas para a Moldova e para o futuro europeu do país […], a mensagem é claríssima: tem de ser o voto dos cidadãos a contar, livre de qualquer interferência”, disse a porta-voz do executivo europeu Anitta Hipper, reconhecendo que há moldavos que estão a ser instruídos pela Rússia para desestabilizar o país, não só difundindo desinformação, mas também criando desacatos com as forças de segurança.Tendo em conta este fator, Bruxelas disse estar “impressionada com a resiliência da Moldova e com todos os esforços que estão a ser feitos pelas autoridades para assegurar a integridade do processo eleitoral”. E garantiu que o bloco dos 27 vai “apoiar a Moldova nos seus esforços para lutar contra uma campanha de desinformação sem paralelo”.A desinformação de Moscovo retrata a integração na União Europeia como imperialismo, as reformas são descritas como doutrinações e os líderes das instituições classificados como estrangeiros, ao mesmo tempo que dão especial enfoque às dificuldades, como o aumento dos preços da energia e da inflação, atirando as culpas à “predadora” UE e aos “corruptos e indiferentes” políticos pró-europeus. Estas são mensagens que são disseminadas nas redes sociais, mas também em debates e ações de campanha dos candidatos pró-russos, que descrevem ainda Moscovo como a alternativa viável e de estabilidade. .O poder da EuropaO perigo do resultado destas eleições é de tal forma elevado foi mencionado pelo presidente da Ucrânia no discurso que fez esta semana perante a Assembleia Geral das Nações Unidas. “Temos de nos lembrar como o mundo ignorou a necessidade de ajudar a Geórgia, após o ataque da Rússia, e como se perdeu a Bielorrússia. A Europa não pode perder a Moldova também”, disse Volodymyr Zelensky, acusando ainda Moscovo de procurar repetir no território moldavo a mesma influência que o Irão exerce sobre o Líbano. A Europa está consciente desse perigo. Prova disso foi a ida do presidente francês, Emmanuel Macron, do chanceler alemão, Friedrich Merz, e do primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, a Chisinau a 27 de agosto para o 34.º aniversário da independência da Moldova, enviando um sinal do apoio europeu à sociedade da antiga república soviética. Macron explicou que a presença dos três líderes tinha como objetivo “enviar ao povo moldavo uma mensagem de respeito, amizade, solidariedade e confiança no futuro” garantindo ainda que “a França continuará a prestar um apoio determinado à Moldova durante as próximas etapas da sua jornada rumo à adesão”.Palavras que encontraram eco na intervenção de Donald Tusk, que se focou também na ameaça russa, as “pessoas más” nas palavras do primeiro-ministro polaco. “Enfrentaram inúmeros desafios, mas não desistiram. Suportaram o frio quando as pessoas más vos cortaram o gás, e vocês prevaleceram, mantiveram-se firmes. Quando as pessoas más provocaram um aumento radical dos preços, vocês aguentaram e, também graças à ajuda da Europa, estabilizaram a situação. Também resistiram às mentiras difundidas na política atual e à propaganda hostil. Escolheram o caminho certo, o caminho europeu”.Por fim, Merz também mencionou as próximas eleições, sublinhando que “a porta da União Europeia está aberta” para a Moldova e prometendo “continuar a apoiá-los neste caminho da melhor forma possível”.“Independentemente do resultado das eleições, a experiência moldava oferece já lições decisivas para a política de alargamento [da UE]. Em primeiro lugar, encoraja-nos a considerar a necessidade de repensar os prazos: num contexto de guerra híbrida, a tradicional lentidão das negociações de adesão torna-se um fator de vulnerabilidade”, nota o cientista político Florent Parmentier numa análise para o think tank Fundação Robert Schuman. “A União Europeia deve aprender a acelerar os seus processos sem sacrificar as suas exigências democráticas, a integrar explicitamente a proteção contra a interferência externa e a guerra híbrida, e a melhorar e repensar as suas políticas de pré-adesão, a fim de gerar benefícios tangíveis e imediatos, os únicos capazes de resistir às promessas demagógicas das forças antieuropeias. Estas são as questões em jogo nas próximas eleições parlamentares na Moldova.”.Na Moldova não é direita vs. esquerda, é UE vs. Rússia .Tusk, Macron e Merz dão a cara por luta contra Putin na Moldova.Quais são os próximos passos da Ucrânia e Moldova no processo de adesão à UE?