Na Moldova não é direita vs. esquerda, é UE vs. Rússia

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No próximo domingo, os moldavos vão a votos para eleger o seu Parlamento. E se dúvidas houvesse sobre a importância deste escrutínio naquela antiga república soviética basta pensar que no final de agosto os líderes da Alemanha, França e Polónia foram a Chisinau em apoio ao projeto europeu da presidente moldava. O chanceler Friedrich Merz, o presidente Emmanuel Macron e o primeiro-ministro Donald Tusk surgiram ao lado de Maia Sandu no 34.º aniversário da independência da Moldova. Uma data simbólica e um sinal inequívoco em vésperas de umas eleições minadas por acusações de ingerência russa e em que mais do que escolher os deputados, os moldavos vão escolher entre a adesão à União Europeia e a aproximação a Moscovo.

“A soberania, a independência, a integridade territorial e o futuro europeu do nosso país estão sob ameaça”, garantiu Sandu no dia 22. E ainda ontem o primeiro-ministro Dorin Recean alertou que a Rússia está a gastar centenas de milhões de euros para “tomar o poder” na Moldova. E descreveu as várias formas pelas quais a Rússia estará a tentar assumir o controlo da Moldova e diminuir o apoio ao pró-europeu Partido de Ação e Solidariedade, que governa o país: orquestração de um esquema de compra de votos em grande escala, mais de mil ciberataques a infraestruturas governamentais críticas desde o início do ano, um plano para incitar tumultos no dia da votação e uma vasta campanha de desinformação online para influenciar os eleitores.

Moscovo nega qualquer ingerência e, na quarta-feira, os serviços de informações externas da Rússia (SVR) acusaram mesmo a UE de ter intenções de “ocupar a Moldova” e a NATO de enviar uma task force para a região ucraniana de Odessa para “intimidar a Transnístria”. República separatista situada numa estreita faixa de terra entre o rio Dniester e a fronteira oriental da Moldova com a Ucrânia, a Transnístria é internacionalmente reconhecida como parte da Moldávia, mas desde uma breve guerra em 1992, funciona como estado independente de facto, com o seu próprio governo, exército, moeda e passaporte. Habitado por muitos eslavos, é uma espécie de satélite da Rússia e potencial ponto de conflito.

Com uma área que é um terço de Portugal e 2,4 milhões de habitantes, a Moldova é um pequeno país da Europa Oriental que, se antes de ser uma república soviética chegou a fazer parte do império russo, reivindica, como a vizinha Roménia com a qual partilha a latinidade, como fundadores os antigos Dácios e os romanos que os derrotaram há quase 2000 anos.

Candidata à adesão à UE desde 2022, a Moldova viu as negociações serem abertas em 2024, juntamente com a Ucrânia. Agora, e com as sondagens a preverem um empate entre o bloco pró-russo e o partido pró-europeu de Sandu, o futuro parece depender de para que lado penderem os indecisos. A Europa, essa, vai ficar a acompanhar com preocupação.

Editora-executiva do Diário de Notícias

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