María Corina Machado
María Corina Machado

María Corina Machado vence Nobel da Paz por manter "chama da democracia acesa no meio da crescente escuridão"

Opositora venezuelana é a escolha do Comité Nobel Norueguês. Havia 338 nomeados. Prémio é entregue em dezembro, não sendo claro se a galardoada, que vive escondida na Venezuela, estará presente.
Publicado a
Atualizado a

A opositora venezuelana María Corina Machado é a vencedora do Prémio Nobel da Paz de 2025 "pelo seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos para o povo da Venezuela e pela sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia".

María Corina Machado, descendente de portugueses, é a líder da oposição ao regime de Nicolás Maduro, vivendo escondida desde as eleições presidenciais de julho de 2024. A oposição reclamou a vitória do seu candidato, Edmundo González (a própria María Corina Machado foi impedida de concorrer), mas autoridades venezuelanas controladas pelo regime atribuíram-na a Maduro.

"A nossa querida Maria Corina Machado, vencedora do Prémio Nobel da Paz 2025! Um merecido reconhecimento da longa luta de uma mulher e de todo um povo pela nossa liberdade e democracia. A primeira Nobel da Venezuela! Parabéns María Corina Machado. A Venezuela será livre!", escreveu Edmundo González no X.

"Chama da democracia acesa"

O anúncio da galardoada foi feito pelo presidente do Comité Nobel Norueguês, Jørgen Watne Frydnes, em Oslo. Havia 338 candidatos nomeados para o Prémio Nobel da Paz deste ano, dos quais 244 eram indivíduos e 94 organizações.

"O Prémio Nobel da Paz de 2025 é atribuído a uma corajosa e empenhada defensora da paz – a uma mulher que mantém a chama da democracia acesa no meio da crescente escuridão", disse Frydnes, acabando logo ali com as expectativas de que o prémio pudesse ser entregue ao presidente norte-americano, Donald Trump, que não escondia o seu desejo de querer o Nobel da Paz.

Questionado pelos jornalistas sobre a campanha de lóbi de Trump, Frydnes disse mais tarde que o comité recebe milhares de cartas todos os anos e toma a sua decisão numa sala "cheia de coragem e integridade".

María Corina Machado
Noruega prepara-se para reação de Trump, se este não ganhar o Nobel da Paz

"Enquanto líder do movimento pela democracia na Venezuela, María Corina Machado é um dos exemplos mais extraordinários de coragem civil na América Latina nos últimos tempos", indicou o presidente do Comité Nobel, dizendo que ela tem sido "uma figura-chave e unificadora numa oposição política que anteriormente estava profundamente dividida".

Frydnes lembrou que a oposição venezuelana "encontrou um ponto em comum na exigência de eleições livres e de um governo representativo", explicando que "a nossa disposição partilhada para defender os princípios do Governo popular, mesmo discordando" é algo que está "no cerne da democracia".

"Numa altura em que a democracia está ameaçada, é mais importante do que nunca defender este ponto em comum", acrescentou.

"A democracia é uma condição prévia para uma paz duradoura. No entanto, vivemos num mundo onde a democracia está em retrocesso, onde cada vez mais regimes autoritários desafiam as normas e recorrem à violência", indicou Frydnes.

"O domínio rígido do regime venezuelano sobre o poder e a sua repressão da população não são únicos no mundo. Observamos as mesmas tendências a nível global: Estado de direito violado por quem o controla, meios de comunicação livres silenciados, críticos presos e sociedades empurradas para o regime autoritário e para a militarização. Em 2024, realizaram-se mais eleições do que nunca, mas cada vez menos eleições são livres e justas", referiu.

"María Corina Machado demonstrou que as ferramentas da democracia são também ferramentas da paz. Personifica a esperança de um futuro diferente, onde os direitos fundamentais dos cidadãos sejam protegidos e as suas vozes sejam ouvidas. Nesse futuro, as pessoas serão finalmente livres para viver em paz", concluiu.

O prémio Nobel da Paz, no valor de 11 milhões de coroas suecas (quase um milhão de euros), será entregue numa cerimónia a 10 de dezembro, não sendo claro se María Corina Machado (que vive escondida na Venezuela) conseguirá estar presente.

"No último ano, María Corina Machado foi obrigada a viver escondida. Apesar das graves ameaças à sua vida, ela permaneceu no país, uma escolha que inspirou milhões. Quando os autoritários tomam o poder, é crucial reconhecer os corajosos defensores da liberdade que se levantam e resistem."

Reações

A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, já deu os parabéns a María Corina Machado pelo prémio. "Muito orgulho na corajosa María Corina Machado por receber o Prémio Nobel da Paz. A sua luta incansável pela liberdade e democracia na Venezuela tocou corações e inspirou milhões em todo o mundo", escreveu no X.

No ano passado, o Parlamento Europeu distinguiu a líder opositora venezuelana e Edmundo González com o Prémio Sakharov.

No ano passado, o prémio foi atribuído à Nihon Hidankyo, organização que reúne os sobreviventes das bombas atómicas de Hiroxima e Nagasáqui, pelos seus esforços "para alcançar um mundo livre de armas nucleares e por demonstrar, através de depoimentos de testemunhas, que as armas nucleares nunca mais devem ser usadas”.

María Corina Machado
Um Nobel da Paz para os “sobreviventes da bomba” a lembrar que o “tabu nuclear” está sob ameaça

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt