A opositora venezuelana María Corina Machado é a vencedora do Prémio Nobel da Paz de 2025 "pelo seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos para o povo da Venezuela e pela sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia".María Corina Machado, descendente de portugueses, é a líder da oposição ao regime de Nicolás Maduro, vivendo escondida desde as eleições presidenciais de julho de 2024. A oposição reclamou a vitória do seu candidato, Edmundo González (a própria María Corina Machado foi impedida de concorrer), mas autoridades venezuelanas controladas pelo regime atribuíram-na a Maduro.."A nossa querida Maria Corina Machado, vencedora do Prémio Nobel da Paz 2025! Um merecido reconhecimento da longa luta de uma mulher e de todo um povo pela nossa liberdade e democracia. A primeira Nobel da Venezuela! Parabéns María Corina Machado. A Venezuela será livre!", escreveu Edmundo González no X.."Chama da democracia acesa"O anúncio da galardoada foi feito pelo presidente do Comité Nobel Norueguês, Jørgen Watne Frydnes, em Oslo. Havia 338 candidatos nomeados para o Prémio Nobel da Paz deste ano, dos quais 244 eram indivíduos e 94 organizações."O Prémio Nobel da Paz de 2025 é atribuído a uma corajosa e empenhada defensora da paz – a uma mulher que mantém a chama da democracia acesa no meio da crescente escuridão", disse Frydnes, acabando logo ali com as expectativas de que o prémio pudesse ser entregue ao presidente norte-americano, Donald Trump, que não escondia o seu desejo de querer o Nobel da Paz. Questionado pelos jornalistas sobre a campanha de lóbi de Trump, Frydnes disse mais tarde que o comité recebe milhares de cartas todos os anos e toma a sua decisão numa sala "cheia de coragem e integridade"..Noruega prepara-se para reação de Trump, se este não ganhar o Nobel da Paz."Enquanto líder do movimento pela democracia na Venezuela, María Corina Machado é um dos exemplos mais extraordinários de coragem civil na América Latina nos últimos tempos", indicou o presidente do Comité Nobel, dizendo que ela tem sido "uma figura-chave e unificadora numa oposição política que anteriormente estava profundamente dividida".Frydnes lembrou que a oposição venezuelana "encontrou um ponto em comum na exigência de eleições livres e de um governo representativo", explicando que "a nossa disposição partilhada para defender os princípios do Governo popular, mesmo discordando" é algo que está "no cerne da democracia". "Numa altura em que a democracia está ameaçada, é mais importante do que nunca defender este ponto em comum", acrescentou."A democracia é uma condição prévia para uma paz duradoura. No entanto, vivemos num mundo onde a democracia está em retrocesso, onde cada vez mais regimes autoritários desafiam as normas e recorrem à violência", indicou Frydnes. "O domínio rígido do regime venezuelano sobre o poder e a sua repressão da população não são únicos no mundo. Observamos as mesmas tendências a nível global: Estado de direito violado por quem o controla, meios de comunicação livres silenciados, críticos presos e sociedades empurradas para o regime autoritário e para a militarização. Em 2024, realizaram-se mais eleições do que nunca, mas cada vez menos eleições são livres e justas", referiu. "María Corina Machado demonstrou que as ferramentas da democracia são também ferramentas da paz. Personifica a esperança de um futuro diferente, onde os direitos fundamentais dos cidadãos sejam protegidos e as suas vozes sejam ouvidas. Nesse futuro, as pessoas serão finalmente livres para viver em paz", concluiu.O prémio Nobel da Paz, no valor de 11 milhões de coroas suecas (quase um milhão de euros), será entregue numa cerimónia a 10 de dezembro, não sendo claro se María Corina Machado (que vive escondida na Venezuela) conseguirá estar presente."No último ano, María Corina Machado foi obrigada a viver escondida. Apesar das graves ameaças à sua vida, ela permaneceu no país, uma escolha que inspirou milhões. Quando os autoritários tomam o poder, é crucial reconhecer os corajosos defensores da liberdade que se levantam e resistem.".Reações A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, já deu os parabéns a María Corina Machado pelo prémio. "Muito orgulho na corajosa María Corina Machado por receber o Prémio Nobel da Paz. A sua luta incansável pela liberdade e democracia na Venezuela tocou corações e inspirou milhões em todo o mundo", escreveu no X. No ano passado, o Parlamento Europeu distinguiu a líder opositora venezuelana e Edmundo González com o Prémio Sakharov..No ano passado, o prémio foi atribuído à Nihon Hidankyo, organização que reúne os sobreviventes das bombas atómicas de Hiroxima e Nagasáqui, pelos seus esforços "para alcançar um mundo livre de armas nucleares e por demonstrar, através de depoimentos de testemunhas, que as armas nucleares nunca mais devem ser usadas”..Um Nobel da Paz para os “sobreviventes da bomba” a lembrar que o “tabu nuclear” está sob ameaça