Falta menos de uma hora para o anúncio do Prémio Nobel da Paz deste ano, oe s políticos noruegueses preparam-se para possíveis repercussões nas relações entre os EUA e a Noruega caso o prémio não seja entregue ao presidente dos EUA - o que é, aliás, o cenário mais provável, como o DN escreveu esta quinta-feira. A Academia norueguesa afirmou, categoricamente, na quinta-feira dia 9 de outubro, que a decisão sobre quem receberia o galardão, este ano, tinha sido tomada na segunda-feira passada, dias antes de Israel e o Hamas concordarem com um cessar-fogo, consequência de um plano apresentado pela administração Trump.Tendo em conta o prazo e a composição do comité - uma equipa independente composta por cinco pessoas, a maioria dos especialistas em Nobel e dos observadores noruegueses acreditam que é altamente improvável que Trump receba o prémio, o que leva a receios sobre como Trump reagirá ao ser preterido de forma tão pública.Kirsti Bergstø, líder do Partido Socialista de Esquerda da Noruega e porta-voz de política externa, disse que Oslo deve estar "preparada para tudo", escreve o The Guardian."Donald Trump está a levar os EUA numa direção extrema, atacando a liberdade de expressão, mandando a polícia secreta, com máscaras, raptar pessoas em plena luz do dia e reprimindo instituições e tribunais. Quando o presidente é tão volátil e autoritário, é claro que temos de estar preparados para tudo", disse Bergstø àquela publicação britânica."O Comité Nobel é um órgão independente e o governo norueguês não tem qualquer envolvimento na atribuição dos prémios. Mas não tenho a certeza de que Trump sabe disso. Temos de estar preparados para qualquer coisa vinda dele", reforçou.Não é segredo que Donald Trump defende abertamente que deveria receber o Nobel da Paz, uma honra que já foi concedida a um dos seus antecessores, Barack Obama, em 2009, pelos seus "esforços extraordinários para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos". Em julho, Trump terá mesmo ligado a Jens Stoltenberg, ministro das Finanças da Noruega e antigo secretário-geral da NATO, para perguntar sobre a atribuição do prémio Nobel. No mês passado, na ONU, o presidente norte-americano afirmou falsamente que tinha posto fim a sete "guerras intermináveis", dizendo aos líderes mundiais: "Todos dizem que eu deveria receber o prémio Nobel da Paz".Arild Hermstad, líder do Partido Verde da Noruega, disse que a independência do comité do Nobel é, precisamente, o que dá credibilidade ao prémio."Os prémios da paz são conquistados através de um compromisso sustentado, não através de birras nas redes sociais e nem de intimidação", referiu. "É bom que Trump tenha apoiado o recente acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas. Qualquer passo para acabar com o sofrimento em Gaza é bem-vindo. Mas uma contribuição tardia não apaga anos de violência e divisão", salienta.Já o colunista e analista Harald Stanghelle avisou que a retaliação de Trump – se vier a ocorrer – pode assumir a forma de tarifas, exigências de contribuições mais elevadas para a NATO ou até mesmo a declaração da Noruega como inimiga."Ele [Trump] é tão imprevisível! Não quero usar a palavra ‘medo’, mas há uma sensação de que pode ser uma situação desafiante“, referiu o especialista. ”É muito, muito difícil explicar a Donald Trump ou a muitos outros países do mundo que este um comité totalmente independente, porque não respeitam esse tipo de independência."E adiantou que, se Trump vencesse, seria a “maior surpresa da história do Prêmio Nobel da Paz”.