Mau tempo atrapalha desejo de Marcelo: entrar em 2020 na região mais periférica do país

O Presidente da República quer entrar no Ano Novo na mais pequena ilha açoriana, o Corvo. E a razão é simples: Marcelo entendeu que era tempo de estar com os portugueses da região mais periférica de Portugal. Isto se o clima o permitir

Marcelo Rebelo de Sousa vai procurar celebrar a entrada em 2020 na ilha mais pequena dos Açores, o Corvo, onde apenas estão registados 430 habitantes. É junto deles que falará aos restantes portugueses, à hora de almoço, na sua tradicional mensagem de Ano Novo. O Presidente da República tem programado o reveillon no ginásio da Escola Básica e Secundária Mouzinho da Silveira do Corvo, com um jantar que reunirá até 250 pessoas, metade da população corvina.

Tudo isto se conseguir chegar antes que o mau tempo se abata sobre as ilhas do grupo Ocidental (Flores e Corvo). "Só na altura se conseguirá saber se poderá viajar para a ilha", segundo fonte da Presidência da República. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) lançou avisos amarelas para as duas ilhas, devido à passagem de uma superfície frontal que irá provocar muita nebulosidade e períodos de chuva, com o vento a soprar até 100 quilómetros à hora. Estas condições climatéricas vão ocorrer entre as 18:00 de terça-feira e as 6:00 de quarta-feira. Marcelo que só parte na véspera de Ano Novo tem de chegar primeiro.

Esta segunda-feira, um avião militar que ia para o Corvo transportando pessoal da Presidência e jornalistas ficou nas Lajes (Ilha Terceira), por causa do mau tempo. Será à Terceira que Marcelo chegará esta terça-feira antes de (eventualmente) rumar ao Corvo, se a meteorologia o permitir.

A ilha tem apenas 6,5 km de comprimento e 4 km de largura e é lá, numa das regiões mais isoladas do país, que Marcelo Rebelo de Sousa pernoitará, se tudo correr bem, no primeiro dia de 2020. O Presidente já tinha estado no Corvo em junho de 2016. Na última ida aos Açores, Marcelo ainda teve tempo para um mergulho (fora do programa) em Ponta Delgada, na altura justificou: "Ir aos Açores e não nadar é como ir a Roma e não ver o Papa". Agora volta no pico no inverno.

A"desilusão" se o PR não chegar

O socialista José Manuel Silva, presidente da autarquia de Vila do Corvo, é o primeiro a admitir à agência Lusa que "sem dúvida" que seria uma desilusão se Marcelo não aterrasse no Corvo, depois da "euforia e da preparação" dos locais. "As pessoas estão a contar com ele. Ele fez questão de manter a sua vinda. Se não se concretizar será uma desilusão, mas deixo o repto: se não for desta vez, que seja noutra altura qualquer", declarou o autarca, falando à agência Lusa e à TVI.

O 'feeling' de José Manuel Silva, face aos esperados 90 quilómetros por hora de ventos cruzados, é que será "complicado" aterrar na ilha na terça-feira, mas "é preciso ter fé" e "esperar".

Sem antecipar a ementa do jantar de ano novo, que deverá juntar mais de 200 pessoas no pavilhão da escola local, o autarca lá adiantou que será servido um "prato típico" do Corvo, e haverá também garrafas do primeiro espumante feito pela Adega Cooperativa do Pico.

Ilha de corsários

A descoberta da ilha do Corvo data da mesma altura do que a das Flores, e estima-se que tenha sido por volta de 1450. O seu povoamento ocorreu, no entanto, mais tarde, devido ao isolamento e à falta de um porto seguro. Mas, paradoxalmente, acabou por ser um dos refúgios favoritos dos corsários, a quem os habitantes davam comida e consertavam as embarcações a troco de proteção. O isolamento também deu aos habitantes um dialeto próprio, que ainda tem muitas palavras de português arcaico.

A ligar as duas ilhas mais ocidentais dos Açores, que ficam a 24 quilómetros uma da outra, está hoje um aeroporto que mede uns módicos 850 metros. A economia do Corvo ainda depende muito da agricultura, em pequenas explorações, e da criação de gado, sobretudo para produção de queijo, O número de vacas é, aliás, o dobro dos habitantes. A pesca também representa uma importante fatia da economia local.

O presidente da Câmara é um socialista, José Manuel Silva, que admitiu em entrevista que não consegue gerar receita na autarquia capaz de produzir grandes investimentos. A aposta é no turismo, mas ainda assim com as limitações de uma pequena ilha perdida no Atlântico.

A ilha tem uma oferta de 48 camas, entre alojamento tradicional e alojamento local, e a autarquia prevê que possam aumentar ainda mais 20. Muitas dos turistas não dormem no Corvo e passam ali três ou quatro horas no máximo. Mas, durante essa altura, a ilha chega ter cerca de mais 100 pessoas do que o habitual.

Muitos dos turistas são atraídos não só pela beleza natural, como pelo facto de a ilha ser um excelente posto de observação de aves, cuja variedade de espécies é muito abundante.

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