Os melhores filmes de 2018 para os críticos do DN

Inês N. Lourenço, João Lopes e Rui Pedro Tendinha elegem os melhores filmes do ano que está a acabar.
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Cada um dos críticos do Diário de Notícias ​​​​​​ escolheu 10 filmes como os mais representativos do ano que está a acabar.

A escolha de João Lopes

O Livro de Imagem , de Jean-Luc Godard

O Outro Lado do Vento , de Orson Welles

Happy End , de Michael Haneke

Girl, de Lukas Dhont

Geada , de Sharunas Bartas

No Coração da Escuridão, de Paul Schrader

Roma , de Alfonso Cuarón

Tully, de Jason Reitman

Custódia Partilhada , de Xavier Legrand

Há filmes prodigiosos que cá chegaram em 2018, mas que são, de facto, da colheita de 2017. Estou a pensar no genial Linha Fantasma, de Paul Thomas Anderson, ou Jogo da Alta Roda, estreia hipersofisticada de Aaron Sorkin na realização - deixo-os ficar no limbo da memória, até para ilustrar o carácter arbitrário (interessante, por isso mesmo) de qualquer lista deste teor.

Godard, tantas vezes castigado com o rótulo de "cineasta do futuro", está aqui em destaque porque o seu filme/livro é o mais primitivo dos objetos, questionando a relação ancestral entre as imagens e o que delas dizemos (e escrevemos). Com ele rima Welles, até porque o seu filme, depois de mais de quatro décadas a ser tecnicamente concluído, contém a reflexão mais atual e contundente sobre o cinema que a Netflix tão exuberantemente passou a simbolizar. Sem ironia, entenda-se: foi a Netflix que investiu os seis milhões de dólares necessários para a conclusão de O Outro Lado do Vento. Será preciso voltar a recordar que a singular beleza do filme de Cuarón - a preto e branco, em formato scope - foi também financiada pela Netflix?

Enfim, os tesoureiros dos grandes estúdios sabem que se gastaram obscenos milhões para continuar a produzir medíocres heróis digitais, razão pela qual se torna imperioso celebrar a moral cinéfila que perpassa em Girl: se o espectador cedeu aos lugares-comuns do marketing e já esqueceu o que é filmar um corpo, talvez seja útil recomeçar por esse maravilhoso filme que nos chegou da Bélgica.

A escolha de Inês N. Lourenço

Linha Fantasma , de Paul Thomas Anderson

No Coração da Escuridão, de Paul Schrader

O Outro Lado do Vento , de Orson Welles

Roma , de Alfonso Cuarón

Happy Hour: Hora Feliz , de Ryusuke Hamaguchi

Dogman , de Matteo Garrone

Ilha dos Cães , de Wes Anderson

Feliz como Lázaro , de Alice Rohrwacher

O Livro de Imagem, de Jean-Luc Godard

Com a imposição da Netflix no contexto cinematográfico, é impossível falar da minha lista de "melhores do ano" sem lamentar o facto de não ter visto O Outro Lado do Vento, projeto crepuscular e inacabado de Orson Welles (estreado por esta plataforma streaming), na sua circunstância tradicional: o grande ecrã da sala escura. Felizmente, Roma, que correu o mesmo risco, sendo também um "produto" Netflix, conseguiu chegar aos cinemas portugueses e, inclusivamente, ser exibido nas melhores condições técnicas, fazendo justiça às especificidades do seu formato.

Estes são dois dos filmes que marcaram o ano, não apenas pela inevitável discussão gerada acerca da conjuntura de exibição mas sobretudo pela sua inerente grandeza e pelo modo como espelham, cada um à sua maneira, o semblante da modernidade - no caso de Welles, esse aspeto é avassalador.

De um ponto de vista pessoal, a maior descoberta que fiz em 2018 foi o cinema do japonês Ryusuke Hamaguchi, chegado à nossa distribuição na magnífica "sinfonia" em três partes que é Happy Hour: Hora Feliz. Por sua Vez, Linha Fantasma, de Paul Thomas Anderson, e No Coração da Escuridão, de Paul Schrader, são as altíssimas notas dramáticas - ou melhor, o sublime - numa paisagem recheada de diversas expressões: o regresso de Godard com O Livro de Imagem, os italianos Dogman e Feliz como Lázaro, a animação Ilha dos Cães, de Wes Anderson, e a família segundo Kore-eda, em Shoplifters.

A escolha de Rui Pedro Tendinha

Um Lugar Silencioso , de John Krasinski

Linha Fantasma , de Paul Thomas Anderson

História de um Fantasma, de David Lowery

Custódia Partilhada , de Xavier Legrand

Missão Impossível : Fallout , de Christopher McQuarrie

Tully , de Jason Reitman

Roma , de Alfonso Cuarón

Dogman , de Matteo Garrone

Chama-me pelo Teu Nome , de Luca Guadagnino

Para um crítico que hoje queira pensar em listas dos melhores do ano tem de pensar em home cinema, streaming ou home cinema. Ou não... Ou sim. Sim, tem de ser sim, não há nada a fazer. Destes dez filmes eleitos, um deles nunca estreou, Uma História de Fantasmas (A Ghost Story), que em Portugal não chegou às salas de cinema e foi diretamente para o home cinema. Também o muito venerado Roma, de Alfonso Cuáron, é mais conhecido pela disponibilidade em streaming, da Netflix, apesar de também ter funcionado nos cinemas.

Desta lista, surge uma penitência: não houve lugar para Mandy, brilhante fábula de terror de Panos Cosmatos, nem para Assim Nasce uma Estrela, de Bradley Cooper, a surpresa do ano. Filmes que estiveram próximos, muito próximos. Seja como for, uma lista em que lamento que não tenha engordado para caber Aniquilação, outro filme que só quem subscreve a Netflix viu. Ou a prova de que Alex Garland é dos grandes cineastas do momento.

Não há cinema português? Não façamos drama: Djon África, de Filipa Reis e João Miller, foi o melhor do ano, mas não vai cair o Carmo e a Trindade se também não couber entre os dez melhores do ano, sobretudo num ano em que não há obras-primas para o compêndio da década... mesmo se pensarmos que o novo de Godard possa ser mais do que um filme. O Livro de Imagem é o manifesto do ano. Voto nele.

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