Seria difícil imaginar um cenário assim, senão em tempos de pandemia. Um batalhão de militares a entrar pela escola dentro, cobertos da cabeça aos pés por fatos brancos, de máscaras robustas no rosto, sem ser possível adivinhar-lhes ponta de identidade. Nas costas, transportam botijas e na mão levam um jato preparado para desinfetar todos os espaços à sua volta. Aconteceu esta quarta-feira, numa escola da Amadora, em Lisboa, mas o cenário irá repetir-se nos próximos dias em cerca de 800 escolas secundárias, onde as Forças Armadas se comprometeram a enviar militares para proceder à sua desinfeção..Prepara-se o regresso às salas de aula, o que poderá ocorrer já a partir do dia 18 de maio. Mas pais e professores são assertivos em dizer que só deverá acontecer com as devidas medidas de segurança garantidas. Uma meta que começa com a higiene - e acaba com mais funcionários e mais professores..Ainda nem o decorrer da pandemia em Portugal levantava o debate sobre a suspensão das atividades letivas presenciais, já as escolas artilhavam-se de mais meios de higiene nas casas de banho e nos corredores, sobre a incumbência de tornar os recintos escolares tão seguros quanto possível. Nesta altura, registava-se "um reforço" na disponibilização de sabão e de doseadores com líquido de base alcoólica, contava o dirigente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima..Um trabalho que não estancou com os portões fechados. Preparando-se para a possibilidade de um regresso dos seus alunos e professores, alguns estabelecimentos de ensino aproveitaram os dias de corredores e salas vazias para proceder a uma limpeza profunda destes espaços. Como é o caso da Escola Secundária José Falcão, em Coimbra. "Aproveitamos agora para limpar a escola mais a fundo, para tentar que esteja o mais segura possível para o acolhimento. Os assistentes operacionais foram designados para a limpeza de espaço a espaço", contou a professora de 12.º ano desta escola Maria Regina Cunha..O governo admite medidas de contingência especiais caso os alunos regressem às escolas, como o uso obrigatório de máscaras no interior das escolas - material que será disponibilizado pelo Ministério da Educação. Às direções dos agrupamentos é imputada a responsabilidade de adotar medidas para que as aulas possam decorrer com as regras de distanciamento e higienização adequadas, mas os diretores alertam que será necessário mais orçamento para o garantir. "Vai haver aqui um investimento em material para higienização, tem de ser destinado um determinado orçamento para as escolas", diz Filinto Lima, dirigente da ANDAEP.."O problema não está dentro da escola".Ainda que a higiene seja garantida dentro do recinto escola, a professora Maria Regina Rocha reconhece que "o problema não está dentro da escola, está naquilo que vem de lá de fora"..Ainda que a distância social seja respeitada, "o risco é enorme, porque muitos deles [alunos, professores e funcionários] vêm de transportes públicos, ambientes mais propícios ao contágio", lembra a docente de Matemática. É precisamente sob esta justificação que muitos do corpo docente e discente já garantem que não irão comparecer nas salas de aulas, caso estas voltem a abrir. A escola pode estar higienizada, mas "quando entrarem, não sabemos se não são já portadores do vírus, dado o percurso que fizeram para ali chegar"..Além disso, acredita que a tarefa de manter a distância recomendada pelas autoridades de saúde entre alunos não será tarefa fácil, principalmente porque "não se veem há muito tempo". Na escola onde leciona, por exemplo, há um único pavilhão com salas de aula onde circulam os estudantes, ao longo de três pisos..Não hesita em dizer que será necessário ter mais assistentes operacionais, que tal como os professores estão em falta nas escolas. "Vamos fazer o nosso melhor, mas sabemos que não há, da parte das escolas, uma capacidade de vigilância total dos nossos alunos", frisa a docente..Menos alunos por metro quadrado, mais professores.Na escola da adversidade, aprende-se a prudência, já dizia o velho ditado. Foi com esta tese em mente que o governo português se antecipou ao mal maior que a pandemia que acabava de aterrar no país poderia causar, encerrando os portões de todos os estabelecimentos de ensino. A iniciativa motivou até elogios a Portugal lá fora. Nesta quinta-feira, os governantes voltam a ter de decidir o futuro da comunidade escolar..Contudo, as escolas garantem que será necessário ter mais professores disponíveis, caso reabram, pois não será seguro agregar cerca de 30 alunos numa única sala. Havendo distribuição de alunos por várias salas, poderá obrigar à presença de mais professores nas escolas..O dirigente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) diz que é urgente que se façam chegar às escolas indicações sobre "quantas pessoas podemos ter em determinados metros quadrados, seja em contexto de sala de aula, de polivalente, de biblioteca e de cantina"..Uma indicação que, na sua opinião, deve partir da Direção-Geral da Saúde e "o mais cedo possível". "Porque o tempo que há entre o anúncio e a abertura das escolas pode ser pouco para nos prepararmos", teme Filinto Lima..Uma forma de combater a necessidade extraordinária de mais docentes - com a qual as escolas já conviviam antes dos desafios exigidos pela pandemia - passa por aplicar o desdobramento de turma em sistema de turnos. Assim como foi recomendado pelo Sindicato Nacional dos Profissionais de Educação. Num comunicado enviado às redações, o organismo recomendava a aplicação de um método através do qual uma metade da turma teria aulas presenciais, enquanto a outra metade teria de trabalhar em casa, trocando de turnos todas as semanas..No entanto, também esta solução tem o seu contra: tal significaria redobrar o horário do professor, dividindo-o entre ensino à distância e ensino presencial..Aguarda-se o que sair da reunião do Conselho de Ministros desta quinta-feira. Também no que diz respeito aos mais novos. Assim como já há uma data provável para o arranque das aulas presenciais para o secundário, também se espera que as creches voltem a abrir, a 1 de junho. Uma decisão com a qual vários educadores se mostram contra, devido à capacidade de controlar distâncias entre crianças.