Paris, Madrid e Londres apertam restrições para controlar segunda vaga de covid-19

Um pouco por toda a Europa as autoridades sanitárias estão em alerta. De França chegaram medidas rígidas, sobretudo na capital. E da Alemanha surge um aviso em relação a algum relaxamento na antevisão de um aumento de casos.

A Europa está a aumentar as medidas de alerta para evitar a propagação do covid-19, naquela que é a segunda vaga da pandemia que há muito estava anunciada. Os números de novos contágios sobem praticamente todos os dias e paira a pressão sobre os hospitais, cerca de três meses depois de a maior parte dos países ter reduzido as medidas de confinamento.

Entre março e junho, as ruas das principais cidades europeias ficaram desertas, as pessoas foram obrigadas a ficar em casa, em teletrabalho, e isso traduziu-se numa quebra acentuada da economia.

Esse é, agora, um cenário que os governos dos países europeus querem evitar a todo o custo, e o mote até foi dado pelo primeiro-ministro português, António Costa, que na passada sexta-feira alertou para o facto de a economia não aguentar outro lockdown, razão pela qual fez um apelo à responsabilidade de cada um em adotar as medidas de segurança sanitárias para evitar a propagação do vírus.

Um pouco por toda a Europa, os governos têm adotado medidas menos radicais de proteção da saúde das populações, com o recurso a medidas específicas e, em muitos casos, bastante localizadas.

Paris em tensão leva a novas restrições

O aumento da taxa de incidência do coronavírus em Paris, que é agora de 204 casos por cada cem mil habitantes, obrigou as autoridades sanitárias francesas a adotar novas medidas restritivas no combate à covid-19. Após uma reunião no Palácio do Eliseu, o ministro da Saúde, Olivier Véran, anunciou que Paris está "sob tensão", o que levou à adoção de um conjunto de medidas, algumas delas extensíveis a todo o país.

A tensão parisiense justifica-se pelos quase mil internamentos na última semana, em comparação com os 460 da semana anterior. No total, estão quase dois mil doentes de covid-19 internados, dos quais 305 nos cuidados intensivos, o que representa uma grande preocupação na região.

"Devemos proteger os nossos hospitais e as nossas unidades de cuidados intensivos. Devemos proteger os franceses", afirmou Olivier Véran, em conferência de imprensa, lançando um desafio aos franceses: "Se cada um de nós estiver com menos pessoas por dia e socializar mais à distância, poderemos vencer esse vírus."

Nessa medida, entre as restrições adotadas em Paris, destacam-se a obrigatoriedade de os bares fecharem às 22.00, passa a ser proibida a realização de festivais locais e festas estudantis, passam a ser também impedidos os ajuntamentos de mais de dez pessoas nos espaços públicos. Além disso, foi igualmente aplicada a redução do limite máximo autorizado para grandes eventos, de 5000 para mil pessoas.

Além de Paris, estas medidas são extensíveis a Bordéus, Lyon, Nice, Lille, Toulouse, Saint-Étienne, Rennes, Marselha e Guadalupe.

O Ministério da Saúde francês defende ainda que as empresas devem promover, tanto quanto possível, o teletrabalho, sobretudo no que diz respeito aos trabalhadores mais vulneráveis.

Madrid limita deslocações às zonas de residência

Os alarmes soaram em Madrid nesta semana com o aumento de casos diários de novos contágios, que já superaram mesmo os 11 mil. E as autoridades espanholas aplicaram novas medidas para proteger a saúde dos cidadãos, especialmente na região de Madrid, onde a propagação do vírus tem sido mais acentuada.

Nesta terça-feira, Salvador Illa, ministro da Saúde, apelou aos madrilenos para reduzirem as saídas de casa e o contacto com pessoas fora do seu agregado familiar.

As novas regras decretadas pelo governo da Comunidade Autónoma de Madrid atingem cerca de 850 mil pessoas e estão em vigor durante duas semanas, período durante o qual só é permitido sair da zona de residência para trabalhar, ir à escola e ao médico, por questões judiciais ou para cuidar de pessoas dependentes.

Para já, as pessoas não são obrigadas a ficar em casa, existindo apenas esta limitação geográfica. Além disso, foi ainda reduzido de dez para seis o número de pessoas que se podem reunir em público ou em privado. O cumprimento destas medidas poderá ser fiscalizado pelo Exército espanhol, depois de Isabel Díaz Ayuso, presidente da Comunidade de Madrid, ter feito esse pedido ao primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.

As autoridades de Madrid estão preocupadas com o aumento de casos em diversos bairros que, a qualquer momento, podem voltar a bloquear o funcionamento dos hospitais, à semelhança do que aconteceu em março e abril. E, por essa razão, há quem defenda que será inevitável um novo confinamento na região. "O problema é que com estes números e a falta de infraestruturas, é preciso ir elevando cada vez mais as medidas e, dentro de uma semana ou dez dias, Madrid voltará ao confinamento", afirmou Rafael Bengoa, antigo diretor de sistemas de saúde da Organização Mundial da Saúde e conselheiro de saúde do governo basco.

O problema é que nesta quarta-feira ficou-se a saber que o PIB espanhol teve uma queda histórica de 17,8% no segundo trimestre deste ano, consequência do confinamento decretado entre março e junho. Ou seja, um regresso das pessoas às suas casas terá consequências imprevisíveis para a economia.

Londres pondera adoção de medidas extra

O aumento de casos do Reino Unido, que já superaram os seis mil novos casos nas últimas 24 horas, e a incidência em Londres levaram mesmo o presidente do município, Sadiq Khan, a uma conversa, por telefone, com o primeiro-ministro Boris Johnson, no qual expressou a preocupação por aquilo que será a segunda vaga da pandemia na capital.

O aumento de pessoas admitidas nas unidades de cuidados intensivos tem preocupado as autoridades locais, que ponderam a adoção de medidas para evitar um confinamento obrigatório, que seria desastroso para a economia londrina.

Nesse sentido, um porta-voz de Sadiq Khan afirmou à imprensa local que está a ser ponderado o uso obrigatório de máscaras de forma generalizada, além de outras medidas específicas para o seu município, além daquelas que foram já anunciadas por Boris Johnson, pelo menos, para os próximos seis meses no Reino Unido.

O primeiro-ministro britânico anunciou na terça-feira que os bares e restaurantes passam a encerrar às 22.00, além de que o atendimento só pode ser feito à mesa com os empregados obrigados a usar máscara. Foi ainda recomendado adoção do teletrabalho e foi suspenso o regresso de público aos grandes eventos desportivos, que estava previsto para outubro.

Em Londres há a dúvida se estas medidas serão suficientes, apesar de Boris Johnson ter ameaçado com mais restrições se não baixar o índice de transmissibilidade efetivo do vírus.

Lisboa com mais casos mas sem novas limitações

A preocupação em relação ao aumento de casos positivos de covid-19 é igualmente comum à Região de Lisboa e Vale do Tejo, que nesta quarta-feira se fixou em 437 novas infeções, mais de metade do que no resto do país, que totalizou 802 casos. Além disso, as três mortes registadas em Portugal foram todas na região da capital.

Isto no dia em que Marta Temido, ministra da Saúde, anunciou que o país tem 44 surtos ativos de covid-19 em lares de idosos, com a Região de Lisboa e Vale do Tejo a ter 23 desses surtos.

A tendência na região da capital portuguesa é para que aumentem o número de infeções. Isto tendo em conta a expectativa deixada na semana passada pelo primeiro-ministro, António Costa, que admitiu a possibilidade de, em breve, ser ultrapassada a barreira dos mil contágios diários em todo o país.

O chefe de Governo apelou à responsabilidade de todos os portugueses para respeitarem as normas de segurança, pois considerou que um novo confinamento, à semelhança do que aconteceu em março e abril, "não seria sustentável" para a economia do país.

Nesse sentido, a Àrea Metropolitana de Lisboa mantém restrições expecíficas, diferentes do resto do país, entre as quais a limitação de ajuntamentos a dez pessoas, proibição do consumo de bebidas alcoólicas em espaços ao ar livre e a sua comercialização em áreas de serviço e postos de combustíveis.

Mudança de estratégia prevista para Estocolmo

As autoridades da Suécia parecem estar a ponderar uma mudança na estratégia que adotaram desde o início da pandemia, que passou pela responsabilidade individual em vez da adoção de medidas restritivas de confinamento.

Na última semana, a preocupação tem aumentado em Estocolmo, pois nesse período foram registados 305 novos casos, o que levou Björn Eriksson, responsável sanitário da capital sueca, a lançar o aviso: "A tendência de diminuição terminou. Se a curva continuar a subir, a situação pode tornar-se perigosa", avisou.

E também Anders Tegnell, o grande mentor da estratégia adotada pela Suécia até agora, já avisou que "se o aumento de casos persistir, terão de ser pensadas restrições locais" em Estocolmo. "Para já, ainda não afetou o sistema de saúde. O número de novos casos em unidades de cuidados intensivos é muito baixo e o número de mortes é igualmente baixo", acrescentou, admitindo que decorrem conversas periódicas com as autoridades da capital sueca para decidir sobre a necessidade de restrições e que "medidas concretas poderão ser adotadas".

Berlim sem novas restrições... até ver

Mais calma está a situação na Alemanha, que registou nesta quarta-feira 1769 novas infeções e 13 mortos. As autoridades não preveem a adoção de medidas drásticas nos próximos tempos, mantendo-se o grosso da atividade económica e social, incluindo a abertura do ano escolar.

Ainda assim, há algumas vozes que se levantam em relação ao perigo da segunda vaga da pandemia. Christian Drosten, virologista de Berlim, alertou em entrevista à edição online da revista Der Spiegel para a necessidade de o Governo alemão começar a preparar-se para o natural aumento de casos. "Para controlar a situação nos próximos meses, temos de mudar as coisas", sublinhou, pedindo cautela sobre o que considera "os discursos festivos" relativamente ao sucesso alemão no combate à pandemia.

"Na primeira vaga, não fizemos nada de diferente dos outros países, apenas reagimos mais cedo do que os outros, e isso fez toda a diferença", avisou o chefe do Instituto de Virologia de Charité.

"O nosso sucesso não se deveu ao facto de as nossas autoridades de saúde serem melhores do que as francesas ou porque nossos hospitais estão melhor equipados do que os italianos. Se pensarmos assim, no outono não vamos fazer melhor que os outros países", avisou, apelando para que a Alemanha olhe de forma "muito mais atenta" para o que está a acontecer nos outros países europeus.

Baixo número de casos, mas Itália está atenta

A região de Roma viu nesta quarta-feira diminuir o número de novos casos em relação ao dia anterior, tendo passado de 238 para 195 novas infeções, além de três mortes. Um registo que se encontra estável, à semelhança do que acontece no resto do país, pois Itália anunciou 1640 novos caos positivos e 20 óbitos.

Depois do drama vivido na primeira vaga da pandemia, durante a qual os hospitais ficaram sobrelotados, Itália está agora num período de alguma acalmia, mas as autoridades de saúde estão a precaver a possibilidade de novo agravamento da situação.

Roberto Speranza, ministro da Saúde italiano, garantiu que o seu ministério está preparado para conter um aumento do número de infeções de covid-19. "Vamos usar todos os recursos disponíveis para investir na telemedicina e vamos investir num novo plano para substituir todas as máquinas obsoletas no nosso país", determinou.

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