Não havia Natal lá em casa sem a salada de romã. A minha mãe, pacientemente, descascava as romãs bem maduras, retirava-lhes aquela película esbranquiçada do interior e escolhia bago a bago para dentro de uma terrina de vidro. Depois de remexer um pouco com as mãos, polvilhava-os com um pouco de açúcar e deixava-os repousar durante algumas horas, no frigorífico, antes de virem à mesa. Hoje, sempre que posso, delicio-me com esse fruto fantástico a que damos tão pouca atenção.
Oriunda da Ásia Central, a romã cedo se espalhou por toda a bacia mediterrânica, chegando à Península Ibérica, de onde partiu para outros continentes, sendo também muito popular no Brasil. A Espanha é o maior produtor mundial. Por cá é muito vulgar no Sul, principalmente no Alentejo e no Algarve: árvores de pequeno porte, com aqueles frutos belíssimos que, quando maduros, têm tonalidades entre o amarelo, o castanho e o vermelho e chegam a dobrar os ramos com o seu peso. Mas, infelizmente, o destino de muitos milhares de romãs é cair ao chão e ali apodrecer ou serem debicadas por aves diversas, bem mais espertas do que nós.
Falta de meios de distribuição e preços muito baixos pagos aos produtores, associados à já vulgarizada falta-de-mão de obra, fazem que este fruto nobre, a exemplo de muitos outros que temos de enorme qualidade - a laranja é o caso mais flagrante! - apareça cada vez menos nas bancas dos mercados e frutarias. Ou melhor, os que por lá aparecem com regularidade são... espanhóis, pois claro!
Na Antiguidade foram-lhe atribuídos poderes afrodisíacos, foi considerada símbolo do amor e da fecundidade, foi sinal religioso dos judeus e apreciada por fenícios, egípcios, gregos e romanos e ainda hoje há países onde se come tradicionalmente no Dia de Reis, simbolizando prosperidade.
É um fruto com muito baixo teor calórico, bastante diurético, que se pode comer sem restrições e tem enorme riqueza em vitaminas A e E, em potássio e ácido fólico, sendo um poderoso antioxidante, óptimo para combater doenças coronárias, ou auxiliar à sua prevenção. Ingerida sólida ou em sumo, é deliciosa e refrescante e pode fazer parte de algumas receitas quer de peixe quer de carne. Pelo menos durante o Natal, compre romãs portuguesas e delicie-se.