Superliga em ruína, o mundo à beira do abismo e todos "fartos de estar em casa"

A contestação ao projeto dos super-ricos do futebol europeu fez ruir a Superliga em poucas horas. A voz dos adeptos foi mais forte, numa semana em que a vacinação em Portugal contra a covid-19 acelerou e o número de doentes internados em UCI voltou a estar abaixo dos 100, o que não acontecia desde setembro.
Publicado a
Atualizado a

Em vésperas do regresso ao ensino presencial dos alunos do secundário e do superior, sábado marcou o arranque de dois dias de vacinação em massa contra a covid-19, que incidiu sobretudo em inocular professores e funcionários de escolas. Ao todo administradas 183 mil doses de vacinas em dois dias. Um número que mereceu elogios de António Costa - "o teste foi um grande sucesso, Portugal está pronto para cumprir o objetivo" - e um aviso por parte do coordenador da task force para a vacinação, o vice-almirante Gouveia e Melo, destinado a quem desconfia da qualidade das vacinas: "Não ser vacinado significa ser um em 600 portugueses que no ano passado morreu, se a pessoa quer estar nesse totoloto acho que não é uma boa solução."

A salvo de surpresas indesejadas (como a da eliminação da Juventus frente ao FC Porto); sem necessidade de fazer valer em campo a sua competência para se qualificar (com acesso direto ao jackpot milionário tanto fazia ser 1.º ou 11.º); fechados numa bolha para os super-ricos e deixando umas migalhas aos restantes, na forma de cinco "convites" anuais (na lógica de fazer mais dinheiro, porque não realizar um leilão garantindo lugar a quem pagasse mais?). Em resumo: uma elite de clubes unida numa Superliga a tecer um plano para lucrar ainda mais, fomentando a desigualdade e ignorando um princípio básico: o mérito desportivo. Às ameaças de sanções de UEFA e FIFA, juntaram-se as críticas da Comissão Europeia, federações nacionais, vários chefes de Estado e dos adeptos, principalmente em Inglaterra. A pressão foi tal que bastaram 48 horas para os seis clubes ingleses saltarem fora do projeto. E condená-lo ao insucesso. Desta vez, o tiro, que se anunciava de morte para a Champions, saiu pela culatra. Mas este lóbi dos clubes mais poderosos da Europa, mais cedo ou mais tarde, vai ter de lhes trazer algum retorno.

Gestos simples como entrar numa pastelaria e beber um café, ir a uma loja escolher uma peça de roupa ou ver um filme numa sala de cinema voltaram a ser possíveis (embora ainda com limitações) em quase todo o país, nesta segunda-feira que marcou o arranque da terceira fase do plano de desconfinamento. O DN saiu à rua e recolheu testemunhos como o de José e Cecília Máximo que sintetizam bem o sentimento geral da população: "Já estávamos fartos de estar em casa." Este regresso à normalidade é fundamental para pôr a economia a mexer. Mas também é fundamental evitar comportamentos de risco para que no dia 3 de maio o país possa entrar na quarta e última fase do plano de desconfinamento. Baixar a guarda nesta altura, para mais quando o ritmo de vacinação e testagem está a aumentar, seria como morrer na praia.

Noventa inspetores no terreno apoiados por seis magistrados, 28 mandados de busca, oito inquéritos que visam investigar mais de uma dezena de obras e projetos urbanísticos em Lisboa, por suspeitas da prática de abuso de poder, participação económica em negócio, corrupção, prevaricação, violação de regras urbanísticas e tráfico de influência. Os números e a longa lista de suspeitas não deixam dúvidas sobre a dimensão desta investigação que terá como um dos visados - como o próprio Fernando Medina reconheceu - Manuel Salgado, ex-vereador do urbanismo da Câmara de Lisboa. Um caso em desenvolvimento, em ano de autárquicas, com todo o potencial para contaminar a campanha eleitoral. Carlos Moedas, cabeça-de-lista da coligação PSD-CDS, foi o primeiro a explorar o "filão": "Não são apenas os comportamentos do ex-PM José Sócrates que corroem o funcionamento da democracia."

Em maio de 2020, a morte de Valentina chocou o país. Agredida e torturada pelo pai, perante o silêncio da madrasta, foi deixada em agonia num sofá, sem que lhe fosse prestado auxílio, até morrer. O cadáver da menina de 9 anos foi depois escondido num eucaliptal na serra d'El Rei (Peniche) e o próprio progenitor mobilizou familiares e vizinhos para procurarem a criança. O pai acabaria por confessar tudo à PJ dias depois. Os contornos extremamente violentos do crime, descritos na acusação do MP, foram todos dados como provados pelo coletivo de juízes que julgou o caso e condenou o progenitor à pena máxima de 25 anos de prisão e a sua companheira a 18 anos e nove meses. A perturbante indiferença e frieza de Sandro Bernardo manteve-se durante o julgamento, como frisou na leitura do acórdão o juiz presidente: "Não mostrou arrependimento nem emoção e não assumiu a seriedade das sua conduta."

António Guterres voltou a repetir o aviso sobre o impacto das alterações climáticas no planeta e o atraso na aplicação de medidas mais eficazes para combater o problema: "O mundo está à beira do abismo." No seu discurso na cimeira do clima convocada por Joe Biden, o secretário-geral da ONU apelou à formação de uma "coligação global de países, regiões, cidades e empresas" que se comprometa a atingir até 2050 o objetivo da neutralidade carbónica. A urgência é reforçada pelo último relatório da Organização Meteorológica Mundial: mesmo com a pandemia, que quase parou o mundo, 2020 foi um dos três anos mais quentes desde que há registo, bateram-se recordes na diminuição de gelo e os fenómenos climatéricos extremos - como os incêndios florestais nos EUA - foram dos mais destrutivos de sempre.

O último boletim da Direção-Geral da Saúde trouxe uma boa notícia. O número de pessoas internadas em unidades de cuidados intensivos baixou das cem (98 para ser mais exato). Para encontrar um registo igual é preciso recuar até ao final de setembro de 2020 - a 28 desse mês estavam também 98 doentes com covid-19 em UCI. Com uma diferença de assinalar: o número total de pessoas hospitalizadas é hoje bastante inferior: 384 contra 659. A atual capacidade de resposta do SNS deixa margem para um eventual agravar dos números devido ao desconfinamento - também ontem ficou a saber-se que os concelhos com uma taxa de incidência superior a 120 casos por 100 mil habitantes passaram de 29 para 43.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt