Costa recebe economistas e quer saber: pandemia pode criar oportunidades? Tudo depende da duração e dos governos

Primeiro-ministro ouve esta terça-feira académicos e economistas sobre como pode ser feito o relançamento da economia no pós-coronacrise. O Dinheiro Vivo falou com três deles.
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As crises também criam oportunidades. A ideia é partilhada por alguns economistas ouvidos pelo DN/Dinheiro Vivo que vão reunir-se esta terça-feira com o primeiro-ministro, por videoconferência, sobre o relançamento da economia portuguesa no período pós-pandemia de coronavírus.

"Vai depender muito da duração", defende a economista Susana Peralta da Nova SBE. E da "forma como os governos decidirem lidar com as oportunidades", atira Ricardo Paes Mamede do ISCTE. Já João Borges de Assunção, da Universidade Católica não partilha de uma previsão tão benévola. "Para alguns até pode haver oportunidades, mas o todo coletivo, não me parece", afirma este académico que a partir das 15 horas também participa na reunião à distância com António Costa e mais 19 economistas das principais escolas do país.

A ideia do primeiro-ministro é ouvir ideias sobre como estará a economia depois da crise da covid-19. Quais os setores mais afetados, aqueles mais expostos à crise ou os que terão maiores dificuldades em retomar a atividade. E neste aspeto há um que reúne a unanimidade: o turismo deverá ser aquele que terá tido a maior erosão, mas também o que levará mais tempo a recuperar e talvez não retome a exuberância dos últimos anos.

"O choque no turismo vai ser muito duradouro, porque deixa marcas de medo nas pessoas. Mesmo no dia em que levantarmos as restrições, tenho a sensação de que o turismo não vai ter uma retoma evidente", antevê Susana Peralta. A economista da Nova aponta dois efeitos neste setor: a quebra na procura e o desemprego de milhares de pessoas que trabalham no turismo e que, por regra, têm baixas qualificações.

"Essas pessoas vão ter de se dedicar a outras atividades", antecipando a reconversão deste contingente de futuros desempregados. A procura também vai sofrer apontando "o lado psicológico fortíssimo", em que as pessoas não vão tão cedo recuperar os hábitos de viagem.

Para o economista Paes Mamede, muito vai depender da vontade dos governos. São "atividades económicas que de repente vão perder muita da sua atratividade e vai depender muito do Governo se pretende proteger atividades que tinham muito dinamismo até há pouco e deixaram de ter e nos próximos tempos vão deixar de ter. Ou pelo contrário assumir que essas atividades não vão ter dinamismo e procurar soluções", frisa. Nesta categoria cabem atividades como o turismo e o imobiliário.

O peso setor do turismo no PIB ronda os 15% e o imobiliário mais de 5%, ou seja, a economia está particularmente exposta.

Para o economista João Borges de Assunção ainda é cedo para perceber como vai ser a saída e os impactos da crise pandémica. "Ainda não há muita informação e estamos numa zona de grande incerteza", apontando para o efeito transversal em toda a economia. "Basta ver as cidades que estão vazias", exemplifica.

Paes Mamede acrescenta outro dado à equação. "Há uma janela de oportunidade que tem a ver com o facto de as regras europeias estarem em suspensão que dão algum espaço de manobra aos governos que não teriam noutras circunstâncias, incluído no que respeita às ajudas de estado".

Globalização em marcha atrás

Para Susana Peralta esta crise pode representar também uma oportunidade para repensar as cadeias de abastecimento e a dependência de economias como a China e a Índia. "Terá de haver uma consciencialização a nível europeu do enorme risco da globalização das cadeias de produção que gerou muito valor com maior consumo e preços baixos", aponta, acrescentando que pode acontecer "uma certa reindustrialização da Europa. E se acontecer, para Portugal é uma excelente oportunidade".

"Não estou a apelar a um nacionalismo europeu, mas temos de perceber se há capacidade interna. Pode haver uma relativa oportunidade", apontando o que chama de "protecionismo inteligente."

E depois há mudanças que podem representar um teste inédito. "Podemos ver os setores que tiveram menos quebras e passar para o teletrabalho e para uma reconversão do modo de produção que acho que é útil para conseguir atingir outros objetivos como a questão ambiental", frisa a economista da Nova SBE, uma espécie de "teste à transição carbónica" devido a um choque externo.

Ou esta crise pode também "consolidar certos tipos de comportamento como o teletrabalho e a utilização de soluções de interação à distância", aponta ainda Ricardo Paes Mamede.

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