Não é uma nota com distinção, mas é uma boa nota para um governo que de um dia para o outro se viu a braços com uma grave crise sanitária que, em menos de nada, se transformou também numa crise económica sem fim à vista: aumento do desemprego, empresas encerradas, milhares de trabalhadores em lay off, um dos setores mais rentáveis como o do turismo completamente parado... uma sucessão de más notícias que só não parecem tão negativas quando Portugal é dado como um bom exemplo europeu no combate à pandemia de covid-19 - os números são baixo comparados, por exemplo, com a vizinha Espanha, mas ainda assim o nosso país já em a lamentar a morte de 1114, 9 nas últimas 24 horas.Os casos - 27 268 -registaram subidas mais altas nos últimos três dias. Vinte e cinco personalidades das mais variadas áreas da sociedade portuguesa - da saúde à educação, da ciência à cultura - dizem de sua justiça e dão a sua opinião sobre a forma como o Governo está a gerir a pandemia. E se parece certo que a grande maioria considera que do ponto de vista sanitário as respostas foram adequadas porque não houve colapso do Serviço Nacional de Saúde (SNS), já do ponto de vista social, surgem as reticências... Demorada e incompleta são alguns classificativos para a resposta social apoios às empresas. Certo é que ninguém dá nota negativa ao Executivo - de 0 a 20, a mais baixa fica-se pelo 12 e a mais alta é um 19. Apesar das críticas que se fazem ouvir na demora das prestações sociais, o primeiro-ministro, António Costa, esta semana fez questão de dar uma resposta, carregada de ideologia até: "Se a crise da covid-19 não conduziu a circunstâncias mais dramáticas do que aquelas que estamos a viver, isso deve-se ao esforço extraordinário da Segurança Social. Esta crise tem sido muito pedagógica para quem tinha muitas dúvidas sobre a importância do Estado social e sobre os nossos sistemas públicos." Até pode parecer estranho falar-se de morosidade numa crise que leva dois meses - só que estes dois meses são como dois anos para quem, de um dia para o outro, deixou de ganhar um tostão, viu o seu rendimento drasticamente reduzido ou teve de fechar a sua empresa. As demoras também as justifica António Costa, dando como exemplo o aumento exponencial do número de trabalhadores em lay off. "Nos 12 meses anteriores [à pandemia de covid-19], o Instituto de Segurança Social tinha processado 515 pedidos, mas no último mês e meio está a processar 103 mil requerimentos. Se estes 103 mil pedidos fossem tramitados com o mesmo ritmo do ano passado, precisar-se-ia de 187 anos para responder a todos os pedidos.".A avaliação que o chef Vítor Sobral faz do desempenho governativo traduz o que muitos pensam sobre as áreas mais afetadas pela pandemia: "Parece-me que o serviço de saúde respondeu bem. Não assistimos àquilo que aconteceu, por exemplo, em Itália - de ter de escolher quais os doentes que teriam direito a ventiladores por haver escassez destes meios. Na área da economia, não posso dizer o mesmo. Sei que não somos um país rico e que temos de gerir os recursos, mas os recursos que o Governo anunciou demoraram demasiado tempo a serem colocados em prática. Toda a burocracia relacionada com os empréstimos era muito complexa, e garantidamente muitas empresas vão ficar pelo caminho.".As previsões para a economia nacional são negras: ainda esta semana a Comissão Europeia previu uma recessão de 6,8% para este ano e que a taxa de desemprego suba para 9,7%. Os empresários querem respostas rápidas. António Saraiva acusa o Governo de ter perdido tempo precioso e de ter tomado medidas conforme foi ouvindo os agentes económicos. "Existe ainda um grande desfasamento entre as necessidades e os montantes mobilizados, sobretudo se comparados com os nossos parceiros europeus. Persistem, ainda, disfunções que prejudicam a eficácia e rapidez com que as medidas estão a chegar ao terreno", afirma o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP). De facto, o Executivo foi adicionando medidas para proteção da economia - as últimas foram conhecidas na quinta-feira mas desde o início de março que têm vindo a ser anunciadas, ainda antes do estado de emergência, que durou de 19 de março até 3 de maio. Às linhas de crédito, às moratórias, ao lay off simplificado junta-se agora o apoio a sócios-gerentes com trabalhadores a cargo e aos trabalhadores independentes sem descontos, bem como a redução do prazo de garantia do subsídio de desemprego..Também Nuno Botelho, presidente da Associação Comercial do Porto, refere que o primeiro-ministro e o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira - com quem está globalmente de acordo - nem sempre acertaram à primeira, mas souberam emendar. "As medidas ainda são curtas. Na economia, não sei se haverá capacidade em Portugal para acudir a todos. Muitas empresas vão ficar pelo caminho. A nível social, na saúde, atacámos bem o combate à pandemia e isso era importante, mas temos que dar passos em frente. A economia tem que abrir para que a situação não fique mais grave." A UGT considera mesmo que, apesar dos atrasos, "o Governo tem feito um enorme esforço na resolução de todas as situações que esta crise pandémica sem precedentes provocou na economia e nos trabalhadores."."As respostas sociais que a crise está a provocar, com a subida dramática do desemprego, as situações de desigualdades sociais daí resultantes, bem como a pobreza que se vai verificando, tem merecido do Governo a atenção possível num contexto excecional, para o qual ninguém estava preparado", acrescenta Carlos Silva, líder da central sindical. O turismo é uma atividade fundamental para a economia nacional - foi uma das alavancas para a saída da crise de 2011. Mas a pandemia do novo coronavírus deixou os turistas em casa, os aviões nas pistas e hotéis e alojamento local às moscas. Portugal, prevê a Comissão Europeia, será um dois países mais afetados com a quebra estimada de 50% na atividade turística, o que muito se explica pela dependência do turismo estrangeiro..E também nesta área fundamental para a riqueza nacional, há lamentos sobre a demora nos apoios. "Em termos económicos, face à realidade dos recursos disponíveis e ao condicionamento no quadro da União Europeia, a aposta na resposta às necessidades mais prementes das empresas e na manutenção do emprego foi a opção ajustada. Não obstante, a morosidade da eficácia de algumas destas medidas é um aspeto menos conseguido", refere João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve.."A própria quebra do turismo acaba por se refletir na agricultura, sentimo-lo bem nesta região. Ainda assim, julgo que o esforço está a ser grande, para chegar com apoios a tanto setor. É preciso coragem para mandar parar a economia e privilegiar a saúde", aponta, por seu turno,.Os arquitetos não são exceção na necessidade que sentem de outras medidas que permitam um maior apoio à retoma da economia, nomeadamente através do investimento em equipamentos, no arranjo do espaço público ou nas carências habitacionais, alerta José Manuel Pedreirinho. O presidente da Ordem dos Arquitetos pede que se aproveite a ocasião para desburocratizar e agilizar a comunicação entre as diversas entidades, situações que se têm agravado com o teletrabalho..Mas como pode um Governo - qualquer que seja - estar preparado para responder a uma crise inesperada que lhe bate a porta sem aviso prévio? O constitucionalista Paulo Otero começa por reconhecer que é muito difícil governar numa situação de exceção, como uma pandemia, e com escassez de meios, tanto mais que os apoios financeiros dependem sobretudo da União Europeia. E se há setores em que as coisas não estão a andar bem - também pelo excesso de pedidos de ajuda - Otero entende que faltou visão estratégica dos problemas. E aponta aquilo que considera uma forte falha em todo este processo: "Têm sido praticadas múltiplas inconstitucionalidades. Tem-se visto o que nunca foi visto: o Governo utilizar mecanismos administrativos para suspender direitos e liberdades fundamentais, com dois pesos e duas medidas." O exemplo dado é a celebração do 1º de Maio pela CGTP, em Lisboa, com mais de mil, em contraponto com as celebrações religiosas que só estão autorizadas a partir do fim de semana de 30/31 de maio. Ou ao confinamento obrigatório que ainda persiste para os casos de infetados, por exemplo.."Há uma desorientação jurídica na atuação governamental. Há dois erros estratégicos do primeiro-ministro que devia ter desencadeado junto do Parlamento a aprovação de uma lei de calamidade sanitária - a que temos é administrativa, à luz a proteção civil, e aplica-se a incêndios, desastres naturais, terramotos. Assim, responsabilizava os partidos políticos e envolvia o Presidente da República, porque tinha que a promulgar." Otero aponta ainda outro erro político de Costa: não ter convidado Marcelo Rebelo de Sousa para presidir ao Conselho de Ministros que determinou a saída do estado de emergência para a situação de calamidade. "Seria uma forma de corresponsabilizar o Presidente. Se correr mal, tudo será exclusivamente imputável ao Governo." O bastonário da Ordem dos Advogados não deixa igualmente de referir inconstitucionalidades. "O Governo começou tardiamente na resposta à pandemia, embora depois tenha tomado medidas corretas, do ponto de vista social e económico, embora não nos pareça que agora o estado de calamidade as legitime constitucionalmente", afirma Luíz Menezes Leitão, ao mesmo tempo que dá uma achega ao setor da justiça, acusando o Executivo de não ter atribuído aos advogados os mesmos apoios que concedeu trabalhadores independentes - "uma discriminação intolerável.".Há falhas, mas também a humildade e a honestidade intelectual de que é preciso fazer ajustamentos, defende, por seu turno, o politólogo André Freire. E dá como exemplo o que aconteceu agora com a adoção das medidas que vão beneficiar os sócios gerentes das empresas - e que tinha sido proposta pelo PSD. Haveria quem fizesse melhor? Que Estado está preparado para responder de imediato com milhões e milhões em apoio social, quando também perde milhões de impostos pela via do trabalho e do consumo?"Acho que a política portuguesa está a ficar bastante responsável e o sistema político está a dar sinais de maturidade. Os partidos políticos disponibilizaram-se por ora para este debate primordial. Esta gestão séria e responsável da crise também deve ser assacada às oposições", sublinha André Freire..Os tempos são de incerteza e divergência, diz o politólogo, lembrando que começam logo na comunidade científica sobre o comportamento de um vírus que já fez mais de 270 mil mortos no mundo e infetou quatro milhões de pessoas. "Nestes contextos de grande incerteza, os políticos vão ajustando posições. Estas crises, se não forem mal geridas, geralmente beneficiam o executivo. E as oposições, mantendo a sua diversidade, têm tido um papel responsável.".E o SNS não colapsou.O primeiro caso de covid-19 surgiu em Portugal a 2 de março e a primeira morte a 16. A situação em Itália - que rapidamente ultrapassou a China com o maior número de mortes - e a situação dramática mesmo aqui ao lado em Espanha faziam temer o pior. Medidas tomadas atempadamente, consideram uns, o facto de os portugueses terem acatado as ordens para ficar em casa, entendem outros, justificarão os resultados no campo sanitário. Mas há que aponte os males crónicos do SNS: "Nenhum país estava preparado para responder a uma pandemia como esta, ainda mais Portugal com um SNS que somava anos de suborçamentação. Apesar dos constrangimentos, e seguindo muitas das recomendações da sociedade civil e de instituições como a Ordem dos Médicos, o Governo conseguiu reorganizar o SNS para responder a estes doentes. Porém, infelizmente, a resposta aos chamados doentes não covid-19 não foi acautelada e os primeiros dados sobre excesso de mortalidade são preocupantes, desconhecendo-se o impacto total dos cancelamentos de consultas, cirurgias, exames e quebra nos episódios de urgência", alerta Miguel Guimarães, bastonário dos médicos..Ana Rita Cavaco, bastonária dos enfermeiros, acrescenta: "Se é verdade que o SNS não colapsou nos últimos dois meses, também é verdade que os problemas estruturais do SNS não desapareceram com este vírus. Pelo contrário, mais consultas e mais cirurgias foram adiadas. E se não colapsou foi, mais uma vez, pela entrega dos profissionais de saúde, que se anteciparam às medidas, como sempre acontece, embora sem mediatismo. Quando diziam que a máscara não era útil, os profissionais defendiam o uso de máscara; quando não havia equipamento de proteção individual para todos, os profissionais puseram as mãos à obra e protegeram-se como puderam. É necessário continuar o caminho de reforço, ou passaremos do caos na saúde para a calamidade permanente na saúde, com ou sem pandemia." José Manuel Jara, psiquiatra e membro do Conselho Nacional de Ética e Deontologia Médica da Ordem dos Médicos afirma, por seu turno, que a ação o Governo "agiu atempadamente, reconhecendo a urgência de tomar as medidas adequadas para prevenir a epidemia e suster a sua progressão, o que acabou por colmatar a falta de recursos inicial em termos de resposta hospitalar. As coisas têm corrido melhor do que se esperava, com exceção dos lares, em que houve atraso nas medidas, o que fez disparar os casos..É precisamente a questão social que Eugénio Fonseca avalia. "No plano social, as medidas apresentadas são úteis, mas em termos de planeamento face à crise - que já se percebe que vai ser muito grave -, está a tardar na apresentação de um plano que possa dar melhores condições de bem-estar aos portugueses mais afetadas", afirma o presidente da Cáritas Portuguesa que entende que a preocupação pela recuperação da economia esta no caminho certo, mas tem que ser acompanhada de realismo, sem esquecer que dela dependerá grande parte da criação e sustentabilidade dos postos de trabalho..Bagão Félix, que além de ministro das Finanças também liderou a pasta da Segurança Social e do Trabalho, aponta como mais negativo o facto de o Governo não ter prevenido situações de idosos, de ter implementado medidas de proteção social aos soluços e incompletas, a saga das máscaras, de dispensáveis a obrigatórias, e "dois pesos e duas medidas face a certas clientelas".."Fechar um país não é uma decisão fácil".Foi na área da educação que o Governo deu o primeiro grande passo para o confinamento social, ao decidir o encerramento das escolas a partir de 16 de março, três dias antes de ser declarado estado de emergência, mesmo contra o parecer do Conselho Nacional de Saúde Pública. "Fechar um país não é uma decisão fácil e talvez o ponto mais frágil na gestão da crise tenha sido a comunicação até à decisão de se fechar. Gerou-se um sentimento de pânico nas pessoas, o que dificulta a gestão do risco sem paralisar a sociedade. Vivem-se situações muito difíceis nas famílias, apesar do apoio do estado e do esforço que todos têm feito para se ter algum equilíbrio nas respostas. Percebendo que a crise está para durar, foi preciso evoluir nas soluções para permitir um regresso gradual, tranquilo e com confiança a alguma "normalidade", e ainda será preciso continuar a evoluir nas respostas", diz Jorge Ascenção, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP)..Ao mesmo tempo que informou da decisão de fechar as escolas, António Costa anunciou também apoios para os pais que tenham que ficar em casa com os filhos. Com a constatação de que os alunos não regressariam às escolas - só os 11.º e 12.º anos voltarão a ter aulas presenciais a partir de 18 de maio por causa dos exames - e perante as críticas de que nem todas as famílias têm acesso às tecnologias, assistiu-se ao regresso da telescola para colmatar as desigualdades.."A educação falhou. Deixou a ideia que os exames são o mais importante, a pensar no acesso às faculdades, de forma economicista. Também a telescola deve ser um meio suplementar e não uma via única, com despejar de matérias", aponta Maria José Magalhães, professora universitária e presidente da UMAR, que não deixa de frisar como positivo as medidas tomadas no âmbito do combate à violência doméstica - foi criado a linha de SMS 3060 para as mulheres confinadas em casa com os agressores e impedidas de se queixarem..Quem entende que o Executivo esteve bem na educação é Dulce Rocha, presidente do Instituto de Apoio à Criança (IAC). "O Governo deu uma resposta multifacetada e agarrou as questões importantes. O encerramento das escolas, que implicam com muitas pessoas e muitas viagens, foi uma medida justa e no tempo adequado. Tem havido um esforço notório em trazer as crianças para o ensino, em não deixar ninguém para trás, através da telescola, da entrega de computadores, de visitas às casas.".Paula Carqueja, presidente da Associação Nacional de Professores (ANP), considera que, "nos momentos mais aflitivos, o Governo, nomeadamente o primeiro-ministro, esteve presente, com atitude otimista, com mensagens de confiança, com sentido de Estado protetor". Há um "mas": "Foram bastantes os deslizes em todas as áreas e não os podemos desvalorizar, pois todos confiamos e acreditamos num estado protetor que não pode falhar em nenhum momento.".Fazer um balanço num momento em que ainda decorre a crise é incerto, ressalva outro homem da área da educação, o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP). " Relevo a capacidade de uma rápida passagem do ensino presencial para um modelo à distância, estando as intuições mais preparadas para as mudanças societais (...) Nesta nova fase, coloca-se a recuperação económica e social, tendo sempre em mente a evolução intergeracional. E isto não se consegue sem a aposta num sistema de ensino e ciência forte, dinâmico, equitativo e distribuído pelo país", diz Fontainhas Fernandes..O cientista Carlos Fiolhais, professor da Universidade de Coimbra, dá créditos ao primeiro-ministro por, em coligação com o Presidente da República, ter controlado a curva epidémica. "Para já, o pior foi evitado. Mas agora é preciso gerir bem o resto, não só na saúde, mas também nas avassaladoras questões económicas e sociais. Soubemos confinar, falta saber desconfinar. Vejo algumas debilidades no governo: a ministra da Saúde tem falhado na contagem de infetados; o ministro das Finanças, que era o "Ronaldo", parece estar fora de jogo; o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior tem sido incapaz de representar a ciência; e a ministra da Cultura, que era inexistente, assim continua.".No calendário previsto para o desconfinamento estáo regresso dos jogos da I Liga e da Taça de Portugal a 1 de junho. Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol, considera que esta decisão frustra as expectativas de muitos clubes e jogadores, mas reconhece que é tomada na defesa da saúde pública, sem olhar a popularidades. Já José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, entende que o Governo "soube ouvir os diferentes parceiros e decidir tendo em atenção a conciliação da atividade dos nossos atletas com a salvaguarda das regras de segurança no que respeita à saúde pública"..Dois meses de crise parecem não pesar na popularidade de António Costa e do seu Governo. Mas a fatura política acabará por chegar, acreditam tanto o politólogo André Freire como o constitucionalista Paulo Otero - porque esta crise será mais grave do que a de 2008 (em Portugal o auge foi o 2011) e a economia nossa ficou muito dependente do turismo, um setor que vergou com a pandemia. Desta vez, a vantagem de Portugal é que a crise bate à porta de todos os parceiros europeus, não apenas aos países do sul..Para o escritor Afonso Reis Cabral ainda é demasiado cedo para avaliações fundamentadas, mas até agora o balanço é positivo. "Daqui para a frente, veremos a fibra do Governo perante o comportamento imprevisível do vírus. Será mais difícil atuar contra a população do que no respaldo dela, quando o impacto económico se fizer verdadeiramente sentir. Contudo, o Governo soube focar o medo, controlá-lo, e aplicar medidas eficazes e sensatas, inclusive no que diz respeito ao plano de desconfinamento. Mas se Afonso Reis Cabral considera o balanço positivo, também destaca "desonrosas excepções para erros de comunicação como o 'nada faltará ao SNS', e para avanços e recuos quanto ao uso das máscaras." A excepção é também para a Cultura: "que continua sem um plano estratégico decente. Não me refiro sequer ao desaire daquele festival de música ao estilo de favores em cadeia, basta ver a solução para o sector do livro: em vez de medidas abrangentes que favoreçam todos os profissionais, dando-lhes armas para se defenderem, aplicam-se paliativos como a compra de alguns livros. Meras migalhas.".Certo é que a vida mudou, "num ápice", como recorda Maria Helena Trindade Lopes professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa. "A palavra liberdade redesenhou-se consoante a capacidade de sonho de cada um e o medo não foi mais forte que a esperança, a determinação e a confiança de cada português. Confiança foi para mim o vocábulo... Confiança no SNS, confiança nas lideranças - destacando áreas estruturantes como a Educação e a Saúde.".Com Carlos Ferro, Carla Ribeiro, Catarina Pires, Catarina Reis, Céu Neves, David Mandim, Filipe Gil, Filomena Naves, João Céu e Silva, Lina Santos, Nuno Fernandes, Paula Sofia Luz e Rita Rato Nunes.