Quando Rodrigo Mora encontrou Deniz Gül na pequena área para o turco fazer o golo decisivo da vitória frente ao Moreirense (2-1) na última segunda-feira (27), o FC Porto chegava ao seu sexto tento oriundo de um lance de bola parada neste campeonato. O número representa aproximadamente 28,5% dos golos portistas no campeonato e mostra uma boa fase da equipa comandada por Francesco Farioli no quesito. E, aliás, foi também após um canto que Victor Froholdt sofreu o penálti posteriormente convertido por Samu para empatar a partida na mesma ocasião.As estatísticas não configuram um mero acaso. A evolução do futebol, com cada vez mais pormenores dentro e fora dos relvados, tem, nos últimos anos, dado especial protagonismo aos especialistas em bola parada. A pedido de Farioli, o FC Porto foi repatriar em Itália um dos responsáveis pelo sucesso dos dragões nas bolas aéreas até agora.O treinador adjunto Lino Godinho foi recrutado junto ao Torino no início da época e é quem orienta os atletas neste tipo de lances, o que se tem mostrado fundamental nos cruzamentos de Gabri Veiga ou Rodrigo Mora. Dentro da área, Samu (1,93 metros), Kiwior (1,89), Bednarek (1,90), Froholdt (1,87), Luuk de Jong (1,88), Pablo Rosário (1,88) e, mais recentemente, Deniz Gul (1,90), são algumas das ameaças aos adversários.A alta estatura também tem servido como escudo, tendo em vista que, até agora, o FC Porto só sofreu dois golos no campeonato, sendo nenhum de bola parada. Números que impressionam e são valorizados por Farioli, que exaltou, além de Lino, outros responsáveis pelo sucesso ofensivo e defensivo do Porto nas bolas paradas."Não há segredos especiais, só trabalho e dedicação. A menção tem de ser feita a quem está mais responsável por isso: ao Lucho [González], ao Lino [Godinho] e ao Carlos [Pintado], que vem com propostas e ideias, gastam muito tempo com esta parte, ofensiva e defensivamente. É uma grande parte do jogo, mencionaram os cantos e o pontapé de saída, mas sempre que a bola está fora são momentos muito importantes", sublinhou após a partida contra o Moreirense.Arsenal é exemplo no quesitoO caso mais flagrante de que a bola parada tem virado cada vez mais objeto de obsessão pode ser visto junto no único clube que, neste início de época, supera o FC Porto nas cinco principais ligas europeias neste registo: o Arsenal.Ao todo, a equipa inglesa já marcou sete golos a partir de bolas paradas na Premier League, números fundamentais para os comandados de Mikel Arteta ocuparem a posição de liderança da Premier League até o momento tendo em vista que, no total, foram apenas 16 bolas na rede por parte dos gunners até agora. O ponto forte do Arsenal também tem causado impacto nos torneios europeus. .Com Declan Rice a mostrar-se um exímio cobrador de livres, diretos ou indiretos, a buscar quase sempre Gabriel Magalhães ou, a partir desta época, Viktor Gyokeres, os Gunners tem incomodado grandes equipas do continente com sua arma já não tão secreta, mas praticamente impossível de contrariar. Na última semana, a defesa do Atlético de Madrid passou por maus bocados na derrota por 4-0 frente aos ingleses que tem no alemão Nicolas Jover o especialista no quesito. E atenção que estamos a falar do Atlético de Diego Simeone, um dos mais disciplinados defensivamente em toda Europa.Motivo de assunto em Inglaterra desde a última temporada, Nicolas Jover virou uma estrela com função pouco falada até então, a de Set Pit Coach (treinador de bolas paradas), sendo recrutado por Arteta junto ao Manchester City, onde o treinador espanhol auxiliava Pep Guardiola. O alemão já foi apontado pelo próprio Arteta como responsável por diversas vitórias dos gunners e já chama atenção de jornais e de adeptos ingleses há algum tempo: nas redes sociais, por exemplo, já tem mais de 100 mil seguidores, sendo quase ídolo dos arsenalistas..A aposta em especialistas em bola parada mostra ter futuro também em outros países, como em Itália, onde Antonio Conte, no Nápoles, conta também com um adjunto perito. Nas seleções, também é assim: na de Portugal, o selecionador nacional, Roberto Martínez, juntou à sua equipa técnica Austin MacPhee, outro especialista, em janeiro.Mas afinal, pode a bola parada decidir o título no campeonato português? Na última época, o Benfica, que liderou o número de golos no quesito (mais de 30%) ficou atrás do campeão Sporting, mais forte no "jogo corrido", do que em livres ou cantos. Este ano, o Benfica segue tendo força na estratégia - só na última partida (5-0 ao Arouca), foram quatro desta forma, mas apenas um de canto e outros três de penálti.Esta época, tanto em Portugal quanto em Inglaterra os números não enganam e, mostram, para já, uma vantagem na tabela para quem investe tempo e recursos nas jogadas de bola ensaiada, como os cantos e livres indiretos. Que o digam Jover e Lino Godinho, líderes silenciosos que têm ganhado destaques e análises como esta..Lesões, concorrência e extracampo: como Endrick foi do estrelato ao ostracismo no Real Madrid.Ansu Fati reencontra o bom futebol no Mónaco e volta a sonhar com a seleção espanhola