Em dezembro de 2022, Endrick tinha apenas 16 anos, mas estava longe de ser um adolescente qualquer. No dia 15 do último mês daquele ano, o jovem que já fazia parte do plantel principal do Palmeiras, comandado por Abel Ferreira, foi o protagonista de uma das maiores transferências da história do futebol brasileiro.O negócio entre o Verdão e o Real Madrid foi fechado por valores que poderiam chegar aos 72 milhões de euros pela promessa canarinha, transferência que à época só ficava atrás da de Neymar quando deixou o Santos rumo ao FC Barcelona. Quase três anos depois do negócio, no entanto, o futuro do jovem astro parece cada vez mais distante de Madrid.Após se destacar pelo Palmeiras durante mais um ano e meio antes de se mudar para a capital espanhola, Endrick, antes mesmo de atingir a maioridade que permitia sua ida para os merengues, deixou seu nome cravado na história do emblema de São Paulo: teve papel preponderante na conquista do bicampeonato alviverde no Brasileirão de 2023, quando marcou seis golos nas últimas oito jornadas daquele torneio e ajudou o Verdão a ultrapassar o então líder Botafogo.Paralelamente, dava também seus primeiros passos com a camisa da seleção brasileira. Ainda com 17 anos, marcou, num intervalo de três dias, dois golos decisivos frente a gigantes do futebol europeu: primeiro o da vitória contra a Inglaterra em Wembley (1-0) e depois o do empate (3-3) com a Espanha, no Santiago Bernabéu. Desde os tempos das camadas jovens, quando "sobrava" diante de adversários três ou quatro anos mais velhos — algo raro nesta idade —, o jovem natural de Taguatinga (DF), parecia ser daqueles que não enganava..Dono de força, velocidade, drible e faro de golo invejáveis, o brasileiro parecia seguir o destino natural de sua carreira ao virar uma das figuras da sua seleção, ídolo do clube que o formou e futura estrela de um dos maiores clubes do mundo. Neste ano e meio de Real Madrid, no entanto, o jovem não engrenou e, agora, ao ver sua vaga ameaçada na seleção brasileira para o Mundial de 2026, já admite: seu destino será fora da equipa comandada por Xabi Alonso.A falta de oportunidades em Madrid frustrou o brasileiro que, além de seus conterrâneos Vini Jr. e Rodrygo, vê no ataque merengue um Mbappé que não dá margens para sair da equipa e, quando o faz, é substituído por Gonzalo García, jovem formado no Real e que conquistou a confiança de Xabi Alonso desde o Mundial de Clubes, em julho.Para piorar, Endrick não tem tido sorte com as lesões. Após participar em 37 partidas na última época, na qual ficou de fora por um mês entre agosto e setembro do ano passado, assinalando sete golos, o jovem teve uma lesão na coxa em maio que o tirou do torneio nos EUA. Enquanto não atuava, viu o seu extracampo virar piada entre os tablóides espanhóis, especialmente devido ao seu contrato de namoro — agora casamento — com Gabriely Miranda. No documento assinado por ambos, havia cláusulas de palavras proibidas, encontros semanais e necessidade de dizer "amo-te" constantemente, pontos que os jornais espanhóis não perdoaram.Recentemente, o jovem completou cinco meses sem atuar pelo clube, mesmo já recuperado da sua última lesão, com a expetativa de mais protagonismo sob o comando de Xabi Alonso ainda não concretizada. "Está claro que todos querem jogar, ainda mais um jogador jovem", disse o treinador espanhol em conferência de imprensa após a vitória frente à Juventus na última semana. "É difícil, depende dos jogos, mas paciência, tem que estar preparado, saber que está no Real Madrid e que chegará seu momento", prosseguiu.Enquanto espera seu momento, clubes da Premier League como Manchester United, Newcastle e Tottenham monitoram de perto a situação do brasileiro em Madrid, assim como os italianos da Juventus e os franceses do Marselha, de acordo com o jornal A Bola. Atento também está Carlo Ancelotti, com quem, diga-se, Endrick nunca gozou de muito prestígio ainda nos tempos de Carletto em Madrid.Nos seus primeiros momentos à frente da seleção canarinha, Ancelotti tem dado oportunidade a outros nomes: Richarlison, seu comandado dos tempos de Everton, é um dos jogadores de sua confiança para o setor, que também já teve testados nomes como Matheus Cunha (Manchester United), Igor Jesus (Nottingham Forest), João Pedro (Chelsea) e Kaio Jorge (Cruzeiro).Ainda no futebol brasileiro, Endrick enfrenta concorrência de peso com a grande fase de Vitor Roque (Palmeiras), Pedro (Flamengo) e a mais nova joia canarinha, Rayan (Vasco). Se ainda quiser sonhar com uma vaga entre os 26 que viajam aos Estados Unidos, México e Canadá no próximo ano, Endrick terá que escolher bem o seu próximo destino para convencer Ancelotti de que ainda é o fenómeno que parecia predestinado a se tornar anos atrás.nuno.tibirica@dn.pt.Nick Woltemade. O gigante alemão que “é como um Messi com dois metros de altura”.Ansu Fati reencontra o bom futebol no Mónaco e volta a sonhar com a seleção espanhola