Uma nova exposição permanente dedicada à produção artística desde 1970 à atualidade, a exibição da obra dos artistas portugueses José Pedro Croft, Ângela Ferreira e Francisca Carvalho, e dos artistas internacionais Ines Doujak, Lubaina Himid, Patrícia Dominguez, Frida Orupabo, Neïl Beloufa e Marisol. Além disso, duas novas exposições no Centro de Arquitetura. É o que propõe o Museu de Arte Contemporânea do Centro Cultural de Belém (MAC/CCB), que apresentou esta manhã a sua programação para 2026. Nuria Enguita, diretora artística do museu, explica que o título da exposição permanente que será inaugurada no dia 25 de fevereiro, May I Help You? Posso Ajudar? advém de uma performance da artista norte-americana Andrea Fraser (de 1991), um trabalho que questiona as relações institucionais no mundo da arte, e a partir da qual se coloca a pergunta: qual o papel de um museu "numa era de crescente fragmentação, dissonância e impermanência"? As curadoras foram buscar obras de 90 artistas das coleções Berardo, Coleção de Arte Contemporânea do Estado, Holma/Ellipse e Teixeira de Freitas, desde a década de 1970 até à atualidade, entre eles Ad Minoliti, Doris Salcedo, Helena Almeida, Gilbert & George, Jeff Koons, Júlia Ventura, Kara Waker e Richard Serra. Também foram pedidas de empréstimo obras de Alberto Carneiro, Ana Jotta, Gabriel Abrantes, Sara Bichão e Silvestre Pestana.Aos artistas Bruno Zhu, Carla Filipe e João Marçal foi-lhes solicitado que adaptassem obras existentes à exposição numa lógica site-specific..No dia 30 de abril abrirá portas a exposição Reflexos, Enclaves, Desvios, de José Pedro Croft, com curadoria de Luiz Camillo Osorio. Ocupará o piso 0 do MAC/CCB até 13 de setembro e mostrará gravuras, desenhos e relevos em articulação com esculturas. O artista explora os temas do corpo, escala, espaço e arquitetura.A diretora artística do MAC/CCB considera que embora José Pedro Croft "seja um artista muito conhecido, a exposição é quase uma instalação única, e acho que pode ser muito interessante. Eu já vi a maqueta". .José Pedro Croft cederá o espaço a Ângela Ferreira, uma das primeiras artistas a questionar o passado colonial do país, sublinha Nuria Enguita, a quem caberá a curadoria. A partir de 24 de outubro e até 28 de fevereiro de 2027, Ângela Ferreira, nascida em Maputo, Moçambique, e formada em Escultura pela Universidade da Cidade do Cabo na África do Sul, expõe instalação, vídeo, fotografia e escultura, desde os seus primeiros trabalhos, dos anos 1990, às obras mais recentes, em torno dos efeitos e resistência ao colonialismo..Francisca Carvalho (Coimbra, 1981) expõe a partir de 12 de novembro a 4 de abril de 2027. Trata-se de uma artista com "um vocabulário muito rico e singular na cena artística portuguesa", afirma a diretora artística do MAC/CCB. Será possível ver colagens, desenhos, padrões, pinturas, têxteis e textos da artista cujo trabalho "assenta na manipulação de símbolos e sinais oriundos de geografias diversas". Em destaque nesta mostra estará o trabalho de investigação da artista na Índia, relacionado com técnicas tradicionais de tingimento e impressão de tecidos. . A exposição Olhos Múltiplos traz a Portugal o trabalho de Ines Doujak, Lubaina Himid, Patricia Domínguez. São três artistas de diferentes gerações, que convidam o público "a encarar a alteridade não como ameaça, mas como espaço de aprendizagem, reflexão e cocriação de conhecimento", diz Nuria Enguita, curadora desta mostra juntamente com Rafael Barber Cortell, que estará patente de 14 de maio a 25 de outubro."São três artistas muito, muito marcantes para este momento, para um pensamento contemporâneo que pensa, como já disse, a alteridade desde outro lugar, questões de género, questões de raça, questões de animalidade, questões ecológicas, mas também desde um posicionamento mais carnavalesco, mais narrativo, mais mágico. É uma mistura interessante, creio que pode ser para todos os públicos com a mente aberta". . Em junho o museu acolhe, pela primeira vez em Portugal, o trabalho de Frida Orupabo, socióloga e artista radicada em Oslo, na Noruega, que através de colagens, físicas e digitais, aborda questões relacionadas com raça, género, sexualidade, relações familiares, violência e identidade. A mostra intitulada Cloud of Confusion e com curadoria de Marta Mestre, reúne um conjunto de trabalhos mostrados pela artista no Instagram. A exposição remete para o digital, com um percurso de oito momentos, "ecoando o deslizamento contínuo entre ecrãs que caracteriza a nossa experiência digital", explica o museu. O título, por sua vez, "evoca a nuvem digital onde armazenamos imagens e dados, e também a névoa de informação, memória e esquecimento". Abra as portas ao público no dia 4 de junho e estará patente até 1 de novembro. .Marta Mestre é também curadora da exposição do artista franco-argelino Neïl Beloufa, uma obra que explora os limites entre realidade e a ficção, o real e o imaginário. Também uma estreia em Portugal, a proposta é um percurso interativo, "no qual o público interage com objetos e experimenta capítulos de um jogo de computador ao vivo (um posto de interrogação, um cenário do filme em Agrabah, um arquivo, um karaoke, um quarto de dormir, quartéis militares, etc.)". E porquê Agrabah, a cidade imaginária onde se desenrola a história de Aladdin? Porque em 2015 um inquérito mostrou que um terços dos norte-americanos apoiava o bombardeamento de Agrabah e 15% revelavam incerteza. "Uma piada, sim, mas também uma marca dos tempos: a confusão voluntária ente ficção e geopolítica", descreve o MAC/CCB. A mostra estará patente de 12 de novembro a 4 de abril de 2027. .Nuria Enguita considera que as exposições de Francisca Carvalho, Neïl Beloufa e Frida Orupabo podem interessar muito ao público mais jovem. "Para os jovens, pode ser muito interessante Frida Orupabo e Neïl Beloufa, mas também Francisca Carvalho, porque utilizam a linguagem dos jovens. Evidentemente é um pensamento crítico, mas, por exemplo, o Neïl trabalha com muitos miúdos, e trabalha muito a ideia de que a arte já tem que chegar através dos terminais das pessoas, dos telemóveis", diz a diretora artística do CCB.Entre 3 de dezembro de 2026 e 12 de abril de 2027 será possível ver Marisol: When things are just beginning. Trata-se de uma exposição retrospetiva de Marisol Escobar, artista nascida em 1930 e que morreu em Nova Iorque em 2016. Mostra mais de 100 obras produzidas desde os anos 1950 até à sua morte, desenhos e esculturas, quase todas provenientes do Buffalo AHG Art Museum, que participou na conceção desta exposição coproduzida pelo MAC/CCB e pela Fundação Botín. Também será possível ver filmes de Andy Warhol em que a artista participou e material de arquivo. Com curadoria de Laura Vallés Vílchez, esta mostra virá de Santander para Lisboa. "O Buffalo AHG Art Museum foi o primeiro museu que lhe adquiriu uma obra, então ela, quando morreu, deixou lá quase todo o seu legado e arquivo. O catálogo vai ser muito importante", sublinha Nuria Enguita. . No Centro de Arquitetura estão previstas duas novas exposições: Habitar Portugal e Terra Crua. A primeira é organizada pela Ordem dos Arquitetos em colaboração com o MAC/CCB e apresenta obras da arquitetura portuguesa entre 1975 e 2025, de dentro e fora do país. Pretende mostrar a arquitetura como "gesto político" e o "evidenciar de posições de rutura". A curadoria é de Alexandre saraiva, Célia Gomes e Rui Leão, e estará patente de 12 de fevereiro de 2026 a 26 de abril de 2027. Já a exposição Terra Crua está prevista para 25 de junho a 1 de novembro. Com curadoria de Madalena Vidigal, mostram-se conteúdos científicos e históricos, protótipos, casos de estudo e "instalações colaborativas e vivas, analisando e reutilizando terras escavadas em obras urbanas na cidade de Lisboa", lê-se na descrição divulgada pelo museu. O que se propõe é fomentar o diálogo entre profissionais, investigadores e cidadãos em torno da utilização de terra crua na arquitetura, "não como retorno nostálgico, mas como proposta radical para a arquitetura contemporânea em Portugal". .Pedro Casqueiro e o “desvio” antológico que às vezes é mais modernista do que pós-modernista.Carlos Bunga: “Foi uma exposição em que deixei a pele, por ser o meu país, por ser um regresso”