"Em termos muito latos, será uma representação ou uma tentativa de compreensão do mundo à minha volta”, diz Pedro Casqueiro sobre a exposição Detour (desvio, em inglês), que estará patente entre hoje e dia 6 de abril do próximo ano no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa. No fundo, explica o artista plástico ao DN, esta coleção, que é também um corolário de várias coleções privadas, representa a forma como vive. “São estímulos quer exteriores quer interiores. Enfim, é usar o exterior de uma forma pessoal. Como ao mesmo tempo pode ser projetar e tentar comunicar o interior com o exterior e com os espectadores que vejam o meu trabalho. “Noutro tom, as palavras do curador da exposição, João Pinharanda, contrariam o que a imprensa dizia sobre o trabalho de Pedro Casqueiro nos anos 90. Numa alusão a um artigo publicado pela revista K (1990-1993), João Pinharanda conta que Pedro Casqueiro surgia nesse contexto como sendo alguém que sugeria “uma espécie de desinteresse pelas coisas, e que trabalha pouco, e que gosta de estar deitado a ler. Aliás, na fotografia da K vem ele deitado numas almofadas a ler”, lembra o curador da exposição, jocosamente. .“E é o contrário”, acaba por rematar João Pinharanda na apresentação daquele percurso antológico, que não é uma retrospetiva. Na verdade, o curador deixa uma pergunta retórica para caracterizar o trabalho de Pedro Casqueiro: “Qual é o traço que junta estas coisas todas?” “Alguma coisa junta estas coisas todas, que são muito diversas entre si”, garante, afastando a ideia de “obsessão”, que é a primeira palavra que lhe ocorre. “É uma espécie de intensidade com que ele trabalha. A atenção com que ele trabalha as coisas, as pinturas. Com que ele regressa a elas”, explica.São quadros que foram pintados nos anos 80, mas também há outros deste ano. Portanto, não é uma época, mas toda uma vida. E não há só uma técnica, nem há só uma expressão. Não há só abstração. Aliás, Pedro Casqueiro, de forma tímida, diz que, agora, já não vê abstração em nenhuma das obras que estão ali expostas.“Toda a exposição é feita assim. De repente, há uma pintura que só tem letras e tem um bocado de uma playlist. Depois, há uma outra, ao lado, que tem uma rapariga tirada de uma capa de um disco. Depois, há uma outra, uma tela que parece uma estrela de xerife”, descreve João Pinharanda, ao lado do artista, que vai concordando com parcimónia com a posição do curador..A aparente ideia de “dispersão” e “futilidade” aparece naquela conversa entre o curador e o artista, mas é logo posta de lado, até porque, avança João Pinharanda, “há uma grande melancolia e um lado negro, um sentimento dramático”. “Por um lado, finge que não se interessa nada, mas interessa-se bastante”, atira.Pedro Penedo da Rocha Calhau Na sala mais ampla da exposição, que também corresponde ao desfecho, “há uma pintura que teve um origem simples”, de acordo com o próprio artista, mas que tem um segredo por trás. Porém, aparentemente, é apenas uma pedra, quase oblonga, com algumas cores, sem mais do que isso.“É uma caricatura”, diz Pedro Casqueiro, referindo-se ao nome da obra - Caricatura - “que não é nada evidente como título”. “Por baixo desta tinta existe uma serigrafia de uma caricatura minha, mais ou menos, a ocupar bastante a tela”, conta o autor, como se estivesse a contar uma história. E estava. “Não era uma imagem que eu quisesse particularmente manter, e, portanto, trabalhei, fiz esta espécie de rochedo, ou de menir, ou seja o que for, sobre a minha cara. Parece quase um retrato escondido. Pelo menos é assim que eu consigo perceber. Não faço questão que as pessoas tenham essa noção, apesar de eu estar a dizer.”Para além disso, há ainda uma viagem a uma memória do artista, que Pedro Casqueiro deixa passar, evocando uma brincadeira de infância: “Em criança, chamavam-me Pedro Penedo da Rocha Calhau, com as orelhas e dentes e cara de mau.” Para surpresa do curador da exposição, o artista explica que tudo está relacionado com o seu nome próprio, pela referência a pedra, e não com o apelido, Casqueiro, que está mais ligado a pau..Mas há muito mais para descobrir na pintura de Pedro Casqueiro, desde uma tela que parece ser uma malha de nós, quando na verdade é um jogo com uma letra impressa por uma máquina de escrever. “Isto aqui é a partir de ós de máquina de escrever”, diz o artista, sugerindo que aquele quadro “podia ser um poema visual da poesia visual dos anos 80”, até porque o “elemento verbal é igual, é um zero ou um ‘o’”.Ali perto, há mais uma obra que vinca a ideia de desvio, até porque marca mais uma característica do trabalho de Pedro Casqueiro. São frases, numa lista. É a tal playlist, ou lista de músicas. “É basicamente a parte de trás de um disco, de uma cantora de jazz,que é a Patty Waters, e eu, limitando-me a reproduzi-la, numa escala grande, e que parece, claro, de alguma forma, uma pequena história de amor”, assume Pedro Casqueiro, mostrando “as suas diferentes fases”. “É também trabalhar sobre coisas encontradas e dar-lhes uma ênfase que elas, à partida, nunca teriam”, vinca o autor, que assume que não faz citações nas suas obras, faz roubos. “Isso é, se quisermos terminar, mais modernista do que pós-modernista”, diz o curador da obra, juntando ao caldeirão de possibilidades mais ideias..Questionado sobre qual é o seu quadro preferido, Pedro Casqueiro garante que não o tem. No entanto, tem uma sala preferida nesta exposição. Ou duas. “Diria que é talvez a pequenina que tem aquela sequência de bruxas, e esta última [a que tem a playlist]. São as minhas salas preferidas.”.Sobre a bruxa, revela que é uma sequência de imagem tiradas d desenhos animados do Popeye. “É quase um micro filme no sentido que eu tirei aquelas imagens montei-as em sequência e a ação que pode dizer que é uma pequenina ação. Seriam os fotogramas de um micro micro filme que teria sido feito sobre aquela ação, que é uma bruxa a ser atacada e a morrer.”.Isabelle Ferreira leva ao MAAT a memória do salto e da migração.Fotografias, pinturas ou ambas? Jeff Wall ocupa MAAT até setembro