Uma semana de mentiras: como a filha que pediu ajuda está presa pela morte da mãe
"Pela hora do jantar, usando fármacos, colocaram-na na impossibilidade de resistir, agrediram-na violentamente no crânio com um objeto contundente, colocaram-na na bagageira de uma viatura e transportaram-na para a zona de Pegões, onde, com recurso a um acelerante, lhe pegaram fogo". A descrição parece a de um filme de terror, mas não se trata de ficção, mas sim do assassinato da professora do Montijo, de 59 anos, que terá sido cometido pela filha e genro, detidos e com a medida de coação mais gravosa, a prisão preventiva. Uma descrição feita pela própria Polícia Judiciária (PJ).
O crime está a chocar pela forma como foi cometido e, sobretudo, pelos autores: filha e genro, que viviam com a vítima e que tentaram simular desaparecimento de Amélia Fialho, professora de Físico-Química na Escola Secundária Jorge Peixinho, no Montijo.
A filha, Diana Fialho, de 23 anos, fez apelos nas redes sociais e deu entrevistas sobre o suposto desaparecimento da mãe, quando esta já estaria morta. A frieza com que proferiu as declarações, as contradições nos seus depoimentos e as provas recolhidas terão sido cruciais para a PJ levar a cabo a sua detenção e a do marido, Iuri Mata, de 27 anos.
Além do pedido de ajuda que publicou no Facebook, a estudante universitária deu uma entrevista à CMTV horas antes de ser detida.
"A minha mãe saiu, não nos disse para onde ia. Com as notícias que há no Facebook, já me puseram todas as hipóteses, já me disseram para procurar em becos, porque podem tê-la roubado e deixado estendida por aí, que possa ser raptada... Sinceramente não sei. Só espero que alguém a veja, que a leve a algum hospital ou para a polícia e que ela regresse a casa", disse Diana Fialho na referida entrevista, na qual afirmou que a relação com a mãe era "boa".
Mas o mau relacionamento familiar entre a vítima e os dois arguidos remonta, pelo menos, a 2014, ano em que a PSP do Montijo terá sido chamada a casa da família por alegadas agressões da filha adotiva à professora, agora assassinada.
Esta quinta-feira, a mulher foi encontrada morta em Pegões, no Montijo. "O corpo foi localizado, completamente carbonizado", revela a PJ, em comunicado.
Orlanda Carmo, a mãe de Iuri Mata, genro de Amélia Fialho, afirmou que o filho "tinha medo" da mulher e disse acreditar que ele "foi coagido por ela". "Nunca na vida ele teria pensado em tanta barbaridade. É impensável. Eu criei o meu filho, eu conheço-o", disse em entrevista à SIC.
Já em declarações à CMTV, esta mãe conta que só soube do que tinha acontecido quando o filho lhe ligou da PJ, às 05:30, quando já tinha sido detido. "Disse-me que tinha feito asneira", contou. "Perguntei-lhe onde estava a Amélia e ele ficou em silêncio", recorda Orlanda Carmo. "A Diana arquitetou as coisas muito bem. Ele estava nas mãos dela", garantiu.
Os dois suspeitos, que foram detidos na madrugada de sexta-feira, cerca das 02:00, cometeram o crime no sábado, acredita a polícia. O casal terá juntado um fármaco à bebida da professora durante o jantar, para a colocarem a dormir, agredindo-a posteriormente com um martelo na cabeça, o que, segundo a convicção da PJ, poderá ter sido a causa da morte, apesar de não haver ainda confirmação científica.
Já na madrugada do último domingo, os dois suspeitos, que também se terão convencido de que a mulher já estaria morta devido às agressões com o martelo, embrulharam o corpo num cobertor e transportaram-no pelo elevador do prédio para a garagem, onde o colocaram na bagageira do carro, referiu a mesma fonte.
De acordo com a PJ, os dois suspeitos levaram depois o corpo para uma zona descampada em Pegões, onde regaram o cobertor e o corpo com gasolina, provocando um pequeno foco de incêndio que foi combatido pelos bombeiros sem que tivesse sido detetada a presença de qualquer corpo.
Durante o trajeto até Pegões, os detidos terão comprado a gasolina e o isqueiro utilizado para pegar fogo ao corpo da professora.
O cadáver da professora, totalmente carbonizado e irreconhecível, só foi encontrado ao final do dia de quarta-feira, quando a GNR de Canha voltou ao local do incêndio.
A Polícia Judiciária de Setúbal, que já estava a investigar o desaparecimento da professora, verificou que o cadáver, apesar de irreconhecível, era compatível com o corpo da professora desaparecida, de muito baixa estatura, pelo que abandonou a tese de desaparecimento e começou de imediato a investigar o caso como provável homicídio.
Depois de consumarem o crime e de terem queimado o corpo da vítima, os dois suspeitos ainda tentaram afastar as suspeitas que sobre eles pudessem recair, comunicando o desaparecimento da vítima à PSP e nas redes sociais.
Por outro lado, tentaram, sem êxito, ocultar eventuais provas que os pudessem incriminar, lavando a casa e a viatura envolvida no transporte do corpo da professora. Desfizeram-se também do martelo que tinham utilizado para agredir a vítima, acrescentou fonte policial.
Entretanto, o Tribunal do Montijo decretou na sexta-feira prisão preventiva para o casal suspeito de ter matado uma professora, que é mãe e sogra dos arguidos, na sequência de desavenças familiares, disse à agência Lusa fonte policial. Os dois suspeitos, a filha adotiva e o genro da vítima, vão aguardar julgamento nos estabelecimentos prisionais de Tires e do Montijo, respetivamente.