Profissionais de saúde e segurança optam por não levar filhos à escola, dizem diretores

Apesar de as escolas terem aberto, a mando do Governo, para receber filhos de profissionais de saúde e das forças de segurança, as salas e recreios estão vazios de alunos. A alteração do despacho que permite a estes pais designar um tutor pode ser a explicação, diz a direção do Sindicato dos Enfermeiros.
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Com o país em estado de alerta, as aulas presenciais estão suspensas em todo o país a partir desta segunda-feira e pelo menos até 9 de abril, mas nem todas as escolas fecharam. Cerca de 800 preparam-se para receber alunos filhos de profissionais de saúde e das forças de segurança - a exceção à regra, para que os pais possam ir trabalhar. Contudo, chegado o primeiro dia da semana, não se vê nenhum aluno nas escolas, dizem diretores.

Apesar de o Governo ter decretado, na quinta-feira passada, o encerramento de todos os estabelecimentos de ensino no continente, pediu que fossem garantidos serviços mínimos. Daqui, reuniu-se uma lista de 800 escolas dispostas a assegurar refeições aos alunos mais carenciados e a acolher os filhos de profissionais cujo trabalho é imprescindível para o plano de contenção do novo coronavírus.

Uma medida que provocou "um frenesim" entre os profissionais de emergência médica, relata a enfermeira Guadalupe Simões, da direção do Sindicato dos Enfermeiros. "Consideraram esta medida discriminatória, ter de deixar os seus filhos nas escolas", conta ao DN. Com a alteração do despacho, prevendo que estes profissionais possam designar um tutor para os seus filhos, "muitos colegas optaram por os deixar em casa de familiares", diz.

Certo é que, esta segunda-feira, as escolas não receberam alunos, diz Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP). "Penso que os pais optam por esta solução em último recurso", em parte porque "os próprios [estudantes] iriam estranhar este ambiente", conta ao DN. Muitos deles fora da escola onde estão inscritos, visto que o despacho do Governo prevê que seja garantida a abertura de pelo menos uma escola por agrupamento e não de todas.

"Claro que as escolas têm de oferecer esta alternativa, mas os pais não estão a acolhê-la", acrescenta o dirigente, garantindo que o cenário é comum "a nível nacional". Uma opinião partilhada pelo representante da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel António Pereira, que acrescenta que "as escolas não estavam preparadas para receber estes alunos", lembrando que tudo ainda corre a meio gás na comunidade educativa.

Os pais "estão a tentar perceber se têm familiares ou conhecidos em quem confiem" e, "se não tiverem, então aí sim procurarão as escolas", diz Filinto Lima. No entanto, a diretora-geral da saúde Graça Freitas lembrou, em conferência de imprensa este fim-de-semana, que os encarregados e educação devem evitar deixar as crianças e jovens com os avós, integrados no grupo de risco (a população mais idosa). O dirigente da ANDAEP acredita que os pais estão conscientes desta recomendação, visto serem "pessoas letradas, médicos, enfermeiros e polícias, alertados para aqueles que são os maiores grupos de risco".

Os últimos dados da Direção-Geral de Saúde (DGS), divulgados esta segunda-feira, apontam para 331 infetados por covid-19 em Portugal, mais 86 nas últimas 24 horas. A ministra da saúde, Marta Temido, alertou este domingo, em conferência e imprensa, para a probabilidade de o número continuar a aumentar e até sofreu o seu pico no mês de maio.

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