O Natal mais perigoso das nossas vidas? Um guia para correr menos riscos

As autoridades de saúde esperam um aumento da curva de contágios durante a época natalícia, mas há uma série de recomendações a seguir para minimizar o risco e não colocar em causa a luta contra um vírus à espreita de qualquer descuido. Da cozinha aos cuidados a ter à mesa da ceia de jantar, o sucesso deste Natal depende sobretudo das escolhas e comportamentos de cada um
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Não há volta a dar: a pandemia de covid-19 fará deste o Natal mais atípico na vida da maioria das pessoas. Máscaras, distanciamento, etiqueta respiratória, bolha social e familiar, ventilação de interiores e ceia virtual invadiram o vocabulário festivo e assumem tanta ou mais importância do que o peru, o bacalhau, as rabanadas ou os presentes na preparação de cada família para este Natal.

Em Portugal, o Governo optou por relaxar nestes dias (de 24 a 26) o quadro de restrições em vigor no âmbito do estado de emergência e não impôs qualquer limite máximo de pessoas por cada casa na ceia de Natal, ao contrário do que acontece em vários outros países, mas multiplicam-se os apelos à responsabilidade de cada um (e de cada família) para colocar um travão na esperada propagação do vírus nesta quadra festiva.

E há várias recomendações deixadas pelas autoridades de saúde e especialistas em saúde pública, que vão desde as pessoas com as quais é mais seguro fazer as típicas reuniões de Natal até ao tempo de contacto, passando por conselhos de comportamentos na utilização de espaços, como a cozinha ou a mesa das refeições.

O DN recolhe aqui as recomendações principais, de entidades como a Direção-Geral da Saúde ou o Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças, numa espécie de guia útil para ajudar a minimizar o risco de contágio e passar um Natal em segurança - com a certeza de que não há um "risco zero" e de que estaremos tanto menos expostos quanto mais medidas de proteção adotarmos.

A 15 de dezembro, a Direção-Geral de Saúde divulgou os seus "dez mandamentos" para um Natal mais seguro. Numa intervenção do subdiretor geral, Rui Portugal, foi relembrada a importância de:

- Cumprir as regras em vigor nestes dias, a nível do concelho, da região e do pais, em relação à mobilidade e a outras possíveis restrições a aglomerações que poderão existir;

- Cumprir as regras em caso de infeção, sintomas de covid-19 ou isolamento profilático;

- Reduzir os contactos antes e durante a quadra festiva, por exemplo, de 10 para quatro ou cinco pessoas;

- Reduzir o tempo com esses contactos: em vez de 4 ou 5 horas, passar menos tempo e de preferência em espaços exteriores;

- Reduzir "o máximo que pudermos" os contactos ao núcleo familiar; "A família aqui conta como aqueles que residem no mesmo espaço físico. Essa é a regra a considerar a família nesta época especial", afirmou então o responsável da DGS.

- Limitar as celebrações e os contactos físicos ao agregado familiar, enquanto os restantes devem ser feitos por meios digitais, e em caso de contacto fora desse agregado, que seja feito no exterior e com distanciamento físico;

- Distanciamento físico em todas ocasiões, entre 1 metro e meio a dois metros, especialmente na preparação das refeições, uma vez que as cozinhas são locais de alto risco, e ainda excluir os cumprimentos tradicionais, como beijos, abraços e cumprimentos de mão;

- Desinfetar e arejar os espaços, mesmo os de maior volume, os objetos e as superfícies com frequência;

- Lavar e desinfetar as mãos com frequência e utilizar a máscara de forma adequada, sobretudo em espaços fechados, e manter o distanciamento físico;

- Evitar a partilha de objetos comuns, em possíveis encontros.

A ceia familiar virtual é considerada o menor dos riscos pelos epidemiologistas e especialistas em saúde pública. Idealmente, as famílias deveriam celebrar este Natal apenas na presença física do seu agregado (as pessoas que moram numa determinada casa ao longo do ano), reunindo-se com o resto da família e/ou amigos apenas através de meios digitais.

Caso se façam reuniões com pessoas de fora do agregado familiar, a recomendação passa por fazê-lo em espaços exteriores, com a devida proteção (máscara, distanciamento social) e reduzindo o habitual tempo de exposição.

Se a opção familiar recair por um tradicional encontro no interior de uma habitação, com mais do que um agregado, o risco, naturalmente, aumenta. E há cuidados adicionais a ter em conta.

Um período de quarentena, antes do Natal, dos elementos que vão coabitar no mesmo espaço era uma das recomendação do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças, que catalogou como "muito alto" o risco de contágio durante estas festas familiares, sobretudo para "as faixas mais vulneráveis da população (idosos e doentes crónicos)", as quais devem ser "resguardadas".

Para quem não tenha tido a possibilidade de cumprir um período prévio de isolamento, a realização de testes PCR ou de antigénio também eram aconselhados, como forma de detetar algum eventual caso positivo antes das reuniões familiares, mas sempre com a consciência de que um teste negativo não justifica o relaxamento das medidas de proteção - os testes não são 100% fiáveis e há sempre a possibilidade de um desfasamento entre o período de infeção e o da realização do teste.

Nas reuniões familiares em espaços interiores, é recomendado o uso constante de máscara fora da refeição, o distanciamento social (cerca de dois metros), a redução do tempo de convivência (não precisa, por exemplo, de esperar pela meia-noite para anunciar a chegada do Pai Natal) e, muito importante, um correto arejamento dos espaços, mantendo, sempre que possível, algumas janelas ou portas abertas para entrada e circulação de ar.

"O maior problema é o local das reuniões", diz Elena Vanessa Martínez, presidente da Sociedade Espanhola de Epidemiologia, citadao pelo El País, que apela também à redução dos convívios. "Temos de limitar ao máximo os encontros, porque normalmente estas reuniões consistem em passar o dia inteiro a conversar e a beber. E nesses contextos o uso da máscara é complexo ", acrescenta.

Foi uma dos principais alertas deixado pelo subdiretor-geral de saúde sobre as reuniões de Natal. As cozinhas são, por tradição, um local de convívio onde costumam ser passadas várias horas na preparação da ceia de Natal. E a aglomeração de pessoas num curto espaço fechado ao longo de várias horas é, obviamente, um fator de risco acrescido de contágio que deve, como tal, ser evitado.

A Direção-Geral da Saúde lembrou que é fundamental manter a distância física em todas as situações e avisou que as cozinhas são "espaços de alto risco de contágio" nesta altura.

Se possível, as tarefas da cozinha devem ter o menor número possível de responsáveis; ou, pelo menos, a frequência do espaço deve ser alternada, de forma a ser possível manter sempre o distanciamento social entre todos. Os especialistas recomendam ainda que se evite a partilha de objetos e utensílios de cozinha. E, claro, também aqui o uso da máscara deve ser regra.

Durante a refeição, há também uma série de procedimentos aconselhados para minimizar o risco de contágio. Desde logo, o ideal será poder manter um adequado espaçamento entre pessoas e diferentes agregados. Outra recomendação passa pela não partilha de alimentos ou bebidas, sendo preferível dosear à partida por recipientes individuais, de forma a evitar a tradicional passagem de mão para mão.

Outra tradição da época são as músicas de Natal que muitas vezes acompanham as refeições e que, desta vez, são desaconselhadas ou, pelo menos, não devem ser colocadas em volume alto, de forma a não obrigar os comensais a falarem mais alto durante a refeição. Sabendo-se que a projeção de gotículas ou de aerossóis por via oral é uma das principais fontes de contágio, quanto mais alto for projetada a voz maior é o risco, numa altura, à refeição, em que as pessoas não estão a usar máscara.

É ainda recomendado que apenas uma pessoa fique encarregada de servir e recolher as coisas à mesa, para evitar cruzamentos de maior risco.

A pensar nas viagens e reuniões familiares nesta época de Natal, o Governo decretou algumas exceções para vigorarem entre os dias 24 e 26. Um alívio nas restrições que será depois revertido no Ano Novo.

Assim, para este período do Natal, é permitida a circulação entre concelhos e a circulação na via pública, já a partir desta noite de 23 para 24, "apenas para quem se encontre em viagem". Nos dias 24 e 25, a circulação é permitira até às 02.00 horas da madrugada seguinte. No dia 26, poderá circular-se até às 23.00.

Os restaurantes podem funcionar até à 01.00 nas noites de 24 e 25. No dia 26, nos concelhos de risco muito elevado ou extremo (pode consultar a lista aqui), os restaurantes podem estar abertos até às 15.30 (depois disso, apenas em entrega ao domicílio).

Já sabe: o risco está à espreita. E o bom senso, sublinham os profissionais de saúde, será a melhor das armas contra o vírus. Fica, por isso, como nota final, o apelo de Fernando Miranda, enfermeiro intensivista que trabalha no Serviço de Medicina Intensiva do Hospital de São João, no Porto, há 15 anos: "Gostaria de acreditar que a sociedade em geral vai cumprir as medidas decretadas pelo governo, mas, tendo em conta o último pico, penso que haverá um aumento de novos casos depois do Natal. Espero que haja bom senso da população".

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