Morre marroquino condenado por terrorismo que estava na prisão de Monsanto

Abdesselam Tazi, de 65 anos, foi encontrado "sem vida" na sua cama na cela da cadeia de alta de segurança. Tinha sido condenado a 12 anos de prisão por recrutamento e financiamento de terrorismo. Os Serviços Prisionais abriram um inquérito
Publicado a
Atualizado a

A PSP foi chamada esta manhã ao estabelecimento prisional de Monsanto, onde foi confirmado óbito do marroquino, que foi julgado e condenado em Portugal pelos crimes de recrutamento para o Estado Islâmico, financiamento do terrorismo e falsificações com vista ao financiamento do terrorismo. Tazi negou sempre todas as acusações, mas as provas apresentadas em tribunal levaram a que fosse condenado a 12 anos de prisão.

Morreu sem saber a resposta ao seu recurso ao Tribunal de Relação, em que contestava a sentença. O acórdão estava previsto para esta quarta-feira, mas foi adiado para dia 22 de janeiro, segundo noticiou a Lusa.

De acordo com fonte policial, Tazi terá morrido de "morte natural" na sua cela. Esteve no local uma VMER (Viatura Médica de Emergência). A Direção-Geral dos Serviços Prisionais adianta que esta manhã "no decurso da abertura das celas, os elementos da vigilância do estabelecimento prisional de Monsanto, encontraram o recluso deitado na cama da sua cela individual, sem sinais de vida. Foi imediatamente chamado o enfermeiro e ativado o INEM, que veio a confirmar o óbito". Acrescenta a DGRSP que, "como decorre do legalmente previsto foi chamado o órgão de polícia criminal com competência na área geográfica do estabelecimento e feitas as comunicações às autoridades judiciais competentes. O corpo foi encaminhado para o Instituto Nacional de Medicina Legal para efeitos de autópsia que determinará a causa da morte. Internamente foi determinada a abertura de processo de inquérito".

Abdesselam Tazi liderava a que ficou conhecida por 'Célula de Aveiro', da qual fazia parte Hicham El Hanafi, outro marroquino, que está preso em França por suspeita de ter participado na preparação de um atentado terrorista naquele país. As autoridades francesas acusaram ambos de integrarem uma rede internacional de recrutamento para o daesh.

Tazi e Hanafi, de 29 anos, foram investigados e vigiados pela Polícia Judiciária (PJ) desde 2014 por suspeitas de terrorismo. Entraram em Portugal em 2013, com documentos falsos, e pediram asilo político, que lhes foi concedido. Residiam num centro da segurança social na cidade de Aveiro - daí a designação 'Célula de Aveiro' - e tinham apoio financeiro do Estado português. Era aqui a sua base de recrutamento jihadista.

Viajaram por toda a Europa e foram detidos por fraude na Alemanha, em junho de 2016. Hanafi foi libertado, mas Abdesselam Tazi ficou preso até ser extraditado para Portugal, em março de 2017. Foi entregue à PJ e detido. Hicham El Hanafi acabou por ser detido em França, a 20 de novembro de 2016, juntamente com outras sete pessoas, de nacionalidades marroquina, francesa e afegã, por envolvimento na preparação de um atentado coordenado a vários locais simbólicos naquele país.

Abdesselam Tazi estava a aguardar a resposta do Tribunal de Relação de Lisboa a um recurso seu a contestar a condenação. Em sede de audiência de julgamento do recurso, que se realizou em 11 de dezembro, o advogado, Lopes Guerreiro, defendeu que o TRL "declare a nulidade do acórdão da primeira instância". O acórdão estava previsto para esta quarta-feira, mas o Tribunal informou o advogado que tinha sido adiada para dia 22 de janeiro.

Lopes Guerreiro considerou que "são manifestos os erros em matéria de facto" contidos no acórdão da primeira instância, pedindo a impugnação dessa matéria de facto por "contradição entre os factos provados e a fundamentação" da decisão condenatória.

No julgamento, Tazi classificou a acusação do Ministério Público como um "filme de Hollywood" e disse que "nunca recrutou ou financiou ninguém" para o terrorismo.

Na linha da investigação portuguesa, Abdesselam Tazi é apontado pelos franceses como o mentor e radicalizador de Hanafi e cabecilha de uma rede de recrutamento jihadista em toda a Europa.

Tazi, recorde-se, esteve quase a ser libertado em Portugal depois de o juiz Ivo Rosa, do Tribunal Central de Instrução Criminal, o ter despronunciado de todos os crimes de terrorismo de que estava acusado.

Tazi começou por ser julgado apenas por crimes comuns - falsificação de documentos e cartões de crédito -, mas a uma semana de ouvir a sentença, que certamente seria uma pena suspensa, tendo em conta os crimes em causa, o Tribunal de Relação concordou com um recurso do MP, o julgamento foi anulado.. O marroquino foi julgado de novo, desta vez por todos os crimes que lhe tinham sido imputados pelo MP e condenado.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt