Mais de 5 milhões de novos casos desde 1 de julho. Américas e Índia crescem. Europa e Ásia temem segunda vaga
Os Estados Unidos da América lideram a tabela, com um total de 4.148.011 e 145.727 mortes. De acordo com a OMS, hoje, 27 de julho, foram acrescentados 138.203 novos casos e 2064 mortes (a média de novos casos no país na última semana tem andado entre os 60 e os 70 mil).
Em segundo lugar neste trágico ranking vem o Brasil que soma 2.394.513 casos, dos quais 86.449 foram fatais, tendo nas últimas 24 horas registado 51.147 novas infeções e 1211 óbitos (os novos casos e as mortes mais que duplicaram de 22 de julho para a frente).
Na Índia, a situação epidemiológica está longe de estar controlada, embora a taxa de letalidade seja menor que a dos dois primeiros. Com 1.435.453 casos e 32.771 mortos, registou a 27 de julho 49.931 novas infeções e 708 óbitos, mantendo uma curva bastante ascendente, sem vestígio de planaltos.
Pelo contrário, na Rússia, quarto país mais afetado pela pandemia de acordo com a OMS, com 812.485 casos e 13.269 mortos, o planalto consolidou-se no mês de julho, com uma tendência ligeiramente descendente, mantendo-se, no entanto, números relativamente altos de novas infeções diárias, acima dos 5 mil casos (os últimos dados apontam para 5.765 no dia 26 de julho, dia em que se registaram 77 mortes).
No continente africano, que preocupa as autoridades mundiais de saúde pela pouca fiabilidade dos números, está o quinto país com mais casos, a África do Sul, que conta com um total de 445.433, dos quais 6.769 morreram. O número de infeções diárias tem vindo a crescer desde junho, tendo a 25 de julho chegado aos 13.944, um recorde. Dois dias antes tinha sido registado o maior número de mortes desde que a pandemia chegou àquele país: 572.
Colômbia, México, Argentina e Peru estão entre os países que, além dos primeiros cinco, mais novas infeções registam por dia e que, a juntar a todos os outros, levaram a que em julho, segundo Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, os novos casos tenham ultrapassado os 5 milhões e nas últimas seis semanas o número global de casos tenha duplicado.
O contágio por covid-19 continuar a acelerar, disse o responsável, na conferência de imprensa de hoje, razão pela qual convocará na próxima semana o comité de emergência para reavaliar a pandemia, que já infetou 16,096,741 pessoas em todo o mundo e matou 646,384, de acordo com a contagem da OMS, que chama a atenção para a diversidade de situações epidemiológicas nos vários pontos do globo, com países em estado de transmissão intensa e outros, que pareciam já ter a pandemia controlada e veem agora ressurgimentos da transmissão comunitária ou de surtos.
É o que está acontecer em alguns países europeus e asiáticos, que, embora tenham um número de novos casos muito abaixo dos mais afetados, temem o descontrolo que poderá levar a uma segunda vaga e apressam-se a tomar medidas para a evitar.
A abertura de fronteiras, o desconfinamento, as férias, a maior circulação de pessoas e um aparente relaxar das medidas de proteção em determinados segmentos da população, nomeadamente os mais novos, está a ser uma dor de cabeça (e também um quebra-cabeças) para os líderes e as autoridades de saúde.
Na Catalunha, o aumento de novos casos [cerca de 8 mil casos foram diagnosticados na região nos últimos 14 dias, quase metade dos 16,410 detetados em Espanha] levou o presidente do governo regional, Quim Torra, a endurecer as medidas e o discurso e a fazer um ultimato: caso a situação epidemiológica na região não sofra uma evolução positiva nos próximos 10 dias, volta-se ao confinamento total.
Espanha é um caso bicudo. Com 272.421 casos e 28432 mortos desde o início da pandemia, em março e abril foi um dos países do mundo mais afetados por esta. E se em maio e junho conseguiu controlar os números, a 10 de julho voltou a ultrapassar a barreira dos mil casos diários e a 26 deste mês registou 2255 em 24 horas, sendo, segundo o El País, o quinto país na Europa com uma maior incidência do vírus, atrás do Luxemburgo, Roménia, Bulgária e Suécia.
O Reino Unido, que ocupa o nono lugar mundial em número de infetados (298.685), o terceiro em fatalidades (45.738) e está também entre os que têm maior taxa de incidência na Europa, desaconselhou as viagens "não essenciais" para Espanha e retirou o país da lista de estados seguros, como já tinha feito com Portugal, obrigando os seus cidadãos a cumprir quarentena, no regresso de férias deste país.
Na Alemanha, que tem 205.269 casos e 9.118 mortes, mas desde finais de abril viu a curva epidemiológica descer consistentemente, um aumento de 600 novos em meados de julho (para 763), que chegaram aos 815, a 24 de julho, fez soar os alarmes.
O líder do estado da Saxónia declarou este fim de semana que uma segunda vaga já estava a acontecer e hoje, segunda feira, a região da Baviera anunciou que vai instalar centros de testes nas fronteiras e nas estações de comboio, para testar quem regressar de férias, depois de detetado um novo surto, numa plantação agrícola com 174 infetados.
Markus Söder, líder do estado da Baviera, disse ainda, em conferência de imprensa, "ser essencial testes obrigatórios nos aeroportos, e o mais rápido possível".
Na Bélgica, o governo também anunciou um agudizamento das restrições e alertou para a possibilidade de novo confinamento, depois de um pico de novos casos a nível nacional, com particular incidência na cidade de Antuérpia.
A oriente, os países mais preocupados, e não necessariamente os mais preocupantes, são a China, o Vietname e a Austrália.
Com focos de infeção localizados e que não chegam aos 100 casos, mas que aparecem depois de meses sem novas infeções transmitidas localmente, levaram os dois primeiros países a voltar a apertar o cerco aos contágios.
Na Austrália, a situação é mais grave, uma vez que após dois meses praticamente sem casos, em julho, o país entrou numa curva ascendente que hoje atingiu as 453 novas infeções e 10 mortos (o número mais alto desde que o primeiro caso foi notificado no país, a 25 de janeiro), estando os lares de idosos no centro dos surtos.
O diretor executivo do Programa de Emergências Sanitárias da OMS, Michael Ryan salientou, no entanto, na conferência de imprensa de hoje que as situações mais preocupantes não são aquelas em que "os governos descobrem surtos, estão a tentar identificar os problemas e fazem rastreio de contactos".
"Aquilo que nos deve preocupar são situações em que os problemas não são revelados, em que estão a ser desvalorizados, em que tudo parece estar bem, porque uma coisa é certa com a covid-19 ou com qualquer outra doença infeciosa: parecer bem não é estar bem", disse.
Michael Ryan referiu que em relação à abertura de fronteiras e restrições às viagens e movimentações da população, é impossível adotar uma "solução uniforme". No caso de "uma nação-ilha sem covid-19, um caso [importado] pode ser um desastre", ao passo que "num país com grande incidência da doença e fronteiras abertas, fechá-las pode não fazer qualquer diferença".
Tedros Ghebreyesus, por seu lado, lembou que "nas últimas semanas, vimos surtos associados a discotecas e outras reuniões sociais, mesmo em locais onde a transmissão foi suprimida. Devemos lembrar que a maioria das pessoas ainda é suscetível a este vírus. Enquanto a covid-19 está a circular, todos estão em risco. O facto de os casos estarem num nível baixo onde se vive, não significa que seja seguro baixar a guarda".