Lince-ibérico e órix-da-arábia. Ou, como a reprodução em cativeiro pode evitar a extinção
O pequeno rinoceronte-branco-do-Sul [Ceratotherium simum simum] nasceu no dia 25 de novembro, mas o jardim zoológico de Pairi Daiza, na Bélgica, decidiu anunciá-lo só esta segunda-feira, para ter a certeza de que tudo está a evoluir favoravelmente com a cria e a sua progenitora, a fêmea Madiba. Afinal, o pequeno rinoceronte, "um macho adorável", como dizem os responsáveis do zoo belga, é o mais recente caso de sucesso do programa de reprodução em cativeiro em que aquele jardim zoológico está envolvido, entre outros no mundo, para a proteção desta espécie de rinoceronte.
Com estatuto de "quase ameaçada", atribuído pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), as populações de rinoceronte-branco, uma espécie da savana africana, que se distribui na região austral de África, sofreram uma quebra acentuada nas últimas décadas, estimando-se que existam nesta altura menos de 18 mil indivíduos na natureza, um número considerado muito baixo, do ponto de vista da sua conservação.
Daí a criação do programa de reprodução em cativeiro, que pretende sobretudo promover a diversidade genética da espécie, a fim de lhe mais chances de novos cruzamentos e de sobrevivência. Este, no entanto, nem é o rinoceronte em pior situação quanto ao futuro.
Num ponto mais dramático estão, por exemplo, o seu primo mais chegado, o rinoceronte-branco-do-Norte, do qual restam hoje apenas duas fêmeas no mundo, tendo o último macho morrido no ano passado, ou o rinoceronte-negro, o rinoceronte-de-Java e o de Sumatra, todos com estatuto de "criticamente ameaçados".
Em situações de quase limite como a que enfrentam todos estes rinocerontes e muitas outras espécies de grandes mamíferos - os relatórios científicos mostram que as populações de animais selvagens registaram um declínio de cerca de 60% em todo o mundo, nas últimas quatro décadas -, o recurso à reprodução em cativeiro é muitas vezes a última hipótese de evitar que as espécies resvalem definitivamente para a extinção.
Não faltam casos felizes a demonstrá-lo, a começar desde logo pelo lince-ibérico, que no início do milénio chegou a ter estatuto de "criticamente ameaçado" - em Portugal já não se observava desde 1989 - e que, graças ao programa conjunto de Portugal e Espanha de recuperação de habitats, reprodução em cativeiro e reintrodução da espécie na natureza, está a evoluir favoravelmente.
A situação presente do lince-ibérico ainda não deixa respirar de alívio - deixou de estar "criticamente ameaçado" para ser agora "ameaçado" - mas os sinais são positivos. Os animais nascidos em cativeiro e reintroduzidos no habitat natural já estão a reproduzir-se aí há pelo menos quatro anos, distribuindo-se por ambos os lados do Vale do Guadiana. Os números mostram que dos menos de 100 exemplares que havia em 2001, se passou para mais de 400 animais em menos de duas décadas.
Mas o lince-ibérico não é caso único. Um outro felino icónico, de outro porte e de um outro continente, o tigre-de-Sumatra é igualmente uma espécie "criticamente ameaçada", para a qual também está a ser utilizada a reprodução em cativeiro, no contexto de jardins zoológicos, embora os resultados ainda não sejam completamente conclusivos.
Endémico da ilha indonésia de Sumatra, como o seu nome diz, este tigre mantém ainda o mesmo estatuto, estimando-se que restem já poucas centenas de exemplares na natureza. O programa, no entanto, continua.
Mais sorte parece ter tido o órix-da-Arábia (Oryx leucoryx), um antílope do deserto arábico que praticamente se extinguiu nos anos de 1970, mas que graças a um programa de reprodução em zoos foi possível reintroduzir com sucesso no deserto arábico. Hoje contam-se mais de mil exemplares da espécie na natureza, sendo a sua população considerada "vulnerável", mas estável.
Outro caso exemplar é o de um pequeno anfíbio australiano, uma rã de pele riscada que esteve em risco de desaparecer por causa de um fungo letal, mas que um programa de conservação posto rapidamente em prática por vários jardins zoológicos da Austrália, incluino o de Taronga, em Sydney, conseguiu salvar.