Fim da linha para Temido e um novo rei no mercado do futebol
Sábado, 27 de agosto
Na madrugada de sábado, a PSP de Lisboa montou uma operação especial de prevenção criminal visando uma zona em particular da cidade, o Cais do Sodré, após vários registos de roubos com recurso a armas num dos locais mais concorridos da noite da capital. A operação não poupou nos meios: foram envolvidos mais de 100 agentes, das mais diversas valências da força de segurança, tendo sido detidas três pessoas e outras 120 identificadas. Mais do que estes números, o principal objetivo assumido pela polícia foi o de combater o sentimento de insegurança da população, que voltou em força à rua assim que recuperou em pleno a liberdade de movimentos, com o fim das restrições da covid-19.
No Porto, o desafio é idêntico. "Desde que abrandou a pandemia, existe uma grande concentração de pessoas na zona da Movida e estamos atentos a essa realidade atual", reconheceu o comissário José Moreira, frisando que não é possível ter "um polícia em cada rua e à porta de cada bar", em resposta às acusações de Nuno Cruz, presidente da União de Freguesias do Centro Histórico do Porto, de que o governo tinha "abandonado" a cidade: "Não temos segurança e uma maneira de prejudicar o Porto é transmitir às pessoas a ideia de que não há segurança", lamentou.
Domingo, 29 de agosto
Foi um fim de semana de grandes surpresas na Liga portuguesa de futebol. Depois de o Sporting ter perdido em casa, por 2-0, frente ao Chaves, no sábado, domingo foi a vez de o campeão FC Porto ser derrotado, sem apelo nem agravo, no terreno do Rio Ave (3-1). A unir os dois resultados, além de os adversários terem disputado na época anterior a II Liga, emerge uma realidade comum aos dois rivais: Sporting e FC Porto perderam peças chave no mercado e os reforços que chegaram não conseguem preencher, pelo menos para já, essas lacunas.
Se de Alvalade saíram três titulares (Palhinha, Matheus Nunes e Sarabia), no FC Porto a ferida abriu-se sobretudo com a transferência de Vitinha, que era o dínamo do meio-campo, a que se somaram as partidas de Fábio Vieira (não sendo titular indiscutível, teve ainda assim bastante preponderância na época passada) e Francisco Conceição (um 'abre-latas', lançado muitas vezes em campo pelo pai e treinador do clube, Sérgio Conceição, quando era preciso um rasgo individual e velocidade para desbloquear um jogo). Os adeptos (e os treinadores) podem não gostar, mas esta é a realidade financeira do futebol português: formar para vender; tentar comprar barato para fazer crescer os jogadores e os transferir por um valor maior. Umas vezes acerta-se, noutras nem por isso.
Segunda-feira, 29 de agosto
A Comissão Nacional Eleitoral de Angola comunicou segunda-feira os resultados das eleições e anunciou a vitória do MPLA do presidente João Lourenço, que terá arrecadado 51,17% dos votos (124 deputados) contra 43,95% da UNITA (90 deputados), num ato eleitoral em que votaram 14,4 milhões de pessoas (44,82% dos eleitores). O resultado é contestado pela UNITA.
O MPLA, que exerce sem interrupções o poder em Angola desde 1975, perdeu votos (em 2017 tinha conseguido 61%) e foi derrotado na capital, Luanda, onde, como escreveu o jornalista Pedro Cruz no DN, se concentra a maioria da população, sobretudo os jovens, que através do voto deram sinal do seu desejo de mudança. João Lourenço, no entanto, não teve dúvidas em falar numa "vitória inequívoca". E abriu o champanhe: "Não tivemos os piores resultados, porque ganhámos. Se nós tivemos os piores resultados, que dirá a oposição, que perdeu, que perdeu cinco eleições... Nós ganhamos o penta e quem ganha o penta só tem razões para abrir, no mínimo, cinco garrafas de champanhe."
Terça-feira, 30 de agosto
No dia em que morreu Mikhail Gorbachev, Portugal acordou com a notícia da demissão de Marta Temido. A morte de uma grávida por paragem cardiorrespiratória no momento em que era transferida de hospital, que os médicos de Santa Maria descreveram como "um acontecimento totalmente inesperado" mas que ainda será investigada, terá sido a "gota de água", como admitiu o próprio António Costa, para a ministra da Saúde querer sair (ainda que vá ter de se aguentar no cargo mais 15 dias...).
A governante, que no momento de maior popularidade, durante o combate à pandemia, chegou a ser apontada como candidata à sucessão de Costa no PS, não resistiu a uma sucessão de polémicas no setor (fim das PPP, greves, caos nas Urgências, milhares de pedidos de escusa de responsabilidade de médicos e enfermeiros, etc.). Tão pouco resistiu à contestação política e dos profissionais de Saúde, que foi ganhando volume no pós-pandemia, à medida que o SNS dava mais e mais sinais de perda de recursos e qualidade na resposta aos utentes. Acontecimentos que, no entanto, não parecem causar no primeiro-ministro a mínima vontade de corrigir o rumo na Saúde, a julgar pelo que disse ao país após a saída de Temido. "Quem quer mudanças de políticas, tem de derrubar o governo." Muda-se um ministro para ficar tudo igual. O "chapéu de chuva' da maioria absoluta é tão grande que chega a tapar a visão.
Quarta-feira, 31 de agosto
Com a Ucrânia empenhada numa contraofensiva para retomar o controlo da região de Kherson, dando pleno uso a mais um pacote de ajuda militar fornecido pelos Estados Unidos (os norte-americanos já forneceram ao país mais de 10 mil milhões de euros desde que Joe Biden tomou posse, em janeiro de 2021), Zelensky conseguiu uma vitória diplomática, pelo menos parcial, ao ver satisfeito um pedido que havia reiterado várias vezes à União Europeia.
Em Praga, os chefes da diplomacia da UE alcançaram um compromisso que determina o fim de um acordo com a Rússia, celebrado em 2007, que facilitava a concessão de vistos aos cidadãos daquele país. Não se avança para a total proibição de vistos, como defendiam alguns países vizinhos da Rússia mais expostos a riscos de segurança, mas a malha para os conceder passa a ser mais apertada. "Não queremos isolar-nos daqueles russos que são contra a guerra", explicou Josep Borrell, líder da diplomacia da UE, sem deixar de acrescentar: "Temos assistido a inúmeros russos a viajar por lazer e para fazer compras, como se não houvesse uma guerra na Ucrânia. A UE não podia continuar como se nada fosse."
Quinta-feira, 1 de setembro
O mercado de transferências chegou ao fim e a prometida revolução no plantel do Benfica teve mesmo lugar. Com novo treinador, e um arranque de época invicto (nove jogos, nove vitórias), o clube da Luz manteve-se ativo até ao fim do prazo, tendo assegurado na ponta final o seu reforço mais sonante, Draxler, campeão do Mundo pela Alemanha emprestado pelo PSG, e ainda mais um central (o norte-americano Brooks, para colmatar a lesão de Morato). A extensa lista de reforços do Benfica - na qual se destacam ainda o brasileiro David Neres e o argentino Enzo Fernández, que entraram direto para o onze, mas onde não consta o tão desejado Ricardo Horta - custou cerca de 62 milhões de euros (menos do que o clube encaixou só com a venda de Darwin ao Liverpool e aproximadamente metade do que contabilizou com todas as saídas do plantel - 128 milhões).
Já o campeão FC Porto investiu cerca de 48,5 milhões em reforços (amealhou 86), mais de metade (33 milhões) em dois jogadores que ainda não fizeram um só jogo como titulares. A compra de David Carmo ao Braga, por 20 milhões, tornou-se o negócio mais caro de sempre entre clubes portugueses, mas nos dragões quem tem jogado no centro da defesa são dois veteranos - Pepe e Marcano - que somam em conjunto 74 anos... Verón, ainda muito jovem (19 anos), custou 13 milhões e, até agora, foi suplente utilizado em cinco jogos.
Em relação ao Sporting, chegou aos 120 milhões em vendas, tendo gasto 42 em reforços. Um saldo muito positivo do ponto de vista financeiro, mas que, em função das importantes saídas do plantel, deixou o treinador Rúben Amorim a queixar-se de falta de planeamento.
Sexta-feira, 2 de setembro
Arranca já na quarta-feira uma nova campanha de vacinação contra a covid-19 e a gripe sanzonal, sendo que já serão aplicadas vacinas adaptadas à variante Ómicron (na próxima semana Portugal receberá 600 mil doses, da Pfizer e da Moderna, as duas já aprovadas pela Agência Europeia do Medicamento). O coronel Penha Gonçalves mantém-se como coordenador desta operação e traçou como meta vacinar cerca de três milhões de pessoas até 17 de dezembro, a um ritmo de 280 mil por semana, começando pelos grupos mais vulneráveis. O foco da campanha de outono será os maiores de 60 anos e grupos de risco.
O último relatório da Direção-Geral de Saúde sobre a evolução da pandemia em Portugal, publicado ontem e que analisa o período compreendido entre 23 e 29 de agosto, refere que o R(t) - índice de transmissiblidade - "apresentou um valor acima de 1 a nível nacional e na maioria das regiões, o que indica uma tendência crescente de novos casos" (foram 18467 nesta semana). 93% da população tem o esquema vacinal completo, 66% já recebeu uma dose de reforço e 4% duas doses.