O presidente da União de Freguesias do Centro Histórico do Porto afirmou este domingo que a segurança na cidade foi "abandonada" pelo Governo e defendeu mais "polícias na rua" da Movida, onde se concentram os estabelecimentos de diversão noturna.."O Porto está a ficar abandonado pelo Ministério da Administração Interna no que diz respeito a segurança. Não temos segurança e uma maneira de prejudicar o Porto é transmitir às pessoas que não há segurança", afirmou à Lusa Nuno Cruz..Considerando que a falta de elementos de segurança é "visível em todo o lado", e em particular nas zonas onde se concentram a maioria dos estabelecimentos de diversão noturna, o presidente da junta do centro histórico defendeu que cabe ao Governo "garantir" serviços como o policiamento gratificado.."Esse serviço deveria ser garantido pelo Governo, mas não há elementos que cheguem e não há polícias na rua", observou o presidente da união de freguesias de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, S. Nicolau e Vitória..Lembrando que as pessoas passaram dois anos e meio "fechadas", devido à pandemia da covid-19, e que agora se querem "divertir em segurança", Nuno Cruz salientou que o sentimento nas ruas é "de medo".."Há um sentimento de impunidade muito grande. As pessoas acham que podem tudo porque simplesmente não há polícia na rua", acrescentou..A falta de agentes de segurança na rua tem originado "várias queixas", tanto por parte de moradores, como de empresários do setor da diversão noturna, que recorrem à junta na tentativa de solucionar o problema..O ruído é um dos "rastos" que a noite deixa e fenómenos como o botellón e festas na rua propagam.."Estamos na união de freguesias onde tudo acontece", destacou Nuno Cruz..Lembrando que o turismo "sustenta grande parte da atividade económica" da cidade, o presidente da junta considera que a insegurança poderá levar os estrangeiros a escolher outros destinos.."Não é isso que queremos", disse..A par do ruído, o lixo urbano é outro dos rastos que a noite deixa na cidade do Porto, mas Nuno Cruz defende que a limpeza é assegurada pelos serviços municipais, que diariamente combatem a "falta de civismo", fazendo um "trabalho exemplar".."Precisamos de autoridade na rua. Precisamos de perceber que há leis, há regras, mas que, se não houver autoridade e coesividade, as leis, regras e regulamentos não servem para nada", acrescentou..À semelhança de Nuno Cruz, também as associações de bares e discotecas do Porto defenderam este domingo o reforço de policiamento permanente na zona da baixa e do centro histórico, temendo que a insegurança afaste os turistas e locais que têm promovido a retoma económica do setor.."O que devia ser devidamente acautelado pelas forças policiais e, nomeadamente, pelo Ministério da Administração Interna (MAI) é a presença policial permanente e em períodos longos durante a noite", afirmou à Lusa o presidente da Associação de Bares da Zona Histórica do Porto, António Fonseca..Já o presidente da Associação de Bares e Discotecas da Movida do Porto, Miguel Camões, garantiu que "da porta para dentro", os estabelecimentos de diversão noturna são "seguros", dizendo que o grande problema está "na rua", onde é notória a "falta de policiamento".."Devido à afluência que temos de clientes nestas ruas da Movida do Porto, precisamos de um policiamento presente e permanente, de forma que situações menos agradáveis possam acontecer", disse Miguel Camões..Com casa cheia e a situação financeira a aliviar "ligeiramente", empresários de bares e discotecas do Porto apostam em segurança privada para, da porta para dentro, colmatarem a insegurança que se vive na rua e protegerem clientes e funcionários..Neste verão, em que "praticamente já não se sente a pandemia", a afluência de clientes portugueses e estrangeiros no Moreclub, discoteca na Rua da Galeria de Paris, tem sido "maior do que em 2019", contou à Lusa António Brandão, um dos sócios-gerentes do espaço que abriu portas em 2010..O negócio "está a correr bem" e, lá dentro, os clientes usufruem da noite, do ócio e da diversão com "segurança".."É preciso que o público em geral perceba que os espaços de diversão noturna oferecem muita segurança no interior", observou o empresário..É, no entanto, na via pública envolvente aos espaços de diversão noturna da cidade, maioritariamente localizados na baixa e zona da Movida, que existe "insegurança", assegurou António Brandão.."Mas, isso é uma questão que pode facilmente ser corrigida e assegurada pelo policiamento. As forças de autoridade podem, com facilidade, criar segurança na via pública", referiu..Com a "insegurança" na rua, os hábitos dos clientes mudaram: "apesar de gostarem imenso das esplanadas, hoje, os clientes facilmente procuram mais cedo os espaços interiores para dançarem e ouvir música".."Talvez, por sentirem que dentro há mais segurança do que fora dos espaços", acrescentou António Brandão..Para colmatar a insegurança que se vive na via pública, e "garantir aos clientes uma segurança efetiva", o empresário reforçou a segurança privada no Moreclub.."A segurança privada é um instrumento muito caro, mas o retorno é a segurança e o feedback dos clientes é que se sentem realmente seguros dentro dos espaços", reforçou António Brandão, lembrando que é "obrigação" do Estado manter a segurança na via pública..Com capacidade para acolher 300 clientes, a discoteca tem tido, nestes dias, uma lotação de "100%", permitindo "recuperar gradualmente" os danos financeiros causados pela pandemia da covid-19.."Estamos agora a conseguir recuperar gradualmente e sentimos que as pessoas usam de forma civilizada os espaços. O público em geral sai para se divertir e não para criar conflitos", disse o empresário..Os conflitos que decorrem na via pública já "afastam alguns clientes", garante Carlos Machado, responsável por dois estabelecimentos na zona da Movida do Porto, o Romanoff, na rua de José Falcão, e o Griffon's, na rua Conde Vizela.."Há clientes que já vão quase diretamente para o estabelecimento e que evitam andar ali nas ruas, ou então, já não vão mesmo para aquela zona mais problemática", observou o empresário, acrescentando que "não há policiamento e, quando há, o que é raro, é para inglês ver".."Os clientes evitam ir para os locais onde há mais violência e outras coisas desagradáveis. Não é só violência que existe na Movida, existem outras coisas desagradáveis", acrescentou..À semelhança de António Brandão, também Carlos Machado reforçou a segurança privada num dos estabelecimentos para "reconfortar os clientes e os funcionários", mas também para fazer face à falta de policiamento na rua.."Isso vê-se em todas as grandes cidades e principalmente onde há um aglomerado de bares e discotecas, acho que só aqui no Porto é que não se vê", referiu, acrescentando que se a insegurança vivida não for, atempadamente, colmatada "pode ser, a médio prazo, prejudicial"..Tanto no Romanoff como no Griffon's, o negócio tem estado "calmo", ainda que nos dias que abrem portas ao público, os espaços se encham de clientela..Apesar da afluência de clientes, a recuperação dos danos financeiros provocados pela pandemia "ainda vai demorar muito tempo", garante o empresário.."Vai demorar a recuperar, porque há coisas que não deixámos de pagar, como a renda e as moratórias", acrescentou Carlos Machado..Contactada pela Lusa, a PSP do Porto remeteu esclarecimentos para a próxima segunda-feira.