O cancelamento da greve às avaliações do próximo mês, depois de as organizações sindicais de professores terem decidido optar por outras estratégias na luta pela contagem integral do tempo de serviço congelado, é aplaudido pelos representantes dos pais e dos diretores das escolas..Para Filinto Lima, da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), a decisão dos sindicato "é uma atitude coerente" com o discurso que os seus dirigentes têm feito nos últimos tempos e que, além de garantir mais tranquilidade na reta final do ano letivo, poderá ter um impacto positivo na imagem dos docentes junto da opinião pública.."Temo que nestes últimos dias a classe docente tenha sido desgastada em virtude da opinião pública que se gerou", diz ao DN. "É importante mostrar à opinião pública que os professores não querem prejudicar ninguém, não querem prejudicar os seus alunos, querem é lutar pelos seus direitos. É uma medida positiva", conclui.."É uma boa notícia", defende também Jorge Ascenção, da Confederação Nacional das Associações de Pais. "É uma prova de que os sindicatos - os professores mas também os sindicatos - têm consciência da situação e de que no final imperaria o bom senso. Eu já tinha essa impressão dos contactos que tinha mantido com os sindicatos", revelou.."Há outras formas de lutarem pelos seus interesses, pelos seus direitos. Esta greve iria trazer muita perturbação e também não traria para a escola pública o prestígio pelo qual vimos a lutar", defende. Congratulamo-nos que tenham essa visão. Já tinha sido, de alguma forma, avançada quando Mário Nogueira disse "que tudo fariam para não prejudicar os alunos".."Não desgastar os professores com ações que se arrastem no tempo, sem interlocutor à vista".A decisão, tomada numa reunião que decorreu entre as dez organizações que integram a Plataforma Sindical de Professores, foi anunciada ao final da tarde de ontem pelo secretário-geral da Federações Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira..O sindicalista justificou o levantamento da greve, que teria início a 6 de junho e incidiria sobre as reuniões dos conselhos de turma - nas quais se decidem as notas finais dos alunos -, com a vontade de "não desgastar os professores com ações que se arrastem no tempo, sem interlocutor à vista", face ao momento final da legislatura em que nos encontramos e ao facto de o governo dar o dossiê por encerrado.."Em março [quando a greve foi anunciada], num contexto plenamente diferente, porque estávamos em negociações com o governo, era a [forma de luta] que se indicava", defendeu. Agora as circunstâncias são diferentes..Por outro lado, Mário Nogueira assegurou que a luta dos professores "não acabou", sendo um processo que foi conhecendo "várias fases" e que em todas elas os docentes se têm "aproximado mais" do objetivo de ver consagrado todo o tempo de serviço congelado. Garantido o apoio de todos os partidos, à exceção do PS, o objetivo agora será lembrá-los desse compromisso antes de estes irem a votos. Quer sobretudo na campanha para as legislativas de outubro quer na campanha para as europeias que já decorre..O dirigente sindical cumpriu assim a promessa deixada há dias no Parlamento pouco depois de ter sido inviabilizada a contagem integral dos nove anos, quatro meses e dois dias, de que os sindicatos iriam entrar na campanha eleitoral..E a Campanha pela Dignidade Profissional Docente - nome escolhido para o protesto - começa já no próximo dia 20, no Porto, com o primeiro de uma série de "comícios da indignação". Seguem-se concentrações idênticas em Faro, no dia 21; Lisboa, a 22; Évora no dia 23; e Coimbra, a 24..Confirmada está ainda a realização de uma manifestação nacional a 5 de outubro, data em que além da implantação da República se assinala o Dia Mundial do Professor. Bem como a promessa de que o titular da pasta da Educação a sair das próximas eleições terá os sindicatos a baterem-lhe à porta assim que tomar posse..Luta nos tribunais.Além da vertente de luta de rua, que incluirá a presença de professores sem aviso prévio em várias "iniciativas de natureza diversa que tenham visibilidade mediática", os sindicatos prometem levar a luta pela recuperação de todo o tempo de serviço aos tribunais..Assim, irão pedir à PGR, à Provedoria de Justiça e aos grupos parlamentares que requeiram ao Tribunal Constitucional a fiscalização da constitucionalidade do decreto-lei do governo que consagra a devolução de dois anos, nove meses e dezoito dias face aos regimes adotados na Madeira e nos Açores, que contemplam a devolução de todo o tempo que esteve congelado..E prometem fazer chegar aos professores uma "minuta de reclamação e protesto" a formalizar a exigência dos seis anos e meio de serviço remanescentes. Nogueira defendeu ser muito importante os professores formalizarem este protesto no momento em que sejam convidados a optar entre o diploma aprovado para os professores e um decreto semelhante, promulgado hoje pelo Presidente da República, relativo à recuperação do tempo congelado nas restantes carreiras especiais da administração pública, sob pena de o governo assumir como "facto consumado" a perda desse tempo.